Cultura

A Arte de Celebrar

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FOTO:MILENE MARQUES

 

Verde Musgo chega aos 35 anos como referência em design e ambientação de eventos

 

A beleza nasce do equilíbrio, e poucas pessoas entendem isso tão bem quanto a arquiteta e designer Juliana Martins. À frente da Verde Musgo, empresa de decorações de eventos que completa 35 anos em 2026, ela desenvolveu uma linguagem própria para harmonizar flores, luzes e cenários, tornando-se referência no segmento. “Chegar até aqui é a realização do sonho de uma vida, construído com trabalho, sensibilidade de escuta e amor”, afirma.

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A trajetória da Verde Musgo começou em 1991. Formada em arquitetura e com pós-graduação em paisagismo, Juliana abriu uma loja no bairro Sion, inicialmente voltada para projetos arquitetônicos e paisagistas. A ideia de diversifica partiu da mãe, a decoradora de interiores Maria da Graça Martins, que a incentivou a criar arranjos florais para expor na vitrine. As composições, elaboradas de maneira intuitiva, logo conquistaram o público e se tornaram o principal atrativo do espaço.

Um pedido inusitado mudou o foco da jovem. “Uma cliente solicitou um buquê de noiva igual ao de uma revista. Fui honesta, disse que nunca havia feito esse tipo de trabalho, mas ela insistiu, e resolvi me arriscar. A partir daí, veio uma enxurrada de encomendas”, recorda Juliana. Quase naturalmente, a Verde Musgo também passou a se dedicar à ambientação de casamentos. Com o tempo, os projetos de arquitetura e paisagismo, cederam lugar totalmente à decoração de eventos sociais.

O aumento da demanda impulsionou a estruturação da empresa, que ganhou sede própria no bairro Serra, reunindo no mesmo endereço o ateliê de criação, o acervo de mobiliário e o escritório de atendimento. A partir desse marco, a Verde Musgo ganhou forma definitiva e se firmou como uma das principais casas de design de eventos em Minas Gerais. Atualmente, a agenda é dominada por casamentos – mais de 60% das produções – além de festas de 15 anos, aniversários, encontros corporativos e formaturas.

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Juliana conta que a inspiração vem da infância. “Cresci cercada por arranjos, adornos e combinações que despertaram meu olhar para o belo. Foi minha mãe, com seu trabalho como decoradora, quem moldou meu repertório. A faculdade apenas lapidou o que aprendi em casa”, afirma. Com esse forte laço afetivo como guia, a arquiteta procura valorizar os momentos familiares dos clientes, por meio de histórias que atravessam gerações. “Alguns nos acompanham desde o início. Já fizemos o casamento, o batizado e até as festas dos filhos.”

Maria Tereza Géo, empresária do ramo de joias, tem parceria de longa data com a Verde Musgo, relação que ela descreve como um verdadeiro casamento profissional. “Juliana é uma pessoa muito querida, fácil de lidar, de muito bom gosto. Ela oferece exatamente o serviço que a gente precisa, sempre com gentileza. Eu fecho os olhos e falo: preciso disso, disso e disso. Ela vai lá e faz. Entrego a chave do local e chego de convidada”, diz.

O relacionamento começou de forma natural, a partir de trabalhos realizados para a Talento Joias, empresa familiar da qual Maria Tereza é uma das sócias. Logo, a sinergia se estendeu a eventos familiares e corporativos. Entre as muitas produções marcantes, uma ocupa lugar especial na memória da empresária: o Natal de 2023, criado em homenagem à família do marido André Muzzi. “Ele perdeu os pais muito novo e quis fazer um Natal especial, relembrando momentos da família. Pedi à Juliana uma ‘árvore da vida’, e ela conseguiu transformar isso de maneira incrível. A equipe montou um grande tronco no salão, com um varal de fotos que unia lembranças e gerações.

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Foi o Natal mais marcante de todos”, relembra. Essa conexão genuína com os clientes foi essencial para atravessar um dos períodos mais desafiadores do mercado de eventos: a pandemia. Diante das incertezas, a Verde Musgo precisou repensar sua atuação e negociar cada caso individualmente, com o parcelamento de devoluções para festas canceladas e a adaptação de contra tos para reagendamentos. “Foram tempos de resistência. Passado o impacto inicial, passamos a oferecer serviços de décor em residências, para pequenas celebrações de aniversário, casamento civil e batizados, com grupos de 8 a 15 pessoas do mesmo núcleo familiar. Também intensificamos a entrega de arranjos florais para presentear e decorar a casa. Sem poder sair, todos sentiram a necessidade de ter o ambiente mais bem cuidado e colorido”, recorda Juliana.

Com a flexibilização da quarentena, a empresa passou a ser procurada para eventos um pouco maiores, em residências privadas e ao ar livre. “Fizemos casamentos para 25 e 45 pessoas, seguindo todas as restrições necessárias, com distâncias de 2 metros entre as mesas. Foi um momento de exaustão, mas também de aprendizado e valorização do essencial.” A virada veio em 2023, quando a demanda reprimida se transformou em energia de retomada.

A nova fase da Verde Musgo trouxe um formato mais enxuto e a mudança de endereço, do Serra para o Mangabeiras, em um espaço de cerca de 1.000 m². Juliana e o marido, o decorador Rafael Guimarães, passaram para a linha de frente de cada projeto, assessorados pelo filho de Juliana, o economista Lucas Martins Pimenta, que atua na gerência operacional. “Hoje, entregamos as festas pessoalmente, cuidamos da curadoria, da conferência e do contato com os clientes. Essa proximidade ampliou a possibilidade de fazer entregas mais refinadas, alinhadas à identidade dos anfitriões”, descreve Juliana.

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A profissional também percebe transformações profundas no comportamento do público. “Quando a Verde Musgo começou, as noivas tinham entre 20 e 25 anos, e os pais conduziam tudo. Hoje, elas se casam mais tarde, de pois da graduação ou do MBA, e fazem questão de comandar todas as decisões. Quando os pais arcavam com as despesas, era comum termos mil convidados; atualmente, uma festa para 300 pessoas já é considerada grande. As festas de 15 anos também se transformaram: antes, eram o sonho das adolescentes; hoje, uma forma de as famílias celebrarem o crescimento dos filhos.”

Nesse contexto, os formatos miniwedding e destination wedding se firmaram como desejos frequentes dos noivos. “Celebrar a união em sintonia com um lugar específico traduz o espírito da relação e reúne familiares e amigos próximos em torno de um mesmo propósito. É uma vivência compartilhada, que gera uma memória coletiva profundamente afetiva”, comenta Juliana. Com foco nesse público, a Verde Musgo consolidou sua atuação em diferentes destinos do Brasil. “Ganhamos expertise em realizar festas fora de Belo Horizonte, compreendendo as particularidades de cada local, o clima, as flores disponíveis, a logística.” A Bahia se tornou uma das frentes mais promissoras, com direito à abertura de um escritório no vilarejo de Santo André, para atender à crescente demanda na Costa do Descobrimento. “Foi um passo natural. Muitos clientes começaram a se casar no litoral baiano, e estar mais próximo facilita toda a execução. Hoje, nosso trabalho ali tem identidade própria, com uma leitura tropical e sofisticada do estilo Verde Musgo”, diz Juliana. A experiência internacional, por sua vez, registra produções na França.

Como parceiro na condução da Verde Musgo, o decorador Rafael Guimarães avalia que o ofício da decoração de eventos vai além da ambientação. “Vivemos no tempo dos detalhes. As pessoas veem festas do mundo inteiro e trazem essas referências. O desejo é despertado pela força da mídia, e cada elemento passa a ter significado. A decoração se tornou o ponto-chave, pois orquestra tudo: o palco, o bar, o ambiente. Ela é o fio condutor da experiência”, observa.

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As tendências, no entanto, são cíclicas. Nos últimos anos, segundo Juliana e Rafael, o estilo boho dominou as festas, com uma proposta descontraída que mistura referências vintage, bucólicas e étnicas. “A estética boho trouxe leveza e liberdade para ousar nas combinações. Tapetes persas, por exemplo, convivem com tramas de bambu, e o contraste entre texturas cria uma atmosfera acolhedora e natural. É um conceito que valoriza o afeto, o conforto e a sensibilidade”, descreve Juliana.

Ainda assim, a designer enxerga sinais de retorno. “Tudo indica que o clássico voltará com força total, mas em uma releitura mais leve e contemporânea”, antecipa. Lustres de cristal, mura nos e cortinas elegantes tendem a ganhar espaço, principalmente em casamentos diurnos, realiza dos em jardins e espaços abertos. “O brilho está de volta. As pessoas querem o encanto visual, mas com frescor. Não se trata de ostentação, e sim de sofisticação equilibrada.”

Essa transição reflete o momento do design contemporâneo, que busca conciliar o refinamento do passado à leveza das formas orgânicas. “O que hoje chamamos de minimalismo passou a ser conhecido como novo clássico. O verde e o branco seguem em alta, numa leitura que une o natural ao elegante”, descreve Rafael. As linhas curvas, inspiradas na arquitetura de Niemeyer, surgem em móveis e mesas, enquanto os desenhos dos lustres evocam movimento e fluidez. “A tendência é um clássico contemporâneo, orgânico e vivo, em sintonia com o nosso tempo”, define ele.

Foi assim com o aniversário de 60 anos do empresário Mauro Ladeira. “Queria uma festa bonita e elegante, mas nada muito exuberante. Conheço o trabalho da Verde Musgo há muito tempo e sabia que podia confiar. Dei carta branca”, conta. O resultado foi uma comemoração pautada pelo equilíbrio entre sutileza e sofisticação. “A decoração estava impecável: arranjos florais à mesa, composições com água e flores, detalhes aéreos discretos. Era tudo muito bonito, mas na medida certa, sem excessos.” Gestor do Espaço Bodocó, em Betim, Mauro também é parceiro comercial da Verde Musgo. “O que me encanta é o profissionalismo e a dedicação visível em cada montagem, do início ao fim. O acervo, com móveis, lustres e peças de decoração de altíssimo nível, revela a dimensão do trabalho”, destaca.

Com o aquecimento do mercado, a Verde Musgo também tem ampliado a presença no segmento corporativo. As empresas, que antes concentravam suas comemorações no fim do ano, passaram a promover encontros menores ao longo dos meses, para diferentes públicos. “As lideranças pontuam o valor emocional do encontro, seja com clientes ou colaboradores”, observa Juliana. O novo ritmo também impôs prazos mais curtos e produções intensas, exigindo agilidade extra, mas perder de vista o cuidado com os detalhes. “Nosso com promisso é garantir que o cliente seja assistido de perto, sempre pela família. Não terceirizamos o olhar.” A proximidade se reflete na autenticidade das criações e na confiança do público. “Decifrar sonhos é o que nos move. Cada evento é único, e transformar desejo em realidade continua sendo o nosso maior prazer”, conclui Juliana.”

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