José Maurício Siqueira: hospital recebe pacientes de todo o país em busca do melhor tratamento
FOTOS \ Milene Marques
Brasil tem mais de 4 milhões de pessoas portadoras dos diversos tipos de epilepsias; o principal centro de tratamento da doença no país, na saúde suplementar, está em BH – o Núcleo Avançado de Tratamento de Epilepsias (Nate) do Hospital Felício Rocho
O Hospital Felício Rocho é hoje o maior centro de diagnóstico e tratamento de casos de epilepsias no Brasil, atendendo pacientes para a saúde suplementar – e também é um dos maiores centros da América Latina. Com um corpo clínico multidisciplinar com posto de profissionais da saúde, incluindo médicos neurocirurgiões, neurologistas e neurofisiologistas, neuroradiologistas, médicos da medicina nuclear, anestesistas e técnicos dedicados ao tratamento dessa doença, ainda muito estigmatizante na sociedade, o Nate é referência nacional e internacional no tratamento das epilepsias.
A unidade Nate dispõe de quatro apartamentos e uma sala de interpretação dos exames de vídeo eletroencefalografia, tecnologia que monitora o paciente por tempo prolongado, podendo ocorrer exames com duração de 24 horas e mesmo de vários dias. O paciente fica internado e são monitoradas a atividade elétrica cerebral junto com a filmagem com registro do tipo de crise. Assim é possível saber o padrão das crises, se são só um foco ou de múltiplos focos ajudando na melhoria do tratamento medicamentoso ou se decidindo pela indicação de cirurgia. Em 21 anos de existência do Núcleo foram realizados mais de cinco mil exames de vídeoeletroencefalografia e cerca de 600 cirurgias.
“Os pacientes são encaminhados para o Felício Rocho das mais diversas localidades e regiões do país para consulta especializada, opinião sobre melhor tratamento, identificação da origem das crises e discussão da indicação ou não de cirur gia”, explica o doutor José Maurício Siqueira ao lembrar que a tecnologia de vídeoeletroencefalo grama é usada desde a criação do Nate, em 2003.
Há cerca de seis anos, o núcleo passou a contar com nova tecnologia que permite exames com eletrodos intracranianos em áreas profundas do cérebro. O Nate é o único centro de tratamento de epilepsias do país a contar com o aparelho Nihon Kohden de 256 canais para estudo das redes neurais epiléticas. Os aparelhos mais comuns têm 32 e 64 canais e utilizam apenas eletrodos superficiais no couro cabeludo.
“O nosso diferencial recente é esta tecnologia avançada do SEEG : Stereo-eletroencephagraphy (Estéreo-eletrencefalografia), com implante de múltiplos eletrodos intracerebrais com vários contatos de registro da atividade da rede neural epiléptica”, diz o neurocirurgião. A tecnologia é utilizada para aprimorar o diagnóstico sobre a localização da área do cérebro na qual se originam as crises epilépticas com mais precisão, de forma a permitir intervenção cirúrgica muitas vezes não possíveis pelas técnicas convencionais.
Com tecnologia de ponta e equipe altamente especializada, o Hospital Felício Rocho, com o Nate, atende a pacientes de todo o Brasil no trata mento de uma doença que tem uma prevalência de 2% da população brasileira. Isso significa, segundo o doutor José Maurício, que 4 milhões de brasileiros sofrem com as epilepsias hoje no Brasil. Dos pacientes diagnosticados com a doença, 80% reagem à medicação para controlar as crises, enquanto 20% são refratários aos medicamentos e necessitam de serem avaliados em centros especializados como o Nate.
“A cirurgia é indicada quando a medicação não é suficiente para controlar as crises. São epilepsias de difícil controle ou refratárias ao tratamento medicamentoso”, diz o neurocirurgião.
E acrescenta: “O Nate/Felício Rocho, que iniciou suas atividades em 2003, é hoje o principal centro de tratamento de epilepsias de difícil controle no sistema suplementar de saúde do país”.
Existem diferentes tipos de cirurgias que se enquadram em dois grupos: as potencialmente curativas e as paliativas. As curativas têm o objetivo de controle o mais completo possível das crises e o grupo das paliativas visa a maior redução possível das crises. “O objetivo da cirurgia é controlar as crises, ter crise zero”, afirma o doutor José Maurício ao reforçar que, ainda que não se elimine totalmente as convulsões, a redução em percentuais acima de 50% melhora significativamente a qualidade de vida do paciente.
Entre as cirurgias potencialmente curativas estão procedimentos como a retirada do hipocampo e a ressecção de circuitos e redes neurais. “Nós temos dois hipocampos e o que fica absorve as funções do que é retirado”, explica o coordenador do Nate. Nas cirurgias potencialmente curativas, todo o esforço, segundo José Maurício, é feito para identificar o foco para que ele seja ressecado ou bloqueado com o menor efeito adverso possível. “Quando isso não é possível, opta-se por cirurgias somadas aos medicamentos para reduzir a frequência das crises”, explica o neurocirurgião.
Atualmente, a maior inovação nestes casos, é o implante de um marca- passo para estimular o nervo vago (VNS). “Hoje, o Nate é um dos núcleos com maior experiência no estimulador do nervo vago no país, afirma o neurocirurgião José Maurício, lembrando que o primeiro implante de um marca-passo do nervo vago foi feito no núcleo em 2009.
José Maurício é otimista, mas adverte que apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento das epilepsias ainda há muito a fazer na área médica para tratar os pacientes no Brasil, onde existem poucos neurocirurgiões especializados.