
Eduardo Fernandez
Leitura e política pública
A má qualidade da educação no Brasil resulta de um projeto político, dizia Darcy Ribeiro. Pesquisas recentes sugerem que ele tinha razão. Reportagem recente na The Economist relata estudos que apontam que adultos, adolescentes e crianças estão lendo cada vez menos, em muitos países, e as taxas de leitura são ainda mais baixas entre pessoas pobres. Nos EUA, a proporção de pessoas que lê por prazer caiu dois quintos em vinte anos; 40% dos ingleses não leram um livro sequer em 2024! Além disso, os textos agora são menores, com frases mais curtas e simples.
A revista analisou centenas de best sellers do New York Times e descobriu que as frases nos livros populares contraíram por quase um terço desde 1930! A questão é que ler menos torna o pensamento das pessoas mais confuso. Consequentemente, maior taxa de leitura leva à maior capacidade de analisar problemas complexos – como são os da vida atual! – e sofisticação política. Mais grave ainda, temos no Brasil elevada taxa de analfabetismo funcional e, portanto, menos leitores e menor sofisticação política.
ESTE PRIMARISMO DIFICULTA A TROCA DE IDEIAS E LEVA A DEBATES INCONCLUSOS
Este primarismo dificulta a troca de ideias e leva a debates inconclusos e por vezes sem pé nem cabeça! Induz pessoas a acreditarem no impossível: “soluções simples para problemas complexos”, e a apoiarem candidatos vazios de propostas, cheios de ambição e de pensamento também confuso. Donde a ideia de a má qualidade da educação ser um projeto político, pois possibilita que nulidades se elejam. Muitos dos nossos políticos jamais seriam eleitos caso a capacidade de leitura e compreensão dos eleitores fosse mais elevada.
Assim sendo, há muitos eleitos sem interesse em melhorar a educação, pois seria o fim de suas carreiras! E o fenômeno é mundial! Testando a dificuldade de leitura dos discursos de posse de George Washington e do Trump, a revista apontou o primarismo do último. Teria o Trump sido eleito décadas atrás?