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Crise climática acrescenta um peso maior ao custo brasil

Ex-senadora Ana Amélia Lemos

Foto:Divulgação

 

Ex-senadora fala das dificuldades para se investir no país e diz que governo Lula não vê claramente para onde quer levar o país

 

           O cenário político e econômico brasileiro tem preocupado setores organizados da sociedade. O país também sofre com as questões climáticas, que tem afetado fortemente todas as regiões e causado estragos não só na produção agrícola como destruindo cidades inteiras, como aconteceu no Rio Grande do Sul. A ex-senadora Ana Amélia, que mesmo sem mandato tem sido muito demandada no meio político e por autoridades em Brasília, tem questionado esses estragos e o Custo Brasil, que prejudica todo o setor produtivo. Além disso, para ela, o presidente Lula repete o governo Dilma 2, sem saber claramente para onde ir.

A senhora tem acompanhado de perto a situação no rio grande do sul. os esforços disponibilizados até agora têm sido suficientes para atender a população?

        A destruição foi tão grande e tão aguda que uma década não será suficiente para a recuperação total dos estragos e da destruição. É o esforço que os governos federal e estadual estão fazendo, na medida dos seus respectivos caixas e, também da disponibilidade tecnológica para resolver os problemas mais emergenciais. Outros problemas também estão relacionados e terão recuperação mais lenta, como a infraestrutura, que ficou pesadamente danificada. Dentro da tecnologia disponível, como a usada pelo Ministério do Exército, por exemplo, tem sido importante.

       O Comando Militar do Sul pôde fazer uma ponte provisória para permitir o acesso de veículos de passeio e veículos de carga, ônibus, ambulâncias e caminhões em numa estrada que é crucial para o estado do Rio Grande do Sul, na região próxima de Santa Maria que é um centro importante, não só universitário, mas também um centro econômico que conecta as regiões Norte e Sul.

A proposta de renegociação da dívida dos estados vai resolver a situação?

         Nenhuma proposta, de nenhuma área, de nenhum projeto, poderá ser o ideal. Ele é o possível dentro das condições das finanças do Tesouro Nacional e das condições das emergências que têm os estados endividados. Isso é uma questão crônica eu diria, porque trato disso como jornalista e depois como senadora da República na legislatura de 2011 e 2019. Essa questão crônica vem de muito tempo e a gente no Brasil costuma empurrar com a barriga os problemas.

       Agora chegou a hora H, a hora de resolver. Evidentemente que o caso do Rio Grande do Sul, agravado pela enchente, acabou desaguando numa solução, eu diria, quase emergencial, que alcançou também os outros estados endividados, como é o caso de Goiás e Minas Gerais, que estão numa situação muito delicada em relação às suas finanças.

       Vale lembrar também que, lá no passado, foi criada a Lei Kandir, que dava benefícios fiscais aos estados exportadores para estimular exatamente a vocação exportadora. Desonerava do ICMS, que é um imposto estadual, e a União compensaria essa desoneração, compensaria essa perda que o estado teria, em nome de uma causa maior, que seria fazer reservas cambiais com a exportação. Ocorre que a Lei Kandir nunca foi respeitada. Não houve nunca o ressarcimento desses créditos que os estados teriam com a união.

        E isso acabou agravando ainda mais a situação dos estados. A renegociações das dívidas, do famoso acordo feito ainda lá no governo Fernando Henrique Cardoso, criou uma situação bastante delicada para a maior parte dos estados. E uma negociação foi boa para a União, mas não foi boa para os estados.

É um problema enfrentado por todos os governos, mas parece, que uma solução está distante?

       O Custo Brasil hoje é, comparativamente a outros países, seja do Mercosul ou não, muito ruim. E tem um custo que não se contabiliza, que é a insegurança jurídica. Então, o que vale hoje pode não valer amanhã. Para quem está produzindo, quem é empresário, quem está fazendo um investimento, esse é um problema grave. Então, esses fatores para mim são mais graves, são mais pesados, mais preocupantes nesse Custo Brasil, do que logística, por exemplo.

       Nós não temos estradas, nós não temos transportes alternativos, como ferrovias. Nós abandonamos as ferrovias. Nós abandonamos as coisas boas e fomos para um rodoviarismo, que cada vez está com um movimento maior, com estradas de menos e com transporte de mais. Isso provoca acidentes e provoca o aumento do Custo Brasil.

        Eu diria que a questão climática vem apenas para acrescentar um peso maior ao chamado Custo Brasil. Nós temos uma situação deficitária em várias áreas e um sistema público que também está precisando de uma revolução. Hoje nós não temos mão-de-obra qualificada, temos deficiência na área da saúde, na área da educação, não tem ensino profissionalizante de qualidade. Todas essas coisas não estão sendo visitas e tem um peso muito grande, muito relevante em relação ao setor econômico brasileiro.

       O setor da agropecuária, por exemplo, tem muitos embates, como as questões ideológicas, a invasão de terra. Isso gera insegurança jurídica. Temos a questão da demarcação de terras, que o Supremo decidiu outra coisa, do que está na Constituição e isso gera insegurança jurídica. Por isso digo que o empreendedor é, sobretudo, um forte.

       Com essa tensão nas eleições nos estados unidos, o resultado das eleições lá terá reflexo aqui, no brasil?

       É evidente que terá, mas a radicalização é uma coisa muito negativa. Eu diria que essa retórica verbal, ideológica não tem resultados práticos em favor da população.

Estamos com um ano e meio de governo lula. o presidente está tendo dificuldades devido aos poderes que o congresso nacional tem hoje?

        O governo do presidente Lula é muito diferente do que foi o Lula 1 e Lula 2. O governo dele está muito parecido com o governo Dilma 2, porque não vê claramente para onde ele quer ir, para onde ele quer levar o país. Ele também tem posições em relação à área externa, que são bastante complexas, porque ele tem na área da política externa praticamente dois ministros.

        Ele tem Mauro Vieira, que é o formal, o chanceler, aquele que aparece na fotografia. E ele tem o que realmente determina a política externa brasileira, que é o Celso Amorim, que pensa mais à esquerda. Esses recentes episódios da do ataque criminoso da Rússia à Ucrânia, um hospital de crianças em tratamento de câncer no coração da capital ucraniana. Houve um silêncio ensurdecedor do presidente na sua nota. Ele só lamentou as mortes, mas não fez nenhuma crítica de reverência.

         Mesmo caso de Gaza, ele não fez referência aos ataques criminosos que aconteceram em Israel, que são crimes de guerra. Ele preferiu ficar atacando apenas a Israel e preservando o Hamas. Na América Latia, ele falou da defesa da democracia na Bolívia, mas não fez nenhuma palavra sobre a Venezuela, que está num processo eleitoral. Nós estamos acompanhando e vendo aí a truculência do regime Maduro sobre os seus adversários políticos, e ele não fala nada. São dois pesos e duas medidas.

         Na área externa, essa não é uma política adequada. Na questão da reforma tributária, acho que ele está falando demais, sem uma orientação. O presidente também precisa pacificar o país. O slogan que o elegeu foi o de união e reconstrução, mas para isso acontecer, ele tem que dar o exemplo. Não pode ter hostilidade, não pode ficar fustigando o adversário ou seu antecessor.

A reforma tributária trouxe a polêmica do benefício estendido às carnes. como a senhora avalia essa questão?

         É claro que esse é um setor que hoje é altamente competitivo. O setor da proteína animal, em toda a cadeia produtiva, seja da carne suína, carne bovina, carne de frango, pescados e outros tipos de carne, a própria a questão leiteira porque são proteínas também, todos os setores trabalharam muito para se tornarem competitivos, em uma disputa, inclusive, com o mercado internacional.

         Nós, que somos integrantes do Mercosul, também temos problemas dentro do bloco porque, muitas vezes, vem leite do Uruguai, criando um problema, derrubando o preço e o produtor que já está com dificuldades, vê aumentar, estas dificuldades na sua situação financeira que já é complicada, com a sua margem de lucro em queda. Só o setor altamente organizado, consegue mais. A proteína animal nunca esteve na cesta básica, nunca compôs a cesta básica. Isso é verdade. Isso é a maior realidade nova que estamos vivendo. A questão é saber se os cofres da União comportam conceder um benefício. Porque quando você concede um benefício, alguém tem que pagar a conta. Não tem almoço de graça.

Qual o futuro político da senhora?

         O futuro a Deus pertence. Fico feliz porque onde eu ando, especialmente no meu estado, as pessoas falam, “você faz falta no Congresso, no Senado” Eu fico muito feliz com isso. Significa dizer que eu trabalhei muito, realmente me dediquei, foi um mandato muito produtivo. Lamentavelmente, fui vítima também da polarização, porque o candidato que venceu as eleições no Rio Grande do Sul, o Senado (Hamilton Mourão), ele passou toda a campanha dizendo que eu era comunista. Ele nunca disse o que faria pelo Rio Grande do Sul, só me atacou. Hoje ele está com dificuldades no estado, porque nos momentos mais dramáticos para a população, com a questão da enchente, ele estava ausente. Agora, o eleitor está fazendo seu julgamento e eu acho que ele entendeu que votar tem custo.