Comportamento

Mais jovens na fé

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Ana Bretas (seg. da esq. para dir.) com as amigas da célula: “O jovem hoje vive com medo do novo”

 

Em busca de acolhimento espiritual, cresce a procura por participação em grupos ligados a igrejas

 

A religião é para muitos, uma inspiração para a solução dos conflitos existenciais, o bálsamo, o encontro com o divino. Na idade mais tenra, as dúvidas sobre o futuro são comuns, o que leva a uma busca, ainda maior, pelo acolhimento espiritual. Assim surgem os grupos de jovens, cada vez mais presentes em templos de religiões católicas, pentecostais e neopentecostais, centros do espiritismo e religiões afro. Um recorte do Censo Demográfico de 2022, realizado pelo IBGE, aponta uma maior predominância de jovens e mulheres nos grupos religiosos que mais cresceram na população entre 2010 e 2022, saltando de 21,6% para 26,9%, que são os de evangélicos.

A pesquisa indica pessoas a partir de dez anos de idade. Segundo o levantamento, dos 10 aos 14 anos, há uma predominância no crescimento. Nesta faixa etária, 31,6% se declararam evangélicos, em 2022. Trata-se de um grupo que tem sido bastante atraído para os cultos de adoração e discussões por temas através de células com temas diversos divididos, só masculino, só feminino, além de somente para casais.

Em contrapartida ao crescimento de evangélicos no país, onde um em cada quatro brasileiros se declarou adepto, o número de católicos chegou ao seu menor patamar histórico no Brasil, mas ainda se mantém maioria de acordo com o censo de 2022, com 56,7% da população, o que deverá exigir um enorme empenho do papa Leão 14 para reunir seu rebanho e buscar novas gerações de adeptos.

O jovem estudante do 6º período de direito da UFMG, Henrique Viegas Cardoso de Barros, 22 anos, é parte da população de católicos jovens que se reúnem semanalmente em grupos para debater questões inerentes à juventude e orar. Ele conta que cresceu em lar cristão e foi coroinha dos oito aos 19 anos. Hoje, ele participa do Movimento Jovens com Cristo (MJC), que atua em bairros.

 

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No caso dele, no bairro Santa Inês, e as reuniões se concentram na estrutura da igreja de Nossa Senhora de Nazareth. São cinco membros reunidos a cada semana. “Além dos semanais, fazemos um encontro de confraternização todos os anos. São três dias de imersão. É um encontro de jovens com Cristo. São cerca de 500 participantes, onde buscamos adesões”, descreve. Viegas também participa de atividades da Pastoral. No grupo do MJC, a idade mínima é de 18 anos.

Quando os membros ultrapassam uma certa idade, viram “tios” do Movimento, segundo ele. “Nos tornamos uma grande família”, acrescenta. O estudante entende que a igreja católica tem grandes polêmicas. “Deus, para mim, não é aquele que castiga ou pune. A fé pode ser remédio para muitas coisas. O papa Francisco trouxe vida para a igreja, por ser mais progressista. Tentou trazer as minorias, dar acolhimento. O novo papa vem com a missão de agregar, equilibrar”, acredita. Viegas teme pelo viés político de algumas religiões. “Há uma certa polissemia do proselitismo no crescimento de algumas religiões.

Acho isso preocupante”, destaca. A fé do jovem ganhou força quando dois familiares próximos tiveram a remissão de seus cânceres, que eram muito agressivos. “Minha fé é enorme em Nossa Senhora. Minha gratidão é eterna pela cura de ambos. Sem fé, a vida fica muito mais difícil”, observa. Quem concorda com Viegas é a estudante do 6º período de jornalismo da UNA, Ana Luíza

Carvalho Bretas, 20 anos. Ela cresceu em uma família cuja matriarca, a avó, é evangélica há 50 anos, e acabou levando todos para o templo. Ana participa de uma célula que reúne garotas de 17 a 22 anos.

 

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Os encontros são em sua casa. Assim como Viegas, Ana acredita que a fé é o motor de tudo e, portanto, necessária. “O jovem hoje vive uma vida mundana, com medo do novo. As perspectivas futuras, como a economia, mudanças climáticas e o receio de que a minha geração não vai se aposentar, são questões que exigem a construção da fé, seu fortalecimento e a confiança em dias melhores. Para isso, é preciso trabalhar o presente”, aponta. Ana procura viver harmoniosamente com o namorado católico, Cauã Davi Gonzaga, 22 anos, que trabalha como controlador de acesso. “Conversamos muito sobre isso, inclusive com a minha sogra. Somos cristãos.

É possível aceitar e respeitar a religião do outro e viver em harmonia”, ressalta a estudante, participante do Encontro de Jovens com Cristo (EJC), da igreja Batista de Nova Esperança. Já, a jovem estudante do 9º período de odontologia, Camila Fontes, 22 anos, evangélica, assim como Ana Bretas, tem um namorado católico, mas acredita que é preciso alinhar as crenças para construir uma família no futuro.

“Estamos tentando buscar um alinhamento. Eu estou frequentando a igreja dele e ele vem frequentando a minha. O problema é que estamos discordando em alguns pontos”, lamenta. Camila foi líder de célula aos 15 anos. Entre os 16 e 17 anos, enquanto namorava um estrangeiro, se afastou um pouco dos cultos e células, mas sem deixar de se declarar cristã. Quando terminou o namoro de quatro anos, em 2023, diz ter se convertido de fato ao Evangelho. “Quando comecei um novo namoro, no ano passado, começaram as desavenças, porque ele é católico.

Como pensamos em nos casar, isso fez com que eu me aproximasse mais de Deus, por isso um frequenta a igreja do outro, pensando em chegar a um acordo na hora de lidar com a vida de casados, com filhos. Se houver divergência de pensamento, nem eu, nem ele vamos aceitar”, pontua a jovem, frequentadora da igreja Batista Central. Vale dizer que, além das leituras bíblicas, no meio social e cultural também se dá a experiência religiosa entre os jovens, através da música Gospel, passeios, viagens e acampamentos.

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