Saúde

Tecnologia contra o câncer de mama

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Ensaio fotográfico com assistidas pela Mamamiga estão em exposição no Minas Shopping

FOTOS \ Divulgação

 

Uso de inteligência artificial e biópsias menos invasivas são usados no combate à doença, mas mamografia para todas ainda está distante

 

O outubro é rosa, mas vale um sinal verde para o autocuidado e um amarelo para ficar atenta às mudanças do próprio corpo. No mês da campanha de prevenção contra o câncer de mama, os especialistas chamam a atenção para questões importantes, que muitas vezes passam despercebidas por algumas mulheres. Por exemplo, a mamografia de diagnóstico deve ser feita em qualquer faixa etária, não só a partir dos 50 anos, valendo para as mais jovens, quando se observa mudança nos mamilos, presença de caroços e quando há casos de câncer de mama ou de ovário na família, independentemente da idade, com ou sem sintomas, o exame precisa ser feito.

O alerta é da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), que também chama a atenção para o fato de o exame de toque não ser mais considerado preventivo, por ser difícil identificar o tumor em estágio inicial, quando mede menos de um centímetro. Em estágio inicial, as chances de cura podem superar 95% dos casos. A mamografia ajuda a detectar tu mores antes de se tornarem palpáveis.

A mastologista Annamaria Massahud Rodrigues dos Santos, secretária-adjunta da SBM, que atende pacientes nos hospitais Orizonti, Santa Casa e Ipsemg, esclarece que o autoexame hoje é chamado de autoconhecimento. “O exame passava a sensação de tranquilidade e as pessoas achavam que podiam dispensar a mamografia”, observa.

A especialista lamenta que em países como o nosso, com alta dependência do sistema público, a recomendação do Ministério da Saúde é para que a mamografia seja feita a partir dos 50 a 69 anos, a cada dois anos. Em outros países, como os Estados Unidos, a recomendação é para começar a rotina de exame anualmente, a partir dos 40 anos.

“Quanto mais cedo descobrir, menor o custo para os cofres públicos. O benefício é muito maior que o risco. É preciso considerar que uma mulher com câncer de mama abala a família inteira. Muitas mulheres, hoje, são arrimos de família. A doença afeta socialmente, mexe com a autoestima da pessoa. A incidência tem afetado qualquer faixa etária e crescido ano a ano. O Inca (Instituto Nacional do Câncer) faz uma projeção a cada três anos. Para este ano, estão previstos 73.610 casos. Para 2025, a projeção é de 74 mil”, lamenta a médica.

Annamaria Massahud chama atenção para dados recentes que indicam cerca de 30% dos registros de incidência em mulheres abaixo de 50 anos. “São muitos casos em mais jovens. A cada dez mulheres que têm diagnóstico, três a quatro vão ocorrer nas de menos de 50 anos. Cerca de 80% dependem do SUS. Por isso, é importante dizer que a lei garante o exame de mamografia a partir da puberdade, em caso de indicação”, lembra a especialista.

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Annamaria Massahud: doença afeta socialmente

 

A questão dos mamógrafos ainda preocupa, a médica cita o exemplo de Minas Gerais. “São mais de 800 municípios. Tem cidade com dois mil habitantes e as pacientes precisam se deslocar a distâncias maiores para outros centros onde possam fazer o exame. Mas, vale lembrar, existem outros fatores de impedimento, como o medo do exame, de dor e de descoberta do diagnóstico. Essas correm o risco de, em caso de incidência, descobrir em estágio avançado”, comenta.

Embora em menor incidência, o câncer de mama também pode ocorrer nos homens. Mas, segundo dados oficiais, giram em torno de 1% de incidência, sendo muito raro. “Em casos em que há homem com o diagnóstico, portador de variante patogênica, as mulheres da família também podem herdar, se tiverem a mesma variante, até o 3º grau de parentesco. O teste genético BRCA a par tir da coleta de saliva, sangue, células da bochecha, pele ou líquido amniótico permite identificar se é mutação do gene hereditário ou não. A partir do teste, o paciente terá um painel geneticista. Mas, o SUS não cobre esse teste”, esclarece a médica.

 

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Mamamiga Tech: interação

 

Vale lembrar que, segundo o Inca, o câncer associado a fatores hereditários corresponde de 5% a 10% dos casos. “O risco pessoal, por com portamento e ambiente é a razão do aumento de casos. Obesidade, sedentarismo, abuso de bebidas alcoólicas, cigarro, alimentação inadequada, são fatores relevantes. A Organização Mundial de Saúde (OMS), recomenda, como uma das medidas de prevenção, a atividade física 150 minutos por semana, o que seria, 30 minutos por dia, durante cinco dias, com regularidade, podendo o tempo diário ser partido.

O autocuidado, a alimentação, distância de alimentos ultraprocessados e do fastfood, que apresenta muita caloria e poucos nutrientes também são medidas importantes. São práticas de promoção a saúde”, endossa a especialista da SMB.

Novas tecnologias vão sendo agregadas ao diagnóstico de câncer de mama. As biópsias têm evoluído para formas menos invasivas. Uma delas é a VAB (biópsia vácuo assistida). “Para o futuro, a expectativa é a possibilidade de biópsia líquida, ainda em estudo, podendo dispensar o exame regular da imagem. Outra possibilidade mais premente é o uso da inteligência artificial para fazer análise da imagem, revelando o que escapa ao olho humano”, vislumbra a especia lista.

Annamaria Massahud ressalta que a inteligência artificial já está presente em várias leituras de mamografias através da CAD (detecção auxiliada por computador). Vale dizer, o trata mento do câncer, hoje, segundo a médica, é cada vez mais personalizado para modificar o metabolismo daquela célula maligna, através da quimioterapia, terapias-alvo, hormonioterapia, em tratamentos sistêmicos. A tendência é de se chegar a procedimentos cada vez menos invasivos para o diagnóstico, como mamografia 3D (tomossíntese), ressonância. “Muita coisa vai ser resolvida pela biópsia de aspiração”, comemora.

Sobre o Outubro Rosa, a secretária-adjunta da SBM lamenta ser uma campanha que ainda não faça a diferença esperada. “Precisava, na atenção primária, ter a visita do agente de saúde em casa, comunicando o agendamento da mamografia. O que acontece é o contrário. Precisa conscientizar sobre o autocuidado e ter a família mais presente no acolhimento. Além disso, incentivar nas empresas para que as mulheres façam o preventivo. São pequenas coisas que incorporamos e que podem reduzir a incidência lá na frente”, conclui a médica.

Na parte social, apoio psicológico e estrutural, a atuação da Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (Asprecam), entidade mais conhecida por Mamamiga, tem uma atuação presente na vida de centenas das mulheres em tratamento, desde de que foi fundada, há 40 anos. A diretora–administrativa Cláudia Magalhães, conta que a entidade promove, no Minas Shopping, primeiro piso, loja 69, das 13h às 20h, do dia 12 até o dia 18 deste mês, uma série de palestras com profissionais multidisciplinares, como nutricionista, psicólogo, médico, fisioterapeuta, temas de interesse a pacientes, familiares, além de,no saguão do centro de compras, uma exposição, fruto de ensaios fotográficos com cinco mulheres assistidas pela Asprecam. “Teremos salão de beleza, meditação, modelo mamamiga em silicone para toque e autoconhecimento”, destaca.

Cláudia conta que a Asprecam está com um projeto-piloto em Nova Lima para treinar equipes de atenção primária. “Trata-se do Projeto Busca Ativa. O intuito é fazer com que esses profissionais de saúde cheguem até a casa da família, para conhecer o histórico da paciente. Muitas, com mais de 50 anos, nunca fizeram uma mamografia de rastreio.

A gente criou a mamamiga tech, a 3ª geração da mamamiga que fará essa interação no treinamento. Uma forma de reciclar o pessoal de Unidade Básica de Saúde (UBS)”, relata a diretora, que espera que esse projeto se estenda para além da RMBH.

A associação é mantida por 38 voluntários. Atualmente são 63 pacientes assistidas. O objetivo maior é dar estrutura a todas elas pra enfrentar a doença. “Algumas sofrem abandono do marido, geralmente repercute no rendimento escolar do filho e, muitas vezes, são pessoas muito simples, cabeleireiras, cozinheiras, faxineiras, que encontram dificuldade para voltar ao trabalho, porque, às vezes, precisam ter a axila esvaziada. Geralmente, com diagnóstico tardio. São muitas as sequelas emocionais”, lamenta.

O QUE DIZ O MINISTÉRIO DA SAÚDE

“O Ministério da Saúde tem intensificado as ações de controle e prevenção do câncer de mama, com foco na prevenção, no diagnóstico precoce, no rastreamento mamográfico e na expansão do parque tecnológico para tratamento da doença.

Em 2022, foram realizadas 4.183.206 mamografias, número que subiu para 4.347.974 em 2023. Até julho de 2024, foram contabilizadas 2.419.015 mamografias. Em relação à radioterapia, foram registrados 34.331 procedimentos a pacientes oncológicos em 2023, uma ampliação de mais de 3.240 procedimentos que em 2022. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é o tipo de câncer mais frequente em mulheres, após o câncer de pele”.

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