Comportamento

A revolução materna

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Bharbara Renault e Hugo: “Estamos com saúde e preparo para ter este filho que vem mais tarde”
FOTO \ Álbum de família

 

Dores e delícias de ter filhos a partir dos 40 anos

 

Ser uma mãe 40 + já não causa espanto. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrou, nos últimos 12 anos, crescimento de 66% no número de mulheres que se tornaram mães com 40, 41, 42, 43 anos, numa verdadeira revolução materna: “Uma conhecida minha teve filho aos 45”, conta a empresária Bharbara Marques Renault, ela mesma uma mãe parida aos 42 anos pelo filho Hugo, atualmente com dois aninhos. As razões de Bharbara – 44 anos – para adiar a maternidade não diferem das de outras mães tardias: dedicação e foco na vida profissional.

O que chama a atenção é o olhar que muitas mulheres passaram a ter sobre a maternidade nesta faixa etária: o tempo tem se mostrado fator mais positivo do que negativo e, ao contrário do que ouviram até de especialistas, não houve dificuldade para engravidar. Bharbara se lembra de que até o obstetra, a partir dos 36 anos da paciente, falava que ela pre cisava ser rápida, senão, não conseguiria engravidar. “Cheguei a olhar congelamento de óvulos, mas não queria nada daquilo”, conta. Em 2021, ela e o marido começaram a correr contra o relógio biológico de Bharbara, ponteiros marcando 39 anos.

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Renata Abreu e Bento: “Ter todo o cenário resolvido é a grande sacada”

“No Ano Novo de 2021 para 2022 fomos para a Bahia e uma semana depois eu já estava grávida.” Coincidência ou genética, a irmã dela também engravidou aos 40. “Minha vida mudou completamente. Sou apaixonada pelo meu filho, mas filho é só se você quiser”, reforça Bharbara Renault, que diz sentir-se representada ao ver tantas mães na mesma faixa etária. Ela conhece mulheres de 44, 45 anos “tendo filhos, sem tratamento, sem nada. Nos cuidamos, fazemos esportes, nos alimentamos bem. Postergamos a maternidade, mas estamos com saúde e preparo para ter este filho que vem mais tarde.”

BAGAGEM EMOCIONAL

A psicóloga especialista em educação larental e CEO do Seminário Internacional de Mães, Fernanda Teles, explica que a maternidade aos 40 anos traz esta consciência que Bharbara demonstra. “A noite mal dormida pesa e a própria gestação pode ser mais arriscada, mas há ganhos imensos. A mulher tem mais repertório, presença emocional e educa com mais intenção.” O nome disso é bagagem emocional, que vem dos ciclos de autoconhecimento e de amadurecimento que capacitam para lidar com desafios, ter uma melhor escuta sobre as necessidades do filho e até de si mesma.

Para Renata Soares Machado Guimarães de Abreu não poderia ser mais verdade. Ela deu à luz aos 41 anos ao filho Bento, de parto normal, e acha que “ter todo o cenário resolvido é a grande sacada, a dádiva da maternidade aos 40 anos. Aos 20 e poucos teria sido um general. Hoje, a vida já me ensinou e, mesmo assim, ser mãe é mais difícil e melhor do que imaginei”, diz ela. Com uma carreira de duas décadas no Ministério Público, dando aulas, correndo de um lado para outro, Renata, aos 39 anos estava pronta para desacelerar; tinha casa própria, vida financeira e profissional estáveis. “Mas mal sabia eu”, brinca ela, naquelas alturas decidida a não engravidar. Mas e as surpresas da vida?

“Fui colocar um DIU. Marquei para janeiro de 2020 e no dia, precisei reagendar; estava mudando de casa. Tomei um susto absurdo em razão da idade”, conta ela sobre a própria reação ao saber da gravidez inesperada. Gestante durante a pande mia, Renata entrou imediatamente para o grupo de risco da Covid-19 e não pôde guardar a notícia. Teve medo, sim, pela saúde do bebê e a idade bateu como uma questão. Fora o turbilhão de novidades e emoções: preparar as enteadas, de 8 e 12 anos, contar para a família sobre sua gravidez e avisar até mesmo, imediatamente, no trabalho.

 

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Fernanda Teles: “A mulher tem mais repertório”

Seu filhinho, Bento, de quatro anos e muita fofura, nasceu um dia após seu aniversário de 41 anos. Por conta da pandemia ela não teve ajudante nem rede de apoio. Além da pediatra, durante os dois primeiros anos de vida Bento só conhecia seu núcleo familiar. De novo, Re nata percebeu o tempo como aliado, apesar dos medos pelo imprevisível. “Não tive intercorrência alguma. Um pouco de dor na costela, alguns enjoos, mas nada de inchaços”, conta a feliz mãe de 45 anos.

MATERNIDADE MADURA

Longe de se tratar de mais uma romantização do papel materno, as delícias da maternidade ma dura esbarram em desafios. Além de ser um trabalho de 24 horas por dia, como as próprias mães contaram em seus depoimentos, há o medo delas de faltarem aos pequenos. “Tenho o pensamento de que não posso morrer, mas já penso na solução.

Sei que não poderei dar ao meu filho, quando ele tiver a minha idade, o suporte que meus pais me dão. Então, penso em criar um adulto forte e seguro”, conta Renata. Ela também não esconde o desejo de construir um estofo financeiro para o futuro de Bento. A psicóloga Fernanda Teles explica que não é incomum às mães com mais de 40 anos o receio ao julgamento, uma vez que elas recebem críticas vela das, do tipo “será que ela vai dar conta?”

A cobrança pela maternidade persiste. “No imaginário coletivo, toda mulher deve ser mãe”, revela Fernanda. Representantes desta nova geração de mães, Bharbara, Renata e seus filhotes são fruto das mudanças sociais que levaram as mulheres ao mercado de trabalho, ao adiamento da função de mãe e à independência financeira. Também são a prova de que a maternidade pode ser vivida na maturidade, sem culpas, aflições ou sensação de inadequação. Pois, sim, elas darão conta. Aliás, já deram!

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