Mestre em marketing analisa como perda do poder de compra e evangelismo vão influenciar na escolha do próximo presidente
As eleições no Brasil mudaram muito nos últimos anos. Das campanhas milionárias e com candidatos que pareciam sair de peças publicitárias, fomos para o extremismo político. As campanhas continuam milionárias, só que agora bancadas com recursos públicos. O eleitor também está mais atento, principalmente ao bolso e à sobrevivência diária. Um comportamento que é registrado em pesquisas, que tem direcionado partidos e candidatos. O mestre em administração mercadológica e marketing, com especialização no comportamento do consumidor e do eleitor, Igor Lúcio Carvalho de Lima, que também leva o seu Instituto Viva Voz para dentro das campanhas, observa essa mudança e o cenário que se forma para 2026.
QUAL O COMPORTAMENTO DO ELEITOR NESSAS ÚLTIMAS ELEIÇÕES, LEVANDO EM CONSIDERAÇÃO O EXTREMISMO NA POLÍTICA? O QUE OS NÚMEROS INDICAM?
Não só os números, temos que aliar os números com a pesquisa qualitativa também. Na qualitativa são variáveis mais de sentimento, que é o grande diferencial de toda eleição. Comecei no auge da publicidade, com Duda Mendonça, em 2010, com campanhas praticamente cinematográficas. Isso foi evoluindo com o pragmatismo e com os problemas do dia a dia do eleitor. Hoje, o eleitor não aceita simplesmente a publicidade por publicidade.
Propaganda todos fazem, então isso não diferencia um candidato do outro. Então temos que criar variáveis para conquistar esse eleitor. Só que os próprios candidatos ficam inseguros. Depois de 2022, as pessoas falam que não vai ter polarização por causa de brigas na família, nos grupos de WhatsApp, mas, na hora H, o próprio candidato fica inseguro de assumir uma posição não extrema, com medo de perder aquele segmento. Por exemplo, o Romeu Zema quis tentar se posicionar como centro-direita, mas agora ele lançou um vídeo com hino evangélico a favor da anistia. Ou seja, direita na veia.
Esse eleitor está ali querendo ser conquistado, sem radicalismo. Nós dividimos o eleitorado em três partes: vamos colocar 25% na direita radical, 25% na esquerda radical e os outros 50% ou não têm interesse nenhum por política ou também não são a favor desse extremismo. Só que esse eleitor que se interessa muito, que se engaja muito na rede social, ele acaba por influenciar muito na eleição. E os candidatos ficam inseguros de fazer esse posicionamento de centro.Até Ronaldo Caiado, que está em uma região totalmente do agro, em Goiás, está falando que vai ser centro-direita.
A verdade é que o eleitor está ali no dia a dia, com extremas dificuldades. O eleitor de baixa renda não está interessado em política, ele quer é resolver o problema dele. Então se você está falando com uma pessoa que está com dificuldade para comprar alimentos, vai tratar de política? Tenha ideologia, sim, mas se o candidato consegue atingir essa coisa pragmática do eleitor, ver que ele vai melhorar a vida dele, ele sai em vantagem sobre os outros.
AS PESQUISAS TÊM INDICADO QUE ALGUMAS QUESTÕES PREOCUPAM A POPULAÇÃO, COMO O AUMENTO DA VIOLÊNCIA. COMO ESSA E OUTRAS QUESTÕES INTERFEREM DIRETAMENTE NAS CAMPANHAS?
Pautam as eleições de governador sim. Eu fiz a última campanha do Cláudio Castro no Rio, onde o tema violência é fortíssimo. Em lugares como Rio e São Paulo, a violência está virando um problema que as pessoas não acreditam mais que vai ser solucionado. Acho que em Minas esta violência está começando agora. Em São Paulo, a avaliação do Tarcísio de Freitas diminuiu justamente porque os casos de assalto estão se multiplicando.
Tem estados no Brasil, como Ceará e Bahia, onde as facções tomaram conta e simples mente as pessoas não têm direito de ir e vir nas periferias. Não é o caso de Minas ainda, porque o estado não está completamente dominado pelas facções. Mas essa será uma pauta no Rio de Janeiro. Não tem como você fazer uma campanha do Rio de Janeiro para governador sem falar de violência, que é o principal problema disparado.
Em São Paulo a mesma coisa. Acho que vai ser a pauta principal. Quando você fala de economia, é coisa do presidente, é uma pauta nacional. Em Minas, apesar de ter também violência em Belo Horizonte, não é um tema muito importante. Tanto que na campanha do Fuad Noman, onde trabalhei, a estratégia era comparar Belo Horizonte com Rio, São Paulo. Aqui tem violência? Tem, tem assalto, tem tudo.
Quando se compara com o Rio, São Paulo, aqui em Belo Horizonte ainda é muito mais tranquilo para se viver. A mesma coisa acontece com o estado de Minas. Teve recentemente o novo cangaço, em Guaxupé, são casos isolados. Mas em São Paulo e no Rio, o direito à liberdade do cidadão está cerceada. Em Minas, a diferença é essa, mas, com certeza, é pauta de campanha do governo.
A PAUTA NACIONAL VAI SER QUAL?
A pauta nacional vai ser a economia, como foi o que Lula fez no primeiro mandato dele e que permitiu o acesso da classe baixa à famosa picanha, à cerveja do final de semana, permitiu acesso a viagens, permitiu acesso à compra de carro e, dessa vez ,simplesmente não está conseguindo. A inflação está aí. O preço dos alimentos disparou.
Com isso, Lula vai levar para a pauta ideológica. Em uma eleição, Lula já larga com 30% de seguidores fiéis. E aí ele vai ter que tentar conquistar o restante, talvez na pauta ideológica, tentando dar uma melhorada no Brasil.
Só que o problema é que o PT também não tem nome. Lindbergh, que é líder do PT na Câmara, é um político decadente. O PT tem um nome bom em Minas, que é Marília Campos, prefeita de Contagem. É um nome muito bom, mas que carrega a rejeição do PT. Ela tem quase 80% de aprovação, mas não tem projeção nacional.
O PRESIDENTE LULA TEM PERDIDO APOIO, INCLUSIVE NAS CLASSES MAIS BAIXAS, ONDE ELE TINHA MAIS FORÇA?
Com certeza. Ele perdeu justamente por causa disso. O poder aquisitivo da classe baixa não existe. Com uma cesta básica hoje, que vai levar quase metade do salário mínimo, complica. As pessoas não querem viver de cesta básica. O brasileiro gosta de viajar. As pesquisas de anos e anos mostram que esse é o maior prazer do brasileiro. Ele não consegue viajar se não consegue comprar nem alimento. O Lula perde nisso e perde também com o evangelismo, que está crescendo muito.
O evangelismo tem, naturalmente, uma veia de direita, pelos valores da família.O Rio de Janeiro hoje já tem mais evangélico que católico. Em Minas ainda não, em Minas, prevalece o catolicismo. E isso afeta diretamente a popularidade do Lula. Simplesmente ele não conseguiu fazer o que ele prometeu. A classe mais baixa está sofrendo para sobreviver.
COMO ESTÁ SE FORMANDO O CENÁRIO ELEITORAL NACIONALMENTE?
Nacionalmente, Lula está preso à falta de nome do PT. Ele não pode lançar o Fernando Haddad, porque ele não tem força nenhuma. Então Lula até já tem feito declaração que vai ser candidato, ele sempre estará no segundo turno porque tem os 30% de seguidores. O Tarcísio de Freitas não vai arriscar bater chapa com Lula, porque ele pode se reeleger em São Paulo com uma certa tranquilidade e depois traçar o futuro político dele sem Lula na eleição.
Tem aí vários nomes, como Caiado que declarou que é candidato pela União Brasil, mesmo sem apoio do partido. Mas ele vem de uma região que é o Centro-Oeste, que tem um contingente muito baixo de eleitor, que não chega a 10% do eleitorado do Brasil. Ele terá dificuldade para levar a candidatura para o restante do país. No caso do Bolsonaro, acho que ele não consegue ser candidato, mas o nome mais forte que ele tem para indicar é o da Michelle, que tem um perfil mais ponderado do que os filhos dele e que provavelmente vai para o segundo turno com Lula.
Se for cenário mesmo, por exemplo, Lula e Michelle Bolsonaro, eu acho que a Michelle vai pro segundo turno. Eu acho que o Bolsonaro consegue transferir votos para ela sim. Tem outros nomes que são mais como franco atiradores, como Gustavo Lima, que já desistiu. Pablo Marçal está inelegível. Todos muito ligados à direita.Tem também o Zema que quer ser candidato. Ele ganharia fácil para senador, mas não é o que ele quer.