Veja os principais perigos dentro de casa
As férias escolares são motivo de alegria para as crianças e de preocupação para os pais. Ficando mais tempo em casa, os pequenos exigem uma atenção maior dos responsáveis, pois os acidentes domésticos podem acontecer em pequenos momentos de distração. Quedas, ingestão de objetos ou de produtos tóxicos, queimaduras.
Uma das ocorrências mais frequentes dentro de casa é a que envolve “corpos estranhos”, que se referem a qualquer objeto ou substância ingeridos ou colocados pela criança nas narinas ou nos ouvidos. Moedas, peças menores de brinquedos e tampas de garrafas são alguns exemplos que costumam levar os pequenos aos serviços de emergência.
No Hospital João XXIII, este tipo de ocorrência foi o terceiro mais frequente em 2022, ficando atrás apenas das quedas da própria altura e dos acidentes de trânsito envolvendo motociclistas.
A unidade atendeu 4.315 casos de acidentes com corpos estranhos em 2022 – somente com crianças de 0 a 5 anos, foram 1.382 pacientes. Em 2023, até 18/12, já foram 1.347 casos nessa mesma faixa etária.
Cuidado no Natal
No Natal, brinquedos infantis que precisam de pilhas e baterias para funcionarem estão em várias listas de presentes. Porém, esses são objetos comuns de serem engolidos e, por isso, é preciso muito cuidado.
Segundo o gerente médico da unidade, Rodrigo Muzzi, as baterias, apesar de normalmente estarem parafusadas e serem mais difíceis de acessar, são potencialmente perigosas para os pequenos.
“Em contato com o suco gástrico, a bateria gera uma corrente elétrica que pode causar queimaduras nos órgãos internos”. Apesar de a introdução de objetos no nariz e ouvidos gerar menores riscos quando ficam alojados nos orifícios, eles podem ser esquecidos se a criança não avisar aos pais e responsáveis, o que pode acarretar infecções.
Já os grãos, como castanhas, milho de pipoca, feijão cru e amendoim oferecem um risco maior se aspirados, ou seja, se entrarem nas vias aéreas. Nas festas de Natal, são comuns de serem servidos e é preciso cuidado.
Quando ocorre a aspiração, o corpo estranho obstrui a entrada e a saída do ar causando asfixia. Se ele vai para o pulmão, a gravidade é ainda maior, porque pode causar inflamações e até pneumonia.
“A imaturidade da criança pode fazê-la se engasgar com mais facilidade e aumentar o risco da aspiração ao invés da ingestão. As vias aéreas são menores, isso significa que o corpo estranho tem um impacto maior, com asfixia mais grave do que crianças maiores”, explica o pediatra do HJXXIII, André Marinho.
“A cozinha é o local mais perigoso da casa. Alimentos devem estar distantes e em altura segura”, completa. O médico sugere, inclusive, que adultos não manipulem este tipo de alimento perto de crianças muito pequenas.
Calor e piscinas
A previsão é a de que o verão tenha temperaturas acima da média, como já vem acontecendo, tornando piscinas e brincadeiras com água ainda mais atrativas, o que também requer cautela.
De acordo com a gerente médica e cirurgiã geral do Hospital João XXIII, Daniela Fóscolo, o primeiro fator com o qual se preocupar quando a criança está exposta a um calor intenso é a hidratação oral.
“Ela precisa tomar bastante líquido, porque uma criança desidratada tem maior propensão a sofrer acidentes de maneira geral, inclusive afogamentos”, afirma a profissional.
No ambiente da piscina, além da observação constante dos adultos, os equipamentos de segurança também têm um papel importante. Segundo Daniela, é preciso que as boias sejam adequadas para cada idade.
“O ideal é que crianças menores usem o coletinho salva-vidas. Aquelas boias que ficam só nos braços podem sair quando se pula na piscina, não oferecendo a segurança necessária”, diz.
É importante destacar que as crianças não se afogam somente com grandes quantidades de água: um balde com 5 centímetros de água já é o suficiente para um acidente grave acontecer.
Intoxicação
Quando se tem crianças em casa, também é preciso ter cuidados básicos com produtos químicos. O principal é manter os materiais de limpeza guardados no alto dos armários e trancados.
“Além disso, esses produtos devem ser mantidos na embalagem original. Não adianta nada comprar um material que pode ser tóxico e guardar em uma garrafa de refrigerante. Uma criança pequena não consegue diferenciar os conteúdos pelo cheiro. E para acontecer uma intoxicação grave, muitas vezes um gole é suficiente”, avisa Daniela.
Bebidas alcoólicas também não devem ser negligenciadas pelos pais e responsáveis, principalmente no período de festas.
“Muitas vezes o adulto deixa o copo cheio largado na mesa e a criança bebe aquele álcool. A exposição da criança a essa substância é muito prejudicial, então é preciso atenção nesses casos”, aconselha.
Quedas
Durante as férias escolares, a permanência maior das crianças dentro de casa muitas vezes leva a brincadeiras que acabam mal, como em quedas graves.
“Elas acontecem com frequência nesse período, já que a criança não está na escola gastando sua energia. Ela está em casa, ativa e demandando atividades”, ressalta Daniela.
De acordo com a cirurgiã geral, qualquer queda que seja o dobro da altura da criança já é considerada uma grande altura para os profissionais: escadas e móveis como cama, sofá e mesa são potenciais para um acidente com os pequenos. Mas, para a profissional, o maior perigo em casa são as quedas de janelas.
“Não precisa ser uma janela de prédio. Se a criança pula de uma janela, mesmo sendo uma casa baixa, já há um risco grande de lesões graves. Janelas devem estar teladas e escadas sempre protegidas”, finaliza.
Queimaduras
A maioria dos acidentes que envolvem queimaduras ocorre em casa e 40% das vítimas são crianças de até 11 anos.
“A maioria das crianças queimadas têm até 2 anos. Elas são curiosas, não têm noção do perigo e apresentam baixa estatura, o que contribui para que vejam o mundo em um plano diferente do adulto. Um cabo de panela voltado para fora do fogão ou o forno quente, por exemplo, despertam o seu interesse e podem causar danos que os acompanharão para o resto de suas vidas”, lembra a médica Kelly Araújo, do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital João XXIII.
Segundo a especialista, é fundamental que os pais ou responsáveis estejam sempre atentos para evitar acidentes. Se a queimadura é profunda e alcança 10% do corpo da criança, ela corre sério risco.
Cozinhar, passar roupas, dar banho em recém-nascido e, eventualmente, acender churrasqueira, para citar apenas alguns exemplos, pode representar perigo quando não são observados cuidados simples e imprescindíveis.
A médica orienta que o uso do álcool líquido em casa deve estar fora de cogitação. “Essa substância deve ser utilizada somente quando não é possível usar água e sabão, e sempre fora do ambiente doméstico”.
Algumas dicas para evitar acidentes em casa:
• Cobrir tomadas com proteção adequada;
• Proteger pilhas e baterias de objetos com fita para evitar que sejam engolidas;
• Não deixar objetos pequenos, cortantes e perfurantes, ao alcance de crianças;
• Não deixar produtos químicos, medicamentos, inflamáveis ao alcance de crianças;
• Nunca deixar crianças pequenas sozinhas no banho ou quaisquer recipientes com água (o afogamento pode ocorrer em segundos!);
• Instalar grades de pelo menos 1,20 metro nas bordas das piscinas;
• Ter supervisão exclusiva de adultos em ambientes de piscina (não pode dividir a atenção com celulares, livros, etc);
• Usar boias aquáticas específicas para o tamanho da criança quando os pequenos forem nadar.