Comportamento

E ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE…

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Num primeiro tempo, nossos GPS apontavam para uma direção definida por normas de conduta que norteavam nossas vidas e organizavam nossas subjetividades, estabelecendo hierarquias que facilitavam a identificação e o lugar de cada um na sociedade. Hoje, uma outra configuração aponta para uma rede – uma estrutura diversificada – que oferece outros perfis ou infinitas versões de si.

Isso configura uma certa rebelião contra as convenções que asseguravam uma rotina social aparentemente mais confortável. Essa zona de conforto não significa que “éramos felizes e não sabíamos” – ou que sabíamos, mas talvez fosse mais cômodo. Ora! O desejo é perturbador. O surgimento do desejo acaba por ser algo a ser evitado, reprimido, elidido, abafado. Enfim, sabemos que a sociedade se organiza graças à repressão que mantém os desejos contidos. Freud, entretanto, abriu as portas do Aqueronte e, desde então, não há como manter a civilização ocidental apartada do desejo. Em vez do pai da hierarquia – a rede. Diversidades que vão muito além dos 50 tons de nuanças que compõem as fantasias que povoam o mercado.

SABER DO PRÓPRIO DESEJO NOS PERMITE ESTAR NA REDE SEM CAIR NELA

Se Freud foi um dos que abriu as portas para o desejo e trouxe um aparente caos à civilização, ele também indicou um ponto de ancoragem para o ser de cada um e um operador capaz de nos reunir não apenas com aqueles que se identificam com o mesmo traço do Ideal do Eu mas também com o que faz causa de desejo em comum.

15 nos permite estar na rede sem cair nela, lidar e usufruir do que ela oferece sem nos alienarmos nem embrutecermos. Afinal, o desejo é liberdade de escolher e de ser. Ou ainda, como diz Clarice Lispector: “Liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome”. Talvez por isso a humanidade não tenha parado no tempo, ainda caminha. E então vem o poeta Antonio Machado e diz: “Caminhante, não há caminho: o caminho se faz ao caminhar”.

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