Saúde

Pacientes com anemia falciforme conseguem mais qualidade de vida com novo procedimento da Hemominas

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Técnica inovadora permite a troca automatizada de sangue de forma mais eficaz e confortável, espaçando o intervalo entre transfusões

Pacientes com anemia falciforme e que dependem de transfusões de sangue com frequência para manutenção da saúde terão um tratamento mais rápido, confortável e eficaz com o novo procedimento em execução no Hemocentro de Belo Horizonte (HBH).

Chamada eritrocitaférese, a técnica permite a troca de hemácias por meio da máquina de aférese. No caso dos pacientes com anemia falciforme com indicação para o tratamento, o aparelho retira as células do sangue (eritrócitos) que possuem a hemoglobina alterada (HbS) e repõe as hemácias saudáveis ao organismo do paciente, por meio de transfusão.

“Os pacientes com doença falciforme possuem hemácias com a hemoglobina S em vez da hemoglobina A. Esta alteração dificulta a passagem do sangue pelos vasos, podendo levar a consequências como o acidente vascular cerebral (AVC). Para estes casos, a técnica de troca automatizada é mais eficiente como tratamento preventivo para essa complicação da anemia falciforme”, explica a médica hematologista e responsável pelo ambulatório de Belo Horizonte, Denise Zouain.

Tratamento mais efetivo

Uma das profissionais da instituição treinadas para o procedimento, a hematologista e pediatra Ana Karine Vieira reforça a importância do serviço para os pacientes de Minas Gerais. “A disponibilização da eritrocitaférese é um benefício, pois permite um tratamento mais efetivo, já que as transfusões serão mais espaçadas, o que dá mais qualidade de vida e auxilia na prevenção do AVC, além de possibilitar a redução do número de internações por conta da evolução da doença”, afirma.

Até agora, o HBH atendeu seis pacientes que já recebiam o tratamento manualmente e cujo quadro indica a utilização do procedimento: aqueles que estão se preparando para o transplante de medula óssea (TMO), em prevenção de AVC ou crises álgicas, e que têm acesso venoso adequado e disponibilidade de hemocomponentes compatíveis.

Treinamento

O treinamento dos profissionais do HBH envolvidos no processo foi concluído no final de março, a cargo da enfermeira e especialista clínica Carla Tschudar, da empresa de tecnologia médica fabricante do equipamento utilizado.

“Manusear o equipamento não é difícil, ele é autoexplicativo, mas é importante saber qual a função de cada botão”, informa. O procedimento já é disponibilizado no ambulatório do Hemocentro de Montes Claros desde 2022 e, em breve, também profissionais do Hemocentro de Uberlândia serão treinados para executá-lo.

A disponibilidade desse atendimento em mais unidades da Fundação Hemominas facilita o acesso dos pacientes afetados pela doença nas várias regiões do estado.

Qualidade de vida

Submetido à eritrocitaférese pela primeira vez, Lucas Pinheiro Pereira, de 22 anos, foi um dos pacientes atendidos no HBH em março. O procedimento durou cerca de 1h e envolveu a transfusão de seis bolsas. No tratamento manual, ele recebia apenas uma bolsa de 300ml a cada transfusão, processo que durava cerca de 2h.

Além disso, normalmente ele recebia transfusões a cada três ou quatro semanas manualmente. Com a nova técnica, a expectativa é a de que as transfusões sanguíneas ocorram em intervalos maiores. Segundo a médica Ana Karine, o número de bolsas transfundidas a cada procedimento depende da conformação física do paciente.

Para Lucas, a técnica traz muitos benefícios. “Sinto-me bem mais aliviado, pois tendo menos hemoglobina S no sangue, as crises de dor diminuem. Só de saber que não vou ficar internado ou debilitado pelas crises de dor, fico mais aliviado e despreocupado para exercer minhas atividades de rotina – trabalho e estudo”, celebra.

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Tainá Ferreira Jardim, de 15 anos, se submeteu ao procedimento pela quarta vez – duas em Montes Claros e duas no HBH. (Foto: Adair Gomez/Divulgação)

Nova rotina

Outra paciente, Tainá Ferreira Jardim, de 15 anos, se submeteu ao procedimento pela quarta vez – duas em Montes Claros e duas no HBH. Antes, no manual, a cada duas semanas ela passava por transfusão. Com a eritrocitaférese, já reduziu a uma vez por mês.

Entre os benefícios proporcionados pela técnica, ela cita: tempo menor de procedimento, aumento do bem-estar físico e emocional, redução das dores, da falta de ar, do cansaço.

“Moro em Virgem da Lapa, no Vale do Jequitinhonha, e precisar me deslocar menos vezes para o tratamento já me traz grande conforto, melhorando minha qualidade de vida”, salientou. A carinha boa, descontraída, é prova disso.

Tainá conta que cursa o primeiro ano do ensino médio e faz academia. “Me sinto abraçada pelo carinho da equipe que cuida de mim na Hemominas, desde o diagnóstico do teste do pezinho. Passei minha infância e adolescência no HBH”, completa ela, que está se preparando para o TMO, previsto para o segundo semestre, em São Paulo. A doadora é a irmã, Amábile, com 50% de compatibilidade.

A perspectiva é a de que 12 pacientes sejam atendidos este ano no Hemocentro de Belo Horizonte com o novo procedimento. Segundo a médica Ana Karine, o fato dificultador para o paciente de anemia falciforme é conseguir sangue compatível – a frequência das transfusões torna os pacientes mais resistentes, tornando-os alomunizados, exigindo bolsas fenotipadas, cada vez mais específicas e adequadas.

Diagnóstico e tratamento

A Fundação Hemominas é referência para o diagnóstico e tratamento de pacientes portadores de coagulopatias, hemoglobinopatias e que necessitam de transfusão de sangue ou sangria terapêutica no estado de Minas Gerais.

A doença falciforme é uma condição hereditária que afeta principalmente os afrodescendentes, causando alterações nos glóbulos vermelhos e impactando a saúde de milhares de pessoas em todo o Brasil.

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