Rodrigo Farnetano: “Quanto mais idosa for a pessoa, mais chance de ter a doença”
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Coordenador da área de infectologia da Rede Mater Dei de Saúde, Rodrigo Farnetano Rocha, fala sobre a explosão de casos de herpes-zóster
Uma pesquisa feita pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) apontou um crescimento de 35,4% dos casos de herpes-zóster durante a pandemia. O problema é que os casos seguem em alta. A doença é causada pelo vírus varicela-zóster, o vírus da catapora que permanece nos gânglios nervosos, em estado de latência clínica para o resto da vida e pode voltar à ativa a qualquer momento. A questão hoje é como enfrentar esse desafio, principalmente, como prevenir para não sofrer algumas das piores dores que só podem relatar aqueles que passaram por ela.
A pergunta é: por que justo na pandemia a explosão de casos e o que fez despertar o vírus da catapora de seu sono profundo, ali adormecido no organismo?
O médico que coordena a área de infectologia da Rede Mater Dei de Saúde, Rodrigo Farnetano Rocha, explica que o gatilho mais comum nos casos do diagnóstico de herpes-zóster é o estresse. “Seja ele emocional, mental ou físico, é capaz de desencadear uma reativação do vírus da catapora. E, durante a pandemia, verificou-se um estresse maior na população devido as circunstâncias, as limitações. Mas, vale dizer, o aumento de casos também pode ser constatado anteriormente à Covid-19, já que estamos vivendo uma piora na qualidade de vida desde as últimas décadas”, observou o especialista.
Segundo Rodrigo Farnetano, o Herpes-Zóster é mais comum de ocorrer em pessoas acima de 50 anos, para os quais a vacinação é bastante indicada, especialmente pacientes imunossuprimidos. Normalmente, a doença se revela da forma mais dura, através de lesões doloridas na pele do tronco e rosto, com coceiras, ardência, sensação de queimação.
O zóster evolui para uma cura instantânea de uma a três semanas, de acordo com o especialista. Mas, o problema é outro. “O foco central do tratamento do zóster é a neuralgia pós-herpética (NPH), que se trata da sequela, a complicação mais comum é a dor, o desconforto intenso que pode durar anos ou o resto da vida, a ponto de enlouquecer alguns pacientes”, essa é a maior preocupação, a da prevenção da neuralgia, conforme explicou Rodrigo Farnetano. “Quanto mais idosa for a pessoa, maior a chance de ter a doença”, acrescenta. E, por esta razão, é importante iniciar, o quanto antes, o tratamento precoce, o tratamento antiviral.
A vacina para a prevenção do herpes-zóster oferece cobertura protetiva acima de 80%, segundo Farnetano, e deve ser administrada em duas doses com intervalo de dois meses. Cada dose custa em torno de R$ 800 a R$ 900 na rede particular e não está disponível pelo SUS, o que, infelizmente, impossibilita o acesso da maioria à vacinação. O coordenador de infectologia do Mater Dei também chama a atenção para outros vírus, os respiratórios que andam circulando e provocando o aumento dos casos de síndrome gripal. Nesse caso, as vacinas contra influenza, felizmente, estão disponíveis gratuitamente pelo SUS, devendo começar a distribuição e aplicação das doses mais cedo este ano, ainda neste mês de março, enquanto em anos anteriores a imunização começava em abril ou maio. Farnetano alerta para a necessidade de manter as vacinas contra a gripe em dia. “Bem como é fundamental manter a vacinação contra a Covid, também em dia, por que reduz a chance de morte em 95%. As pessoas precisam ter essa consciência”, alerta.
Para casos leves e moderados de Covid, há medicamentos antivirais distribuídos pelo SUS que visam reduzir o risco de internação e complicações, independentemente do status vacinal, disponíveis conforme critérios de enquadramento pela idade, pessoas acima de 65 anos, ou imunocomprometidos com mais de 18 anos.
O infectologista também demonstra preocupação em relação a epidemia do momento, a de dengue, que atinge índices assustadores. Nestes primeiros meses do ano, ultrapassa 1,5 milhão casos, sendo que Minas responde por um terço deles em todo o território nacional. “Os sorotipos mais comuns no Brasil são 1 e 2, que representam 95% dos casos no país, sendo os de tipo 3 e 4 menos de 5% dos registros”, relata Rodrigo Farnetano.
No último dia 11 de março, o Boletim Epidemiológico de Monitoramento da incidência de Dengue, Chikungunya e Zika, divulgado semanalmente no site da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG) apontou 524.830 casos prováveis de dengue (os notificados, excetos os descartados), 66 óbitos confirmados e 308 em investigação. “Só para se ter uma ideia, comparando com os dados de 2016, que foi um ano crítico, Minas registrou cerca de 521 mil casos de dengue de janeiro a dezembro daquele ano. Nestes quase três meses de 2024 ultrapassamos essa marca”, aponta Farnetano.
Em relação à chikungunya, segundo o boletim da SES-MG, foram registrados 50.115 casos prováveis, dos quais 31.563 já estão confirmados.
“Chamo a atenção para a constatação das pesquisas que indicam que os focos do mosquito transmissor aedes aegypti estão predominantemente em ambiente domiciliar“
E, até o momento, 20 óbitos pela doença foram confirmados, outros 20 estão em investigação. Quanto à zika, são 98 casos prováveis, sendo sete já confirmados.
O especialista em infectologia da Rede Mater Dei de Saúde lembra que a mudança climática tem contribuído e muito para o aumento de casos, com o calor excessivo e as chuvas intensas. “Mas, também chamo a atenção para a constatação das pesquisas que indicam que os focos do mosquito transmissor Aedes aegypti estão predominante[1]mente em ambiente domiciliar, em torno de 60% dos focos”, alerta.
E, embora já tenha sido muito falado em campanhas de esclarecimento, é bom reforçar os cuidados com a eliminação de água parada dentro de casa, esvaziar os suportes de vasos de plantas e usar água sanitária nas tampas dos ralos, onde podem ter larvas se desenvolvendo, bem como utilizar repelentes. É importante levar os filhos para vacinar gratuitamente contra a dengue nos postos de saúde.