Unidade de Tratamento de Queimados do João XXIII lança novo protocolo e fortalece atendimento aos casos mais complexos
Os acidentes domésticos com queimaduras são um problema significativo no Brasil, afetando uma ampla faixa etária, mas especialmente crianças (cerca de 40% dos casos) e idosos. Estudos mostram que 70% das ocorrências de acidentes com queimaduras no Brasil acontecem em ambiente doméstico e que 90% delas são evitáveis.
Para alertar as pessoas para esse perigo, a campanha Junho Laranja deste ano traz o tema “Queimaduras – Na minha casa não!”. Em Minas Gerais, a Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) Professor Ivo Pitanguy, do Hospital João XXIII, é considerada referência nacional no atendimento a pacientes queimados graves. Pertencente à Rede Fhemig, atende cerca de 1,7 mil pessoas anualmente. A unidade possui 35 leitos, sendo 24 de enfermaria, nove de UTI adulto e dois de UTI pediátrica.
Novo protocolo
O hospital lançou neste mês o novo Protocolo de Atendimento ao Paciente Queimado do HJXXIII, desenvolvido por meio da colaboração de 65 profissionais da UTQ, e que reúne todas as etapas da assistência oferecida no local.
“O documento é uma valiosa fonte de conhecimento e mostra porque a UTQ é conhecida por sua expertise”, explica a coordenadora da UTQ e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Queimados, a cirurgiã Kelly Araújo.
Já a linha de cuidado que vem sendo construída pela Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais (SES-MG) permitirá que pacientes queimados de outras localidades do estado possam ser atendidos mais próximo de casa.
“O ideal é que nas primeiras 24 horas a pessoa queimada receba o atendimento necessário. Esse paciente que está longe não consegue chegar para nós tão rápido. Então, às vezes, o tratamento é prejudicado, porque o paciente já chega à UTQ com um agravamento”, ressalta a médica.
O diretor geral da unidade, Fabrício Giarola, avalia que o desenvolvimento desta linha de cuidado vem sendo fundamental para que o HJXXIII especialize cada vez mais o seu atendimento nos grandes queimados e ofereça uma assistência de maior qualidade.
“Desde que essa política foi iniciada, temos melhorado o que já temos aqui na UTQ. Adquirimos modernos equipamentos, com tecnologia avançada, assim como novos expansores de pele; investimos também em reposição de equipe, com cirurgiões plásticos e anestesiologistas”, afirma.
Acidentes domésticos
No ambiente doméstico, as queimaduras podem ocorrer por vários motivos. O líquido livre (água, óleo e outros líquidos inflamáveis ou ferventes) continua sendo o principal causador de acidentes em casa e o que mais leva vítimas para o HJXXIII – foram 1.003 casos em 2023, quase 60% do total de atendimentos no ano (1.688). Destas, 90 eram crianças de 0 a 5 anos de idade.
“Embora os acidentes desse tipo não sejam os mais graves, eles são os mais comuns nas enfermarias e nos ambulatórios. Cuidados simples adotados pelas pessoas em seu cotidiano podem evitar casos dessa natureza”, diz Kelly Araújo.
Ela orienta, por exemplo, que durante o banho do bebê a temperatura de 36°C é morna para os pais, mas para o pequeno é muito quente e queima. A pele dele é extremamente sensível”, orienta Kelly Araújo.
Já a partir dos 2 anos, quando a criança está andando, começam os acidentes na cozinha, quando ela entra e puxa as panelas do fogão, por exemplo. Até maio de 2024, já foram atendidos 492 casos de queimaduras por líquido livre na UTQ.
Queimaduras por fogo, em grande parte das vezes causadas pelo uso doméstico do álcool, também levam muitas pessoas ao HJXXIII. “Não é necessário ter álcool em casa para nada, nem para a limpeza. Você pode usar produtos que são aprovados pela Anvisa. Lavar a mão com sabão também é suficiente”, relembra Kelly.
No caso dos choques elétricos, que causam queimaduras muito graves, há muitas situações em que homens que, sem a devida capacidade técnica, tentam consertar aparelhos elétricos. “Educação é muito importante e deve começar em casa. Os adultos devem dar o exemplo para seus filhos. Não adianta falar com uma criança que ela não pode manipular o álcool e os pais estão cozinhando usando o produto. O ideal seria educação a nível escolar, trabalhando continuamente com as crianças os riscos e as possibilidades de prevenção”, avalia a coordenadora da UTQ.
Confira cuidados simples e fundamentais:
– Na cozinha
Deixe os cabos das panelas sempre para trás;
Não use álcool ou combustível para cozinhar;
Não deixe água cair em panela com óleo quente;
Não manipule líquidos quentes perto de crianças, especialmente com elas no colo.
– Eletricidade
Verifique se as instalações estão novas;
Não ligue vários aparelhos eletrônicos na mesma tomada;
Isole as tomadas caso tenha crianças em casa;
Não use o celular quando o carregador estiver ligado na tomada.
– Preparo do banho do bebê
Coloque primeiro a água fria na banheira e, em seguida, a água quente até atingir a temperatura ideal;
Não deixe as crianças próximas da banheira enquanto prepara o banho.
– Inflamáveis/combustíveis
Jamais use álcool líquido ou em gel e vá fumar ou cozinhar logo em seguida;
Mantenha velas e outros objetos superaquecidos longe de cortinas e lençóis;
Não use álcool para limpeza, cozinhar ou acender a churrasqueira.