eduardo fernandez

Eduardo Fernandez

A força e a fraqueza das palavras

Imagem de Alexander Fox | PlaNet Fox por Pixabay

 

Quando uma autoridade – governador, magistrado, parlamentar e outras – é descoberta metendo a mão no dinheiro dos contribuintes, a imprensa costuma dizer que há suspeita de “desvio” de recursos. Claro, há que aguardar que o eventual processo “tramite em julgado”, antes de dizer que tal “otoridade” é culpada. A questão é que suspeitar de “desvio” transmite uma ideia muito mais fraca que suspeitar de “roubo”, que seria a palavra correta para descrever o ato.

E o que ocorre após a notícia do “desvio”? Primeiro, o suspeito ou seus advogados alegam tratar-se de perseguição política.

Para muitas “otoridades”, se a suspeita se trans forma em processo criminal, a instância julgadora é o STF. Lá, os magistrados podem estar em Lisboa para discutir o Brasil, em companhia de suspeitos, seus advogados e outros interessados, em cordiais e luxuosos jantares e confraternizações.

A QUESTÃO É QUE SUSPEITAR DE DESVIO TRANSMITE UMA IDEIA MUITO MAIS FRACA QUE SUSPEITAR DE ROUBO

Se os advogados do “suspeito” passam a desconfiar que a condenação é iminente, o acusado de “desvio” renuncia ao cargo e o processo cai para as instâncias inferiores, garantindo para si muitos anos mais de liberdade e gozo das benesses auferidas com o “roubo”. Se ultrapassar certa idade, ganha o benefício de nunca ir para a cadeia. Todos os anos há notícias de casos como o descrito acima, e a farra não só continua como tem se espalhado pelos estados e municípios. As razões desse descalabro, desses roubos continuados são muitas: a opacidade dos sistemas político e judicial, as regras que beneficiam os incumbentes, a fraqueza das instâncias correcionais, a cooperação de “empresários” e, ainda, a conveniência desses sistemas para as “otoridades”.

Afinal, no Brasil, a política virou maneira de enriquecer! Outra razão é a fraqueza das palavras. Roubar dinheiro dos contribuintes é bem mais forte que “desviar dinheiro público”, nesta terra onde o roubo do dinheiro dos contribuintes raramente é punido!