Rodrigo Oliveira

Múltiplas facetas

Psicanalista, cantora, poeta e dançarina, Renata Araújo fala sobre vida, a decisão de seguir a carreira artística e sua relação com o Norte de Minas

 

 

          Ela é plural e navega por diferentes tipos de arte: música, dança, literatura. Não se conforma com caixinhas ou amarras, prefere a liberdade de bancar as próprias escolhas. Ela é múltipla e complexa, adora se comunicar, fazer laços, circular entre as pessoas, sente prazer no contato com o outro. Assim é Renata Araújo, que é psicanalista, poeta, cantora e bailarina e tem usado todos esses talentos para construir sua caminhada artística e realizar performances repletas de afeto e reflexões.

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          “Há cerca de sete anos comecei a fazer aulas de canto com o professor Sérgio Moragas, que hoje é meu produtor musical, e faço um trabalho junto à fonoaudióloga Janaína Pimenta, para aprimorar ainda mais a voz. Já no início apareceram os primeiros shows. A arquiteta Carolina Jardim me convidou para uma apresentação no Modernos Eternos e depois surgiu a oportunidade no Fasano. Me acompanham nessa trajetória vários músicos da minha banda e minha fotógrafa, Monica Machado”, conta.

          A artista também já se aventurou em palcos mais amplos, mesclando dança, literatura e música em performances conceituais. O estudo da história da arte, com o professor Luiz Flávio, ajudou-a desenvolver esse lado artístico. Foram quinze anos de estudo e várias viagens para conhecer in loco as obras estudadas.

          “Por volta de 2020 fiz meu primeiro show no Cine Theatro Brasil Vallourec, Abissal de Mim, no qual trabalhei as músicas junto a um tema específico e poemas de minha autoria. Lá também fiz o show Vivências no ano passado. O teatro é uma possibilidade muito rica, gosto de circular esses projetos em diversos espaços”, afirma.

           Renata relembra que era uma criança inquieta, com “muito querer”, e sua família também sempre a estimulou artisticamente. O pai, Eduardo Velloso Araujo, falecido aos 60 anos, sempre a presenteou com livros e teve bastante influência em seu gosto musical.

          “Gravava as músicas do vinil em fitas cassetes para escutar com ele em viagens e fui tomando gosto por artistas que hoje fazem parte do meu repertório, como Tom Jobim, Gonzaguinha, Elis Regina, Maria Betânia, Ney Mato Grosso, Frank Sinatra e Gal Costa. A minha avó paterna Nylse Velloso, tocava piano, e Célio Balona frequentava bastante lá em casa. A voz da minha mãe também sempre ressoa como fundo musical”, recorda.

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          Outra forte paixão é a dança. Aos quatro anos começou no balé e na adolescência entrou no jazz. “A dança sempre esteve presente na minha vida e isso faz toda diferença para meu corpo. O corpo precisa estar em movimento, assim abrimos espaços dentro da gente. Tem um poema que escrevi chamado Meu Rio. Cultuo meu corpo, ele é minha carcaça que me carrega para atravessar o rio que molha minha alma”, aponta.

           Atualmente, Renata mantém sua rotina fazendo aulas de dança de salão com o professor Welbert de Melo, do Café com Dança. “Sempre que posso retorno às aulas de balé e de jazz no Compasso. Sempre tive grandes mestres como Maurício Tobias, Marjorie Quast, do Núcleo Artístico, Ana Lúcia Carvalho, onde participei do corpo de baile, e Sueli Machado, do primeiro Ato”, elenca.

           Poderia ser natural e até óbvio que ela seguisse pelo caminho artístico desde sempre. Entretanto, como o pai estava à frente da Araujo na época, a questão da empresa acabou pesando na decisão na hora do vestibular. “Fiz administração pela Fumec e pós em marketing pela FGV. Na Araujo separei produtos no CD e acompanhei a implantação do sistema do Drogatel. Mas, eu não me encontrava ali, tinha que buscar outras coisas”, diz.

           Renata se encontrou então na psicanálise, fazendo uma especialização na Fumec e se aperfeiçoando há cerca de 25 anos, além de seus 30 anos de análise. Essa área também tem total importância em suas performances. “Não é apenas um show, tem todo um conceito, um poema desenvolvido especialmente para aquele momento. Faço uma extensão da psicanálise para questionar sobre a vida e sobre o que queremos”, afirma.

          Com muitos projetos ainda para realizar, ela tirou do papel no ano passado o podcast Vivências, no qual mescla reflexões pessoais com literatura, psicanálise e fala de suas vivências no Norte de Minas, seu Ser Tão.

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         “Durante a pandemia passei um tempo morando lá e tive a oportunidade de aprofundar minhas relações com as pessoas da região. Dessa forma, eu posso usar a imagem do sertão para falar de vida, morte, passagem do tempo e vários ouros questionamentos. Quero transformar esse conteúdo em livro também”, revela.

          Por lá ela também fundou o projeto Letras pelo Sertão, no qual transformou uma das casas em uma biblioteca para as crianças com livros arrecadados entre os seus amigos de BH. “Também fiz fotografias conceituais, principalmente com uma moradora chamada dona Joaquina. Fiz fotos de sua pele para refletir sobre a passagem do tempo e ela representa todos nós nessa caminhada. Essas imagens poderão ser usadas na cenografia de um futuro show. Percebe como toda a minha arte vai se conectando?”, indaga.

         E é nesse lugar pulsante, que Renata vem potencializando sua sensibilidade e transformando sua curiosidade pela vida em arte. “Um grande diferencial é que criei o meu estilo, a minha forma de me colocar na música, na dança, de transmitir o que sinto por dentro”, arremata.