Economia

Pendura aí, por favor!

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Mercearia Diniz: “segunda casa” dos clientes

Fonte:Tião Mourão

 

 

Em época de pagamentos por cartão ou Pix, estabelecimentos comerciais e clientes ainda mantêm relações de confiança com o famoso fiado

 

         Localizado há quase 40 anos no mesmo endereço, no bairro Cidade Jardim, a Mercearia e Padaria Diniz já deixou de ser apenas um comércio e alcançou o status de “segunda casa” dos clientes. Lá é comum que algum morador deixe uma encomenda para outra pessoa pegar, pare alguns minutos para bater um papo ou leve alguma lembrancinha de viagem para o proprietário Odilon Cardoso de Sousa, que comanda o local desde 1985. “Gosto de chamar cada um pelo nome ou criar um apelido carinhoso. Sinto que isso aproxima e estreita a relação. Além disso, eles também confiam na curadoria que faço na loja. Só coloco produtos que já experimentei e confio. Tudo isso vai criando uma proximidade e fortalecendo os laços”, afirma.

         Natural, portanto, que as formas de pagamento seguissem as mesmas regras de confiança. Por lá, ainda é comum a compra no fiado por meio das antigas cadernetas. “Para mim é vantajoso pois não há o custo que eu teria com as taxas de cartões de débito ou crédito. A relação de confiança também diminui as chances de calote”, garante. Já para o cliente, Odilon aponta que o fiado traz comodidade e rapidez. “Também atendo muitos condomínios que fazem compras de lanche para funcionários. É muito mais prático ir comprando e pagar tudo de uma vez só depois”, reflete.

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        O que parece um modelo datado ou fora de moda, na verdade, segue firme e forte em nosso país. Um levantamento feito pela Web Automação, empresa de soluções de vendas e tecnologia para negócios, identificou que mais de 400 locais no Brasil aceitaram o fiado como meio de pagamento em 2023, movimentando R$ 4,3 milhões. A pesquisa também indica que Minas Gerais está entre os estados que mais aceita este modelo de pagamento, junto com Rio de Janeiro e São Paulo.

         Famoso por seus petiscos “raiz” na Barragem Santa Lúcia, o comerciante Mário Libertato, mais conhecido pelos apelidos “Mauro” e “Perereca”, também é adepto do caderninho para atender a freguesia mais antiga. No local há mais de 30 anos servindo delícias como carne de panela, torresmo e moela, ele garante que esse modelo segue firme nos tempos atuais. “Muitas vezes o cliente não tem o dinheiro na hora, pois o pagamento ainda não caiu, e aí ele anota para pagar depois. Mas, tenho uma condição para não sair perdendo. Sempre faço um acréscimo no valor final para compensar essa espera para receber”, diz.

         Quem também aposta na relação de confiança, e nos pagamentos a prazo, é a empresária Naiara Ferreira, CEO da Tia Lia Lanches. A empresa tem como foco fornecer lanche para trabalhadores em canteiros de obras e também para eventos e coffee breaks. Segundo ela, as construtoras têm prazo de 15 dias para efetuar o pagamento e ter o serviço renovado. “Trabalhamos e só depois recebemos. A nossa confiança é tão grande que temos clientes que estão conosco há mais de 10, 20 anos e até hoje não têm contrato. Apenas emitimos a nota e o boleto no prazo estipulado e dá tudo certo”, conta.

          “Atendemos durante os 15 dias e, se o cliente não paga, interrompemos o fornecimento até regularizar. Desde que passei a administrar o negócio, em 2021, só tivemos dois casos em que não recebemos o acordado”, afirma.

          Para ela, o saldo final é mais que positivo. “A relação de confiança é primordial, não dá para trabalhar tendo os dois pés atrás com o outro. Se o cliente está me procurando é porque ele precisa resolver um problema e eu posso ajudá-lo. Acredito na boa intenção”, reflete.

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