Eduardo Fernandez
Vovô, o céu era mesmo azul?
Vovô, o céu era mesmo azul?
– Era, minha querida! Por vezes um azul tão intenso que dava gosto olhar para cima, ver pássaros voando e algumas nuvens branquinhas! Era lindo!
– Tinha pássaros e as nuvens eram brancas?
– Tinha, aves de diversas espécies, multicoloridas. As nuvens eram brancas, mas havia também nuvens escuras, anunciando chuva.- E chovia muito?
– No ano chovia três, quatro meses aqui em Brasília. Não era como agora, quando no Sul a chuva virou dilúvio e aqui já aconteceu mais de ano sem chover!
– Nossa, sem chuva! E os rios?
É uma história triste, a vitória do egoísmo sobre a cooperação
– Os grandes ficaram pequenos e os peque nos secaram. Sumiram!- E por que agora o céu ora é cinza ora amarelo? Tem como voltar a ser como era?
– Difícil azular novamente. Tanto petróleo e pneu queimado acinzentaram o céu, que ama rela de tanta poeira de campos, antes verdes, tornados desertos. É uma história triste, a vitória do egoísmo sobre a cooperação, da inveja sobre a generosidade, da soberba sobre o comedimento, da indecência sobre integridade: ricos querendo ficar milionários, milionários ambicionando ser bilionários, e bilionários sonhando tornarem-se trilionários!
Cientes de arriscar a vida de todos, deles inclusive, continuaram nessa corrida e iludiram as pessoas dizendo que, com mais “desenvolvimento”, todos ficariam melhor! Poucos imaginaram que, além de secas, enchentes, ciclones, guerras e mortes, o céu deixaria de ser azul e acabaria aquela boniteza! – E agora, vovô?
– Antes do vovô nascer um poeta chamado Drummond constatou a insensatez e, atualizando, disse: “E agora José, a festa acabou, a luz apagou, a noite esquentou, não veio a utopia… sozinho no escuro, você marcha, José! José, para onde?”