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Às voltas com tantas narrativas que se espalham pelo mundo, vamos colhendo aquilo que faz sentido para nós, ou seja, aquelas falas com as quais nos identificamos. Como as identificações são diversas e sempre parciais, às vezes nos identificamos com uma frase, mas não com o texto todo. Assim, nunca sentimos aquela integração total com o mundo. Estamos sempre meio dentro e meio fora. Ainda bem, pois é sinal de que temos alguma subjetividade ímpar.
É pelas identificações que se formam as sociedades como uma coleção de “eus” reunidos em torno de ideias, costumes e traços que temos em comum, produzindo uma coesão relativa e um equilíbrio instável.
É importante distinguir identificação e imitação. Lembrei-me de um livro de Gabriel Tarde, pensador francês do século 19, que escreveu Leis da imitação, onde ele desenvolvia sua tese que comparava o estado social ao estado hipnótico, equiparando a sociedade a uma espécie de sonambulismo em que, por contágio imitativo, multiplicam-se cópias do mesmo modelo.
É pelas identificações que se formam as sociedades como uma coleção de “eus”
Às vezes tenho a impressão de estar assistindo a um desfile desses modelos. Um líder fascina pela polarização encarnando o eu social e monopoliza a glória. O elemento-chave que determina a história, nesse caso, é a radiação imitativa.
A psicanálise rompe com essa concepção à medida que dirige seu foco para além das identificações, ou seja, para o traço ímpar de cada um, que lhe permite entrar no desfile com sua vestimenta própria, contribuindo para tornar o espaço social um lugar de investimentos múltiplos e de diversidade cultural.