Serranos, no Sul de Minas, está há quase oito anos com índice zero de violência
A cultura de paz impera em Serranos, pequena e pacata cidade do Sul de Minas que há quase oito anos não registra crimes violentos. Serranos é destaque entre os quase 100 municípios mineiros que não tiveram nenhuma ocorrência de criminalidade violenta em 2023. A lista foi divulgada nesta quinta-feira (16/11) pelo Observatório de Segurança Pública, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
De janeiro a outubro deste ano, 99 municípios, espalhados por todo o estado, não registraram nenhum roubo, homicídio, estupro ou qualquer outra ocorrência violenta. Quando o recorte é feito desde 2022, são 27 as cidades na lista.
Com uma população de aproximadamente 2 mil pessoas, Serranos é o município mineiro que está há mais tempo sem registro de crimes com o emprego de violência: o último caso foi uma tentativa de estupro em fevereiro de 2016. Desde então, já são 92 meses sem qualquer crime com uso de violência.
Caminhar pelas ruas de Serranos e conversar com os moradores é fundamental para entender os zeros nas várias tabelas de ocorrências criminais. Rapidamente, dá para sentir como a paz, a solidariedade, o respeito e a religiosidade estão presentes na alma dos serranenses de nascimento e nos serranenses de coração.
Os que saem de Serranos, seja para estudar ou trabalhar, costumam voltar, sempre movidos pela saudade e a intenção de fazer algo pelos que ficaram. Luana Tamara Oliveira, de 28 anos, é um deles. Ela ficou seis anos fora, em Valença, no estado do Rio de Janeiro. Voltou de lá formada em Medicina Veterinária. “Estou realizando meu sonho de trabalhar aqui como veterinária. Tenho muitos pacientes em Serranos e em outros municípios da região. Tinha a vontade de ajudar os animais e a população como um todo”, conta.
Ela lista os motivos para estar na cidade: “a minha família, essa tranquilidade, as pessoas se conhecem, se cumprimentam e conversam. Os problemas são resolvidos com uma boa conversa e temos, também, o apoio dos militares do Destacamento da Polícia Militar, sempre presentes na área”.
A professora aposentada Zélia de Azevedo Carvalho, de 77 anos, também saiu da cidade para estudar, mas voltou para trabalhar como professora concursada do Estado. Ela diz ter dedicado todos os seus anos nos bancos escolares sempre pensando em levar o melhor da educação para Serranos.
“Cultivamos o amor à terra. Meu avô foi o primeiro prefeito. Vem dos primórdios os valores morais e da família, o respeito e a religiosidade. Tudo isso explica a tranquilidade e segurança de Serranos. Aqui, a fé sempre foi predominante, nascemos e vivemos aos pés de Nossa Senhora do Bom Sucesso”.
Monitoramento constante
A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública monitora e publica mensalmente, na página Dados Abertos de seu site, os índices de criminalidade de Serranos e de todos os 853 municípios mineiros.
O levantamento divulgado nesta quinta-feira mostra que, em todo o estado, a criminalidade violenta reduziu 14,6%, entre janeiro e outubro deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. Minas registrou, nesse prazo, 26.251 ocorrências em 2023, contra 30.737 em 2022.
A metodologia da Sejusp considera criminalidade violenta a soma dos registros de 13 naturezas criminais: homicídio tentado e consumado, roubo tentado e consumado, estupro tentado e consumado, estupro de vulnerável tentado e consumado, extorsão tentada e consumada, extorsão mediante sequestro consumada e sequestro e cárcere privado tentado e consumado.
Além dos 13 crimes violentos acompanhados, outros dados também são divulgados todos os meses, como os números de furto e lesão corporal, o Painel de Crimes com Causa Presumida LGBTQIA+Fobia, as estatísticas de violência doméstica e familiar contra a mulher e vítimas de feminicídio, entre outros.
O secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Rogério Greco, explica que, em breve, novos bancos de dados estarão disponíveis para consulta da população. “A transparência é uma premissa importantíssima para nossa gestão e estamos trabalhando para ampliar cada vez mais o leque de dados divulgados todos os meses. As estatísticas permitem uma análise mais clara da criminalidade em todo o estado e com base nisso conseguimos traçar, de forma integrada com as demais forças de segurança, as melhores estratégias para aumentar a segurança de toda a nossa população”, afirma.
Cultura da paz
Bernardo Carneiro/Agência Minas
A boa relação existente entre vizinhos afasta a ideia de acerto de contas: todos sentam, conversam e resolvem os desentendimentos
As janelas abertas para as ruas e portas destrancadas têm uma explicação: “aqui, um cuida do outro, todos se conhecem. Vivemos a cultura da paz”, conta Rogério Marques, de 46 anos, morador da pequena cidade há 23. Ele é sargento da Polícia Militar e foi transferido para a cidade e não saiu mais de lá.
O militar destaca a boa relação existente entre vizinhos, e a veterinária Luana reforça a análise. “Aqui, não existe esta coisa de vou matar para acertar contas. Todo mundo senta, conversa e resolve”.