As recentes declarações da Casa Branca, ameaçando até mesmo o uso do poder militar americano na defesa da liberdade de expressão no Brasil, são uma demonstração inequívoca da decadência da mais antiga democracia do mundo moderno. Todo império vive seu apogeu e queda, embora estas já não sejam tão dramáticas quanto no passado. Mas os sinais da queda são evidentes.
Desde 1960 que sua economia perde espaço gradualmente como percentual no PIB mundial. Pelo poder de paridade de compra, o PIB chinês já é o maior do mundo e o PIB nominal dos Brics já supera o americano. Enquanto isso, pela primeira vez, a expectativa de vida da população daquele país diminuiu em relação ao passado e a opção por se manter como única grande economia ocidental sem um sistema universal de saúde certamente não irá contribuir para melhoria dessas estatísticas.
O livre acesso às armas se transformou em um culto sem qualquer lógica, onde até mesmo medidas óbvias como checar a saúde mental dos compradores são rejeitadas. Um país que permite a alguém comprar uma arma de guerra aos 18, mas proíbe essa mesma pessoa de beber até os 21 está vivendo em uma sociedade hipócrita. Na economia, o modelo mais pujante na criação de riqueza da história recente, parece caminhar de volta aos privilégios da era dos “Robber Barons” com uma constante concentração de poderes e riqueza nas mãos de poucas empresas.
TODO IMPÉRIO VIVE SEU APOGEU E QUEDA, EMBORA ESTAS JÁ NÃO SEJAM TÃO DRAMÁTICAS
Mas a maior queda é, sem dúvida, moral. Com todas as suas falhas, os EUA foram por muito tempo um exemplo de democracia em permanente aperfeiçoamento. Acabaram com a escravidão ao custo de uma guerra civil brutal, combateram o racismo posterior (ainda uma chaga de enormes dimensões), os excessos dos monopólios empresariais, os golpes de estado patrocinados ao longo do mundo e os desvios políticos como Watergate.
Seus pecados eram discutidos publicamente e propostas de soluções surgiam do debate intenso e público. Nenhum país se mostrava mais transparente em expor suas mazelas. Quando nada, havia ao menos a pregação constante dos valores democráticos. Com Donald Trump parece ter restado tão somente a arrogância e a indiferença com o resto do mundo. Seu sistema de pesos e contrapesos se mostra insuficiente para conter Trump em seus caprichos, arroubos e medidas tomadas no calor do momento. Tem todas as chances de dar errado.