Comportamento

Memórias traumáticas

vb ed280 julho 24 o real e o que desperta

Image by ErikaWittlieb from Pixabay

 

Nem todo mundo passa por isso, mas quem já viveu momentos de horror sabe que esse tipo de memória tem uma qualidade bem diferente da usual. A cena continua sendo lembrada repetidas vezes e com impressionante precisão e nitidez. Sua recordação pode ser reativada por qualquer coisa relacionada ao ocorrido: cheiros, lugares, cores, ruídos.

Essas lembranças parecem não se diluir com o passar do tempo, e quem as tem gostaria de apagá -las para sempre para que o ocorrido não volte a ser reeditado, causando muito sofrimento. Infelizmente, memórias traumáticas são processadas e codificadas em nosso cérebro de um modo diferenciado. A explicação para isso é o condicionamento do medo.

O medo é um importante e necessário mecanismo de sobrevivência. Os riscos que corremos ficam gravados em nós como sinais de alerta a despertar a reação ao perigo, com suas várias e características mudanças físicas, sendo as mais comuns a aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração e o empalidecimento, indicando que os músculos estão de prontidão para exercer alguma ação necessária.

QUEM VIVEU UM GRANDE HORROR TORNA-SE MAIS VULNERÁVEL A ENFRENTAR OUTRA SITUAÇÃO DIFÍCIL

É a conhecida reação de luta ou fuga – o que for melhor para nos salvar de um perigo iminente. Os eventos traumáticos, tão facilmente reativados por novos estímulos associados à cena original, imediatamente acionam a resposta automática de medo sem que haja qualquer perigo real evidente, causando tremendo desconforto e insegurança.

Quem viveu diretamente um grande horror – o holocausto, a guerra, atentado terrorista, grave acidente, irreparáveis perdas, assalto, estupro, violência doméstica – a lista é grande – torna-se mais vulnerável quando tem de enfrentar alguma outra situação difícil, pois se a situação traumática for relembrada potencializará uma reação desproporcional ao acontecimento atual.

Para evitar a ameaça de voltar a sofrer, as vítimas costumam fechar-se e afastar-se de tudo e de todos, já que tantos estímulos podem desencadear a reação emocional e corporal maciça provocada pela reedição da situação traumática.

Elas se sentem oprimidas pelas circunstâncias, preferindo se proteger no isolamento. A psicoterapia representa uma ótima possibilidade de livrar essas pessoas dos grilhões que as mantêm aprisionadas ao trauma, sofrendo tanto pela repetição como pela evitação do desencadeamento de outra crise emocional.

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