Política

ENTRE O FIM DA HEGEMONIA E O VAZIO DE ALTERNATIVAS

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foto\ freepik.com

Desde 2013 o Brasil vive uma reconfiguração profunda de sua paisagem política. A insatisfação, que se iniciou com protestos contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, rapidamente se espalhou por todo o país e acabou servindo de incubadora para um novo ator político: o conservadorismo popular. Esse movimento, antes fragmentado e sem expressão institucional clara, ganhou musculatura, discurso e, mais que tudo, uma base social que lhe confere a simpatia de expressivo número percentual do eleitorado brasileiro.

Não é apenas uma reação ao petismo: é uma identidade própria, em construção, que sobreviveu ao colapso de Bolsonaro como personagem e se refaz como força social. Ao mesmo tempo, Lula voltou ao poder num país completamente distinto daquele que o consagrou em 2003.

A margem de manobra estreitou: a economia não embala, os recursos são escassos para financiar o populismo que sua base espera, e o Congresso, mais “toma lá, dá cá” do que nunca, cobra caro, permanentemente, pelo apoio episódico. O velho lulismo, dependente de crescimento e generosidade orçamentária, bateu no teto. Ao buscar alternativas fora da cartilha, apela para soluções inflacionárias, como a emissão de moeda.

Nas instituições, o Planalto aposta numa simbiose funcional com o STF e o TSE, que vão além do papel técnico para agir como ante paro político. Contudo, isso também tem prazo de validade: o ativismo judicial, se não contido, alimenta o mesmo ressentimento que em outros países levou ao descrédito completo das Cortes.

A HEGEMONIA CULTURAL DA ESQUERDA RUIU SEM QUE A DIREITA TIVESSE QUE A SUBSTITUIR POR ALGO COESO

A mídia tradicional, antes capaz de pautar o debate público, perdeu protagonismo para redes sociais, onde a esquerda não consegue impor sua narrativa. Facebook, TikTok, Instagram, X e afins pulverizaram o controle simbólico, dando voz para que o conservadorismo impulsione o que antes era apenas ruído. A hegemonia cultural da esquerda ruiu sem que a direita tivesse que a substituir por algo coeso. O vácuo persiste. Lula ainda é hábil, mas astúcia não garante governabilidade num país mais cético, mais fragmenta do e menos encantado com promessas. A democracia brasileira entrou em fase adulta (adúltera, alguns diriam) — e, como toda maturidade, essa também cobra seu preço..

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