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Há 30 anos, no final de fevereiro de 1994, a inflação mensal era de 42,3% e a anual passava de 3.000%. Conforme registrado nos arquivos do Senado Federal (edição 108 Economia), “em fevereiro de 1994, às vésperas de o governo mandar para o Congresso a primeira das duas MPs do Plano Real, o senador Nabor Júnior (PMDB- -AC) pôs a hiperinflação brasileira em termos concretos e práticos: — O pãozinho francês de 50 gramas, que é a alimentação básica da população brasileira, na semana passada custava CR$ 38 [cruzeiros reais] e hoje está sendo comprado a CR$ 58. Não podemos admitir que isso ocorra num tempo democrático e fundado nos direitos sociais”.
Após tantos fracassos, o presidente Itamar Franco assumiu o risco de seu mandato com uma medida ousada e inovadora para conter a hiperinflação, que foi a criação de uma espécie de quase moeda, na expressão de um dos pais do Real, Edmar Bacha, referindo-se à URV, que, na leitura atual de Gustavo Franco, outro partícipe central da equipe de FHC, seria uma versão virtual do real, “na sua criptoexistência”, até a nova moeda, o real, entrar em circulação, em julho de 1994.
A ousadia e a coragem de Itamar Franco e FHC restabeleceram a racionalidade econômica e preservaram a democracia
Se hoje se venera a iniciativa de um governo de transição, até então titubeante, após o impeachment do presidente eleito (Collor), à época, as críticas eram ferrenhas, como a do senador Pedro Teixeira: “— Abjuro essa política liberalóide [sic], retórica e demagógica do ministro… Um crime de lesa-pátria a merecer uma CPI! O plano não vai dar certo, senhor Fernando Henrique, seu sonho será apenas mais um crime que se cometeu contra o povo brasileiro”.
A ousadia e a coragem de Itamar Franco e FHC – responsáveis por mudança tão profunda na economia brasileira – restabeleceram a racionalidade econômica e preservaram a democracia. O país tem ainda muitos problemas, mas na economia, embora complexos, eles são muito menores, como indica, por exemplo, o conflito, hoje, sobre os níveis da taxa de juros entre o governo e o Banco Central. Preservar o poder aquisitivo da moeda é das políticas sociais a mais importante. Salve os 30 anos do Plano Real.
