Saúde

Longevidade saudável

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Henrique Salvador: prevenção por meio da alimentação e de bons hábitos

Fotos:Tião Mourão

 

Médicos especialistas debatem sobre nutrição, suplementação e o planejamento para o envelhecimento no painel “Saúde e Bem-Estar”

 

               A programação de sábado do Conexão Empresarial 2024 teve o painel “Saúde e Bem-estar” como um de seus pontos altos. O encontro, realizado no Salão Ouro Preto, um dos anfiteatros do Grande Hotel de Araxá, reuniu especialistas de diferentes áreas da medicina e foi apresentado pelo ginecologista e obstetra Henrique Salvador, presidente do conselho da Rede Mater Dei de Saúde. “Escolhemos a longevidade saudável como foco dessa conferência, tendo em vista a prevenção por meio da alimentação e de bons hábitos cotidianos”, iniciou o médico.

              Diretora médica do spa médico Kurotel, em Gramado, a nutróloga e psiquiatra Mariela Silveira destacou como as decisões alimentares estão intimamente ligadas à longevidade saudável. “Dados da Associação Americana do Coração alertam que a atual geração de filhos pode viver menos que seus pais devido ao aumento do sedentarismo e à triplicação da obesidade infantil entre 1971 e 2011, impactando diretamente na prevalência de hipertensão arterial sistêmica e diabetes tipo 2”, relata.

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Mariela Silveira: padrões alimentares devem ser baseados em alimentos naturais

               A especialista recomenda a restrição do consumo de alimentos ultraprocessados e a adoção de padrões alimentares baseados em alimentos naturais. Ela aponta para o exemplo das “Blue Zones”, cinco localidades conhecidas por abrigar populações com longevidade mais alta que a média: Sardenha, na Itália; Okinawa, no Japão; Loma Linda, na Califórnia; península de Nicoya, na Costa Rica; e ilha de Icária, na Grécia. “Nessas áreas, mais de 50% da alimentação é composta por frutas e verduras. Em Okinawa, por exemplo, a média de vida entre 90 e 100 anos é atribuída à dieta rica em alga kombu, batata-doce, soja e muito peixe, além do conceito prático hara hachi bu, que significa comer até estar 80% satisfeito”, descreve.

               No Brasil, segundo a nutróloga, Veranópolis (RS) é um exemplo de cidade que caminha para se tornar uma “Blue Zone”. “Não precisamos investir em ingredientes mirabolantes, mas valorizar o que é local, consumir alimentos verdadeiros e variados, respeitar a individualidade bioquímica de cada pessoa e preparar as refeições com cuidado. Isso faz a diferença.” O jejum também pode ser útil, desde que praticado de forma individualizada e orientada: a nutróloga adverte contra a adoção da prática forma genérica e ressalta a importância da orientação profissional.

               Outra estratégia simples é o mindful eating, traduzido como “alimentação consciente”. “Áreas específicas do cérebro humanos são ativadas em resposta aos alimentos, a exemplo do hipotálamo lateral, que responde pela gratificação aos alimentos saborosos. Aliado a esse conceito científico, o mindful eating envolve uma percepção subjetiva em relação ao alimento, à fome e à saciedade, promovendo um vínculo mais saudável com a comida. Quanto mais presente for essa relação, mais saudável seremos”, pondera.

              O painel “Saúde e Bem-estar” teve sequência com a apresentação do nefrologista Luís Trindade, preceptor de Clínica Médica na Rede Mater Dei de Saúde. Ele abordou o uso crescente de suplementos alimentares e a necessidade de entender seus benefícios e riscos. “No Brasil, 59% dos lares possuem pelo menos uma pessoa que faz uso de nutrição suplementar, sendo os mais comuns: vitaminas C e D, ômega 3, whey protein e creatina”, informa, baseado em dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad).

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Luís Trindade: alerta sobre o uso de suplementos

              “O efeito placebo é real e pode gerar respostas fisiológicas. A expectativa de melhora influencia a percepção dos resultados”, afirma Trindade. Ele exemplifica com a soroterapia, tratamento que se tornou moda nas redes sociais ao prometer desintoxicação, emagrecimento, energia e beleza, mas que carece de evidências científicas. “É um mito dizer que a soroterapia é uma solução milagrosa. Pode ser útil em casos específicos, mas não há qualquer comprovação para as alegações mais comuns”, explica.

              Em relação à vitamina D, por exemplo, Trindade ressalta que apenas pessoas com deficiência do nutriente e déficit de metabolismo ósseo necessitam de suplementação. “A maioria das pessoas pode obter vitamina D suficiente com baixa exposição solar”, diz. Já no caso da vitamina C, ele afirma que a suplementação rotineira não se justifica para prevenir doenças respiratórias, como diz a sabedoria popular. “O que a vitamina C faz é reduzir a duração dos resfriados em horas ou dias. Consumir alimentos ricos em vitamina C, como frutas cítricas e brócolis, já é suficiente para a maioria das pessoas.”

               Trindade também desmistifica o uso indiscriminado de whey protein, alertando que o excesso de proteína pode sobrecarregar os rins e o fígado. “A quantidade ideal de ingestão proteica varia de acordo com a idade, o sexo, o nível de atividade física e os objetivos. Se a pessoa não for um atleta ou não se exercitar com alto rendimento com regularidade, a suplementação não faz sentido”, explica. Em relação à creatina, por sua vez, ele afirma que este é um suplemento promissor para a prevenção de doenças musculares, segundo alguns estudos ainda não conclusivos. “O mito de que a creatina causa danos aos rins não é verdadeiro.

               E, sim, ela pode melhorar o desempenho em exercícios de alta intensidade e curta duração.” Sobre os ácidos graxos ômega 3, Trindade ressalta que o nutriente é eficaz na redução de triglicerídeos e na melhoria dos desfechos cardiovasculares, mas não precisa, necessariamente, ser suplementado. “Incluir peixes como salmão, atum e sardinha na dieta é uma boa maneira de obter ômega 3”, sugere.

                Trindade também questiona o uso de suplementos vitamínicos e antioxidantes como prevenção ao câncer. “A maioria dos estudos não encontrou evidências de que eles previnam o câncer. Em alguns casos, altas doses podem até aumentar a prevalência de certos tipos de tumores, como o betacaroteno quando usado por tabagistas”, alerta. Além disso, o médico destaca os riscos associados a alguns termogênicos, como os chamados “pré-treino”, que podem aumentar o risco de arritmias, hipertensão e infarto. “A suplementação não substitui uma boa alimentação e não é para todos. É crucial ter cuidado com os efeitos colaterais, verificar as dosagens e o tempo de uso com um médico”, adverte.

               Por fim, Trindade enfatiza a importância da hidratação adequada. “Beber água conforme a sede é o ideal. Uma regra prática é observar a cor da urina, que deve ser clara e transparente. Água em excesso também faz mal. Idosos, em particular, devem ter atenção à hidratação, pois perdem a capacidade de concentração de líquidos”, conclui, recomendando sempre preferir água e sucos naturais, evitando soluções muito concentradas.

               O cardiologista Marcos Andrade, diretor da Clínica Marcos Andrade, finalizou o painel “Saúde e Bem-estar”, com o questionamento: terceirizar a responsabilidade pela nossa saúde é o melhor caminho para a longevidade saudável? Em sua apresentação, ele destacou que é um erro delegar essa incumbência a médicos, remédios e exames, em substituição à abordagem proativa e consciente da própria saúde. “Precisamos lembrar que não somos eternos e nos preparar para uma finitude saudável, com independência física e mental na terceira idade”, destaca.

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Marcos Andrade: preparação para uma finitude saudável

              Para Andrade, a longevidade desejada envolve mais do que apenas evitar doenças: trata-se de manter a autonomia e a qualidade de vida. Ele enfatiza a necessidade de tomar decisões conscientes para garantir essa independência. “Se não tomarmos as rédeas de nossa saúde, corremos o risco de nos tornarmos incapazes e deixar que outros decidam por nós”, afirma.

              Esse conceito é parte de um sistema assistencial centrado em profissionais de saúde que respeitam o equilíbrio do corpo (homeostase) e rejeitam a terceirização da saúde como solução. “O médico deve ser o centro da assistência, mas não podemos incumbi-lo de nossa responsabilidade pessoal pelo nosso bem-estar”, acrescenta.

              O cardiologista também critica a ideia de aposentadoria como um projeto de vida. Para ele, esse conceito pode levar à inutilidade, angústia e até à depressão, ao invés de promover um envelhecimento ativo e significativo. “Ninguém deveria ver a aposentadoria como o fim da linha. Qual seria o próximo passo: esperar a morte? Precisamos rever nossos valores de vida e nos adaptar às funções sociais conforme envelhecemos”, argumenta, sugerindo que o redesenho do corpo e da mente para se adequar às novas realidades da idade é essencial para uma vida plena.

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