paulo paiva

Paulo Paiva

Professor associado da Fundação Dom Cabral e ex-ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC

Um presidente do Banco Central para chamar de seu

(Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

 

Lula tomou medida estratégica importante antecipando a indicação de Gabriel Galípolo para comandar o Banco Central de 2025 a 2028. Galípolo já faz parte da diretoria do banco, por indicação de Lula. O processo de indicação da nova autoridade monetáriaseguiu caminho seguro, evitando turbulências em momento crítico na economia internacional e de incertezas no Brasil. Lula nunca deixou de criticar publicamente o atual presidente Roberto Campos Neto, culpando-o pelo nível da taxa de juros e por suposta oposição ao seu governo.

A antecipação da indicação de Galípolo eliminou especulações e foi bem absorvida pelo mercado. Ocorreu em momento político particular, onde as atenções estão voltadas para as eleições municipais e, econômico favorável, com a divulgação do PIB do segundo trimestre, indicando forte crescimento da economia. A transição, que informalmente já está em curso, se completará pacífica, pois Galípolo tem votado com a orientação majoritária do colegiado. Um ganho para a instabilidade institucional.

No entanto, já no ano vindouro, o Banco Central enfrentará desafios relevantes. O primeiro será conquistar a confiança do mercado para garantir a ancoragem da inflação futura em ambiente que se mostra bastante desafiador pelas incertezas sobre a eficácia da política monetária nos países industrializados, após a pandemia.

O outro teste será doméstico. O governo insiste em manter política fiscal expansionista. Como as despesas obrigatórias seguem consumindo quase todo o orçamento da União, chegará em breve a situação chamada de dominância fiscal, quando se perde a eficácia da política monetária. Quanto mais a dívida pública aumenta em relação ao PIB, maior será o aumento dos juros. Essa não é uma questão ideológica, mas de avaliação do risco do país.

Se Lula quiser um presidente do Banco Central para chamar de seu, que reduza os juros e colabore com o crescimento do emprego, precisará fazer sua parte no lado fiscal. O sucesso de Galípolo, e, por consequência, do país, dependerá das escolhas de Lula, não o contrário.