Wilson Melo Lima Jr. com o ministro da Educação do Senegal, Cheikh Oumar Anne
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Mineiro tem a missão de apoiar desenvolvimento de políticas de educação em 27 países africanos
“Eu gostaria que existisse um olhar mais atencioso do Brasil para a África. Os africanos não aparecem em nossa mídia e o continente é maravilhoso, repleto de belezas naturais, de diversidade cultural e de oportunidades profissionais e comerciais para as empresas e para os empreendedores brasileiros”, disse o conselheiro de educação profissional da Unesco para a África, Wilson Melo Lima Jr.
Após cinco anos morando na Alemanha, esse mineiro de Belo Horizonte vive, desde março de 2023, em Dacar, capital e a maior cidade do Senegal. Nos próximos dois anos, tempo que durará sua missão no país, irá se dedicar à necessária e urgente, mas difícil, brava e corajosa missão de implementar projetos educacionais voltados para a alfabetização de jovens e adultos e para a educação profissional e tecnológica.
“Um de nossos objetivos principais é apoiar, até o fim da década, 27 países no continente africano para que desenvolvam políticas relacionadas à digitalização de seus sistemas educacionais, as quais envolvem diversas dimensões: pedagógica, infraestrutura e competências etc. Todas elas voltadas a apoiar o corpo docente das instituições para que possam desenvolver suas funções adequadamente”, afirmou. Wilson diz que, apesar do contexto de instabilidade política e jurídica experimentada em alguns países africanos, o Brasil só teria a ganhar se compreendesse as oportunidades existentes na relação com seus vizinhos do outro lado do Atlântico.
Turismo, negócios, exportação e importação deveriam ser melhores explorados, uma vez que Dacar está a apenas três horas de voo de Fortaleza. “No Senegal, todos mostram muita simpatia em relação ao Brasil e, ainda que tenha 97% da população adepta da religião islâmica, a sociedade é bastante tolerante com as culturas, religiões e costumes ocidentais”, afirma Wilson.
Em Dacar, Wilson trabalha no escritório regional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para a África Ocidental, que abrange 15 países. “Eu sou responsável por três subsetores da educação: alfabetização, educação profissional e educação superior e implemento projetos e políticas nacionais, regionais e continentais”.
Wilson destaca o trabalho realizado por meio da Iniciativa Pan-africana para a Transformação Digital dos Sistemas de Ensino e Formação Profissional. Por meio dessa iniciativa continental, 823 oficiais e funcionários públicos foram capacitados para compreender como a digitalização afeta a educação e quais as possibilidades e desafios inerentes a ela. A meta é que formuladores de políticas públicas de 27 países sejam capacitados até 2030. Além disso, a Iniciativa Pan-Africana acompanha os países no desenvolvimento de documentos de estratégias que deem amparo institucional para a transformação digital. Nessa linha de trabalho, cinco países do continente já desenvolveram suas estratégias de digitalização com o apoio da Unesco.
“Igualar o índice de desenvolvimento humano dos países da região aos dos países desenvolvidos é realidade ainda muito distante”
Wilson ressalta que os desafios são muitos. “O contexto geral é de fragilidade institucional. Dos 15 países que cobrimos, cinco deles sofreram golpes de estado nos últimos quatro anos, ou seja, as incertezas são consideráveis e muitas vezes enfrentamos situações de risco”, lamenta o conselheiro. De acordo com ele, há desafios estruturais de grande monta. “Precisamos entender que se trata de países que foram colonizados até muito recentemente, países que estão em sua infância institucional. Os aspectos culturais também são desafiadores. Muitas pessoas ainda falam o dialeto de origem de suas comunidades e isso dificulta bastante o aprendizado de qualquer conhecimento novo”, disse. Diante desse cenário, analisa, igualar o índice de desenvolvimento humano dos países da região àqueles dos países desenvolvidos é uma realidade ainda muito distante. “Para se ter um exemplo, a taxa de alfabetização na África é, atualmente, de 78%, taxa que foi alcançada pelo restante do mundo há 50 anos”, constatou.