Cultura

Saiba como será o retorno de Wilmára Marliéri aos palcos

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Foi nos palcos que ela se fez e sempre volta a este lugar preferido. Nem a síndrome de Arnold-Chiari, uma doença rara que compromete a audição e o equilíbrio devido a uma malformação no crânio, nem as diversas cirurgias na coluna cervical, nem as sequelas da covid-19 que a deixaram fora 6 anos a impediram de fazer o que mais gosta. A bailarina Wilmára Marliére retorna ao Teatro Feluma, em Belo Horizonte, no próximo dia 23 de novembro, com o espetáculo de balé “Somos Todos Diferentes”.

O show será aberto por 40 artistas, entre eles crianças, jovens e adultos com deficiência, alunos de violão do músico Wéberty Mariliére, criador de método exclusivo para ensinar a esse público. Eles vão apresentar nove músicas. Em seguida, 40 bailarinas e bailarinos com deficiência subirão ao palco. Todos fazem parte do projeto Céu e Terra, que oferece aulas gratuitas de balé e música para crianças, jovens e adultos com ou sem deficiência, criado há 28 anos por Wilmára para promover a inclusão por meio da arte. Este é o maior espetáculo da história do projeto, que culminará com todos os artistas no palco.

Wilmára vai dançar “A Morte do Cisne”, solo clássico criado em 1905 pelo coreógrafo russo Mikhail Fokine. “É o meu balé preferido e estarei no palco, o lugar que mais amo”, afirma, emocionada. Ela explica que a proposta do Céu e Terra é desenvolver a autoestima e a sensação de capacidade, estimular a fala, a audição (por meio das vibrações musicais) e a expressão corporal, além de incentivar a comunicação e o respeito mútuo entre pessoas com e sem deficiência.

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Como foi a superação

Nascida no interior de Minas Gerais, Wilmára conta que descobriu a paixão pela dança ainda na infância. Como sua cidade não possuía escola de balé e a família não tinha condições financeiras para custear estudos fora, ela se inspirava nas apresentações que via na televisão. “Imitava os bailarinos. Cheguei a improvisar sapatilhas usando pedaços de bambu para fazer a ponta”, relembra.

Ela começou a frequentar escolas de dança anos depois e alcançou rapidamente níveis avançados. Foi nessa época que, após episódios recorrentes de enxaqueca, recebeu, aos 28 anos, o diagnóstico da síndrome de Arnold-Chiari. A perda auditiva causada pela doença motivou Wilmára a fazer um estágio no extinto Instituto Santa Inês, referência em educação de surdos. A experiência a sensibilizou profundamente.

A partir daí, a bailarina mergulhou em leituras sobre surdez, participou de eventos na área da saúde e, por iniciativa própria, resolveu dar aulas de balé para crianças surdas na sala de sua própria casa. Assim nasceu o projeto Céu e Terra. “Desde a primeira turma, os exames mostraram melhora na audição das crianças”, afirma. Em 2001, o marido, Wéberty, começou a dar aulas de violão para alunos cegos, com idades entre 7 e 80 anos.

Mais recentemente, o projeto passou a atender crianças com autismo de grau 1 nas turmas de balé. Além do marido, Wilmára tem como aliadas no projeto a irmã, a bailarina Meyre de Paula, e a filha, Maria Clara. “Sem eles não teria tanta força para seguir”, declara.

Fotos: Lídia Marques

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