Andrevruas, CC BY 3.0, via Wikimedia Commons
Arrisco em dizer que quem faz políticas públicas sabe que o maior desafio do Brasil está na educação. Se quisermos de fato formar gerações capazes de transformar o futuro do país, é preciso superar dilemas na educação básica brasileira. Um deles é o de acolher ou rejeitar a gestão pela aprendizagem como caminho mais poderoso na transformação. Ainda hoje, após 25 anos de prática bem-sucedida de método de gestão para melhoria da aprendizagem dos alunos até 15 anos, estranhamente, há um mesmo grupo que permanece entrincheirado na via contrária.
Qual é o argumento utilizado? Quando iniciamos uma busca pelos resultados de aprendizagem alcançados em uma escola, ou um conjunto de escolas de uma cidade ou estado, com certa frequência, nos deparamos com a seguinte negativa: “aqui não estamos preocupados com as avaliações, pois estamos empenhados em formar cidadãos e não simplesmente mão de obra para o mercado”. Até aí, temos um pleno acordo. Em sua própria etimologia, educar significa “direcionar para fora”, ou seja, direcionar o indivíduo a florescer em suas potencialidades, a ponto de elevá-lo em suas virtudes rumo à sua autorrealização.
Como se pretende levar um indivíduo ao topo fornecendo formação deficiente?
Aí vem à tona a reflexão: como se pretende elevar um indivíduo rumo ao topo de suas potencialidades, fornecendo a ele uma formação deficiente das disciplinas básicas, como língua portuguesa e matemática no tempo adequado? Como pretende fazer o indivíduo evoluir a ponto de explorar e florescer em sua dimensão espiritual, psicológica e intelectual em suas diversas áreas de conhecimento como a história, a filosofia e as artes, se ele é privado de uma alfabetização adequada e no tempo certo? Como acessar as demais áreas de conhecimento assim? É o óbvio!
Pois é justamente o que acontece em larga escala no Brasil. Nosso alto índice de analfabetismo funcional até mesmo em jovens que concluem o ensino fundamental é assustador. Ainda sob a contraditória argumentação da formação de cidadãos, os veiculadores desse pensamento rejeitam os mecanismos de avaliação das escolas e cunham o termo “gerencialistas” em quem as defende. Pois bem: em uma rede escolar de um país de dimensões continentais, onde é garantido pela constituição o direito à educação, como se pretende garantir que, pelo menos, a oferta da educação básica seja, de fato, assegurada sem mecanismos de avaliação da aprendizagem? De que serve estabelecer um currículo mínimo se não se assegurar por meio de avaliações que, com certeza, ele está sendo cumprido?
Por fim, ao falar de formação de mão de obra, associa-se inoportunamente ideologia quando deveria haver apenas pragmatismo. Ora, que tipo de cidadania se pretende dar na idade adulta ao indivíduo sem capacidade de interpretação de um texto ou raciocínio básico em matemática? Além do mais, é preciso pensar sim em empregabilidade e produtividade no mercado de trabalho, pois desconheço uma vida digna sem uma forma digna de subsistência. Desconheço também outra forma de geração de riqueza para um país em que a sua força intelectual seja produtiva.
A educação básica brasileira precisa melhorar substancialmente seus resultados
Felizmente, quem apresenta a linha de pensamento enviesada não é a maioria. Ao longo de 25 anos, conseguimos aplicar a Gestão Integrada da Educação (Gide) em 7.600 escolas de 12 estados brasileiros, com avanços significativos na aprendizagem de 7 milhões de estudantes, e índice de satisfação elevado entre mais de 6.500 professores e gestores escolares. E mesmo na academia, onde ainda encontra guarida essa visão deturpada do assunto, já houve 134 teses de mestrado e doutorado sobre o nosso trabalho, com 65% de menções positivas ou neutras.
A educação básica brasileira precisa melhorar substancialmente os seus resultados, se quisermos ter uma nação desenvolvida e próspera. É possível transformarmos essa lamentável situação. Não leva dez anos, como muitos apregoam, pois já temos comprovadamente inúmeros exemplos de sucesso. Basta fugir dos discursos vazios e de querer “reinventar a roda”. É uma questão de racionalidade.