Meio Ambiente

ADAPTAÇÕES ÀS QUESTÕES CLIMÁTICAS

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Rio Bonito do Iguaçu, após tornado: dificuldade para lidar com eventos climáticos extremos

 

Pesquisas apontam que 85% dos municípios brasileiros estão despreparados para lidar com eventos extremos

 

“Coração palpitando. Chegando na COP 30 para nosso credenciamento!” Com estas palavras, em um misto de cansaço e alegria após percorrer 3 mil km em um motorhome, a expedição Road to COP 30 – Agenda de Ação em Movimento – chegou a Belém em 9 de novembro.

A expedição, que foi liderada pelo arquiteto e urbanista Sérgio Myssior, presidente do Instituto Bem Ambiental (Ibam), e pelo biólogo Thiago Metzker, diretor do Ibam, saiu de Belo Horizonte dia 1º de novembro, passou por Curvelo, Paracatu, Brasília, Imperatriz e Tocantins para integrar o espaço Blue Zone, da Organização das Nações Unidas (ONU).

De acordo com Sérgio Myssior, também coordenador do Pavilhão Cidades Resilientes, durante a Conferência do Clima, os estudos mostram que 85% dos municípios brasileiros não têm nenhum tipo de plano ou ações para lidar com eventos climáticos extremos. Ou seja, somos um país de cidades não resilientes. Por outro lado, levantamentos de instituições internacionais indicam que para cada dólar investido em prevenção e adaptação ao clima, outros US$ 10 serão economizados. “A adaptação me parece não só uma ação emergencial, mas estratégica para que a gente possa ter cidades e comunidades se desenvolvendo.

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Caso contrário teremos um custo de vida, financeiro e ambiental enormemente elevado dentro da nossa fragilidade.” Thiago Metzker chama atenção para o fato de a frequência dos eventos climáticos estar antecipada ao previsto pelos cientistas, causando “tragédias sem precedentes”. O pavilhão reúne representantes de governos locais, universidades, entidades profissionais, setor privado e organismos internacionais em mais de 50 painéis, palestras, eventos paralelos e exposições interativas. A programação inclui a participação de mais de 200 especialistas brasileiros e estrangeiros.

O espaço é o primeiro pavilhão brasileiro com curado ria técnica voltada à adaptação climática urbana, soluções baseadas na natureza e planejamento territorial resiliente. “É importante falarmos daqui da Blue Zone pois é exatamente onde estão as partes – países e diplomacia global – as lide ranças e tomadores de decisão que irão contribuir, ou não, com esta agenda de implementação”, assinalou Myssior.

Ele destacou as mesas de discussões sobre o financiamento urbano conectado aos objetivos do desenvolvimento sustentável, em especial a que contou com a presença de Léo Gaborit, da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) A AFD trabalha há mais de 10 anos com clima e desenvolvimento, combinando mitigação (redução das emissões), adaptação (redução da vulnerabilidade) e apoio às trajetórias de baixo-carbono e resiliência.

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Em 2023, a AFD informou ter comprometido cerca de 7,5 bilhões de euros em financiamento climático nos países em desenvolvimento e territórios ultramarinos. Em 2022, foram cerca de 6,9 bilhões de euros destinados ao clima, sendo parte para financiar projetos de adaptação. Gaborit trouxe a visão não só de quem financia, mas a visão de quem coopera, apontando a necessidade de um novo cardápio de soluções: infraestrutura verde, novas metodologias, soluções baseadas na natureza. Mas que ninguém se engane, não há fórmulas mágicas, são projetos de longo prazo que envolvem relaciona mento, cooperação técnica e o que o representante da agência francesa chamou de investimento de arranque ou capital semente.

O conceito deste capital-semente é que o banco disponibilize uma carência de cinco anos para que o recurso seja utilizado de forma antecipada para viabilizar consultoria técnica, co-validação com comunidades, remuneração ou bolsas para os envolvidos nos projetos. “As agências (financiadoras) estão com o propósito de colocar o dinheiro na rua. Os grupos estão com o propósito de receber o dinheiro. As consultorias estão prontas para dar este avanço. Está na hora!”, avalia Metzker. Durante um dos painéis do Pavilhão Cidades Resilientes foi frisado que as políticas públicas precisam ser concebidas para incorporar as novas orientações: é o desafio de ter bons termos de referência, projetos que nascem já com modelagem adequada.

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Sérgio Myssior apontou os temas da arquitetura social e urbanismo participativo como essenciais para o enfrentamento às questões climáticas numa visão ampliada que passa por cooperação nacional, internacional e articulação de conhecimentos. Segundo pesquisa do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil (CAU-BR), cerca de 41% dos domicílios brasileiros estão em condições de inadequação. Seja inadequação na própria edificação, no entorno ou pela questão fundiária. “Estes dados colocam o tema do morar na centralidade de qualquer proposta de resiliência das nossas cidades”, avalia o presidente do Ibam, Sérgio Myssior.

 

O QUE É A BLUE ZONE

CEspaço em que países, organizações credenciadas e Organizações Não Governamentais (ONG’s) dialogam e apresentam seus projetos, estratégias e soluções para a agenda climática. A área conta com plenárias, encontros multilaterais, eventos secundários, escritórios para delegações, sala de reuniões e imprensa credenciadas. Além de pavilhões para organizações e países interessados em expor ideias para um futuro mais sustentável..

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