Estilo de Vida

Como se vestir bem em 50 anos

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Klus Maison: sobrado histórico no Funcionários

FOTOS / DIVULGAÇÃO

 

Fundada e comandada por Salvador Ohana, a Klus comemora cinco décadas neste mês, em uma trajetória sublinhada pela alfaiataria sob medida e as inovações da moda masculina

 

Vestir o homem dos pés à cabeça para todas as ocasiões. Esse é o propósito ambicioso da Klus, grife de alfaiataria fundada há exatos 50 anos, em Belo Horizonte. Desde então, a marca não apenas acompanhou, mas antecipou as trans formações da moda masculina, a exemplo das emblemáticas camisas “volta ao mundo”, novidade sintética dos anos 1970, sem jamais abandonar a elegância atemporal da lã fria e do cashmere.

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Fiel à tradição da confecção própria, a Klus reúne um portfólio de mais de 20 categorias, que vão dos calçados sociais e esportivos às roupas íntimas, passando por moda esportiva, pelas peças sociais e pelos ternos – disponíveis tanto em versões prêt-à-porter quanto sob medida. Atualmente, são quatro pontos de venda, todos em Belo Horizonte: a Klus Maison, em um sobrado histórico que pertenceu à família do ex-presidente Artur Bernardes (1922-1926), no bairro Funcionários; e as unidades nos shoppings BH, DiamondMall e Del Rey.

“Até o fim do semestre, devemos inaugurar o quinto endereço, no Belvedere, seguindo o movimento coletivo de retomada das lojas de rua”, afirma Salvador Ohana, nome à frente da empresa ao longo do cinquentenário. Como se fizesse uma viagem no tempo, o empresário “desenterra” memórias quase esquecidas. Entre elas, os anos de adolescência, quando dividia o tempo entre as aulas no Colégio Estadual Central e as araras e moldes da alfaiataria do pai, no Edifício Maletta. “Ali, aos 14 anos, comecei a desenvolver um olhar próprio para o vestuário masculino”, recorda.

Para modernizar o espaço, Salvador trans formou o espaço em uma vitrine, batizada de Mark Moda Jovem. Ele mesmo pintou as pare desde laranja e construiu um balcão equipado com autofalantes, já demonstrando preocupação com a “experiência do cliente”. A alfaiataria fechou poucos anos depois, mas Salvador não quis abandonar o segmento das roupas sob medida, que começava a ganhar força em Belo Horizonte. Foi então que, aos 17 anos, em 22 de abril de 1975, ele abriu a Klus, na garagem da casa da família, no número 650 da rua Rio Grande do Norte – a poucos passos de onde hoje se encontra a Maison.

“A loja era composta por um espaço com vitrine de vidro voltada para a rua, balcão de atendi mento, mesa de corte ao fundo, duas máquinas de costura e um alfaiate, o Alencar”, recorda Salvador. Naquela época, havia poucas opções de qualidade de roupas prontas no mercado: quem quisesse algo mais elaborado precisava comprar o tecido e mandar confeccionar.

 

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No início dos anos 1980, a alfaiataria mudou essa lógica e começou a trabalhar com suas próprias fazendas. A mudança fortaleceu a relação com o público. Salvador se lembra que um dos clientes mais assíduos daquela época era uma mulher, Dona Risoleta Neves, que passou a encomendar peças sob medida para o marido senador (1979 1983) e, mais tarde, governador (1983-1984) – aliás, não causaria surpresa descobrir que Tancredo Neves tenha usado Klus em um dos comícios das Diretas. O conceito de roupas sob medida manteve força até o fim dos anos 1990, com a abertura econômica do país e a chegada das marcas internacionais prêt-à-porter.

Os novos tempos contribuíram para a evolução gradual, rumo a um modelo de butique. “Passamos a comercializar grifes internacionais, como jeans Levi’s, polos Lacoste, camisas Yves Saint Laurent e gravatas Pierre Cardin”, enumera Salvador, que hoje representa as brands italianas Emporio Armani e Armani Exchange em Belo Horizonte.

Foi nesse contexto que vieram as inaugurações das unidades nos bairros de Lourdes, em 1991; da Savassi, em 1996; e no antigo Central Shopping, em 1997. No ano seguinte, Salvador apostou alto no BH Shopping, na expansão do terceiro piso. “Foi a operação mais ousada da nossa história. Estar naquele mix de lojas era como receber um alvará de marca bem-sucedida, ser membro de um clube selecionado”, pontua.

Além dos clientes de BH, o novo ponto atraiu público de cidades como Conselheiro La faiete e Juiz de Fora, pelo fácil acesso à BR-356. Em 2012, a Klus atingiu seu auge em termos de presença física, com 13 pontos de venda distribuídos entre a capital, como o Pátio Savassi e o Boulevard Shopping, e o interior de Minas, nas cidades de Nova Lima, Contagem, Sete Lagoas e Juiz de Fora. O período marcou a consolidação como símbolo de moda masculina no estado, combinando a tradição da alfaia taria com a agilidade do varejo multimarcas.

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Dois tempos da empresa: a loja, em 1991, e a Maison, em 1989

Após anos de crescimento acelerado, a queda abrupta no consumo, provocada pela crise econômica de 2015 e 2016, conduziu a novos rumos. “Foi uma época em que o brasileiro perdeu o poder de compra. Lojas que chegavam a vender 900 peças por mês passaram a registrar cerca de 200”, lembra Salvador Ohana. Diante desse cenário, a empresa adotou uma estratégia reversa: iniciou o fechamento gradual das unidades que já não se mostravam viáveis economicamente, preservando a saúde financeira do negócio e preparando o terreno para uma nova fase: voltar a ser uma butique, investindo na excelência do atendimento personalizado, conjugado a produtos de primeira linha.

Atuante desde 2012, o diretor comercial Rafael Ohana, filho de Salvador, tem investido fortemente no mundo digital. A estratégia de multicanais de venda integra um modelo hí brido: e-commerce, mídias sociais e lojas físicas. “Embora o faturamento digital represente somente 5% da receita total, estudos de impacto demonstram a eficácia do on-line em nossas unidades. Muitos consumidores chegam influenciados pelo conteúdo do Instagram por exemplo, evidenciando que o universo virtual exerce papel decisivo na decisão de compra.

Além disso, o sistema permite que o cliente adquira o produto no site e retire-o no ponto de venda mais próximo, beneficiando-se da prova de tamanho e do toque pessoal que compõe o nosso DNA”, explica o jovem empresário, de 36 anos. Esse “toque” de Midas ganhará nova dimensão com inauguração no Belvedere, no street mall Avenue.

De portas abertas para a rua, o espaço foi projetado para oferecer uma experiência exclusiva. “O cliente poderá saborear um capuccino ou um uísque em um ambiente cuidadosamente preparado, enquanto espera por ajustes em seu blazer”, exemplifica Rafael. “Nossa expectativa é que este seja o novo ponto de referência para clientes que procuram o melhor da moda masculina.” Atualmente, esse posto é comandado pela Maison, que responde pela maior fatia do faturamento do grupo: em torno de 30% a 35%. Ao olhar para o futuro, Salvador e Rafael Ohana revelam que sonham em expandir para fora de Minas Gerais, com foco em pontos estratégicos como São Paulo, Brasília e… Cuiabá.

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“É uma cidade que cresce muito e tem futuro no segmento”, avalia o visionário Salvador. Pai e filho também reafirmam a necessidade de acompanhar a evolução do mercado, sem jamais renunciar aos valores: atendimento diferenciado e o relacionamento próximo com os clientes. Vêm daí o novo slogan – “Sinta-se Klus” –, espécie de retrofit do mote usado por muitos anos – “Sinta-se elegante, sinta-se Klus”. “Em um cenário onde as mídias sociais, por vezes, afastam as pessoas dos encontros genuínos, queremos passar confiança e ser o elo que aproxima os consumidores por meio da elegância e do cuidado em cada detalhe”, finaliza Rafael.

DA POLÍTICA AOS NEGÓCIOS

A Klus tem reputação consolidada entre figuras ilustres da política e da vida pública mineira. A grife vestiu a maioria dos governadores do estado, de Francelino Pereira (1979-1983) a Romeu Zema; e dos prefeitos de Belo Horizonte, de Célio de Castro (1997-2001) a Fuad Noman (2022-2025), além de nomes do Judiciário, como Carlos Mário da Silva Velloso, ex-ministro e ex-presidente do STF (1990-2006).

A Klus é, sem dúvida, a loja de vestuário masculino mais importante de Minas. Salvador Ohana é sempre elegante e nos orienta com muito bom gosto”, afirma o ex-governador Antonio Anastasia, cliente assíduo e amigo da família Ohana. No empresariado, Klus também é sinônimo de confiança. Modesto Araujo, presidente da Drogaria Araujo – que completa 120 anos em 2026 –, destaca a qualidade das peças e o atendimento personalizado.

Eles sabem de cor o número que visto e calço, fazem os ajustes e enviam tudo para a minha casa. É uma loja que sempre inova, mas sem perder a excelência”, detalha Modesto. A Drogaria Araujo, por sua vez, é atendida pela Dash Uniformes, comandada por Marcela Ohana, filha de Salvador, reforçando os laços entre duas empresas tradicionais de Minas. Referência no setor imobiliário, Benito Porcaro é cliente há 15 anos.

Ele descreve sua relação com a marca como mais do que uma escolha de vestuário: “É uma experiência. O Salvador tem um dom raro: o de vestir seu cliente com o cuidado de um pai preparando o filho para momentos importantes. Sempre me sinto acolhido ali.” Na geração de clientes mais jovens, o empresário Ilan Kuperman, à frente da construtora Orkhestra e da rede de hotéis Royal, afirma que a Klus o acompanha em diferentes momentos da vida, inclusive no casamento. “Sempre digo ao Rafael Ohana que prefiro poucas lojas de confiança.

Gosto do atendimento exclusivo, da cordialidade e da qualidade das roupas.” Já para Vinicius Oliveira, CEO da Totall Marcas e Patentes, a Klus se equilibra perfeitamente entre tradição e inovação. “É uma empresa cinquentenária, mas com olhar sempre atual, que entende a moda no Brasil e no mundo”, diz. Ele observa ainda o retorno da preocupação masculina com a imagem no pós-pandemia. “Depois do home office, voltamos ao trabalho presencial, às reuniões. E a Klus está ali, ajudando o homem moderno a se vestir com elegância e confiança.

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