foto: Divulgação
Realidade ou experimentação?
De acordo com o dicionário o verbo regenerar significa gerar ou produzir novamente, formar(-se) de novo ou ainda dar nova vida e revivificar. As palavras, já traduzem muita esperança porque carrega a possibilidade de renovar a vida. E no seu leque enorme de atuação é isso que a medicina busca: conhecimentos e tratamentos para curar e aperfeiçoar. Mas para uma nova área que surge no horizonte, a Medicina Regenerativa, com inovação, pesquisas, tratamentos e resultados de última ponta as possibilidades das novas práticas se mostram impensáveis e verdadeiros avanços da medicina. Para o médico Ortopedista e Traumatologista, do Instituto Regenius, em Belo Horizonte (MG), Otávio Melo, a Medicina Regenerativa (MR) se propõe a representar uma mudança de paradigma, uma vez que visa a reparar, regenerar ou substituir células, órgãos e tecidos lesados, utilizando princípios enraizados no conhecimento básico sobre a biologia das células-tronco, estudo de biomateriais e engenharia de órgãos e tecidos. “Nossos objetivos e os principais benefícios são os de possibilitar tratamentos mais naturais, respeitando mecanismos de reparação pelo próprio corpo, sem a necessidade da dependência de medicamentos de uso contínuo ou de cirurgias para a substituição de órgãos e tecidos comprometidos”, garante o médico Ortopedista e Traumatologista. “Entre as diversas formas de tratamento com as quais atuamos, podemos ressaltar as seguintes: ondas magnéticas, ondas de choque focais, laser de alta intensidade, terapias injetáveis, modulação e otimização metabólica, suplementação, e infiltrações guiadas por ultrassom”, disse. De acordo com Otávio Melo, o procedimento mais realizado atualmente são as infiltrações articulares guiadas por ultrassom. “No protocolo Visco-Regen podemos utilizar diversas substâncias como nutracêuticos, vitaminas, minerais, fitoterápicos, ácido hialurônico e alguns fatores de crescimento com o objetivo de criar um ambiente adequado para a regeneração das células”, observa. Segundo ele, os procedimentos normalmente são realizados em clínica e sob anestesia local, assim evitando a necessidade de técnicas mais invasivas, como incisões e internações hospitalares.
Por outro lado, “atualmente, ainda não é uma técnica que possa ser aplicada no Brasil”, afirma o médico Ortopedista e Cirurgião de coluna vertebral, diretor do Núcleo de Ortopedia e Traumatologia (NOT), Daniel Oliveira. “No Brasil, a Medicina Regenerativa trata-se de uma disciplina ainda experimental, segundo os critérios de avaliação do Conselho Federal de Medicina (CFM). “Diversas práticas da medicina regenerativa não podem ser aplicadas por aqui, pelo menos até o momento. Pode ser considerado um campo promissor, ainda em fase de evolução incipiente, baseado na biologia das células tronco, engenharia de órgãos e tecidos e estudos biomateriais visando reparação, regeneração ou substituição de células, órgãos e tecidos lesionados, danificados por doença ou desgastados pelo tempo”, afirma. O médico admite que a MR é de suma importância nos tempos atuais. “Nós estamos vivendo mais e o corpo tem sido mais exigido, doenças também têm aparecido com mais frequência em pessoas mais jovens. Temos como exemplo os diversos tipos de câncer, doenças neurológicas degenerativas, diabetes, além das crônicas. Nesse contexto, os esforços da medicina em compreender e propor soluções são válidos e abrem a possibilidade de surgimento de novas hipóteses para resolver questões essenciais para a longevidade e saúde”, evidenciou Daniel Oliveira. Segundo ele, no entanto, tudo precisa ser minuciosamente estudado com cautela e segurança. “E ainda há muito a ser elucidado no universo desse conhecimento médico, porém, como característica de qualquer tipo de inovação, é válido que seja considerado e debatido pela comunidade médica e órgãos reguladores da saúde e da medicina”, enfatizou. Para ele, no caso da MR, ainda existem inúmeros desafios a serem superados e muitas questões que precisam de investigação, com o objetivo de identificar e aprimorar novas abordagens, além da eficácia e segurança dos tratamentos.
Resultados animadores
No entanto o médico Otávio Melo, garante que a prática no Brasil, não está apenas no nível experimental. “De acordo com as normas sanitárias vigentes no país, a prática da Medicina Regenerativa já é uma realidade, pois é regulamentada pela Associação Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Sendo assim, o seu uso é permitido. Porém alguns conselhos profissionais ainda restringem essa modalidade apenas para instituições cadastradas como Centros de Ensino e Pesquisa, como é o caso do Instituto Regenius”, ressalta Otávio Melo. De acordo com ele, o tratamento já é realizado por alguns profissionais pioneiros há vários anos. “E os resultados são animadores, e permitem – de acordo com os trabalhos publicados – acelerar a recuperação de diversos tipos de lesões. Com isso, o retorno às atividades é acelerado, evita-se a necessidade de repouso prolongado, e até mesmo a realização de várias cirurgias desnecessárias”, exalta o médico. Mas ele lembra que, alguns Conselhos profissionais exigem que os protocolos de tratamento sejam submetidos a Comitês de Ética em Pesquisa.
Sobre os tratamentos realizados no Brasil, Otávio Melo garante que os principais já estão regulamentados, e há inclusive produtos disponíveis no mercado, registrados nos órgãos de Vigilância Sanitária para a extração e processamento de células que possuem capacidade regenerativa. “Mas existem algumas entidades e empresas que se dedicam ao desenvolvimento de tratamentos cada vez mais seguros e eficazes. Diversas pesquisas estão sendo publicadas comprovando a importância desse método. Acreditamos que as autoridades reconhecem a importância dessa modalidade e em breve ampliarão o seu acesso à população”, acredita. Já Daniel Oliveira são necessários acredita ser necessário ainda muita pesquisa, debate, além de investimento financeiro em pesquisas e estudos na área para que os benefícios propostos sejam amplamente testados e avaliados com segurança, participação, avaliação e monitoramento por parte dos órgãos reguladores e Conselho Federal de Medicina. “Parcerias e colaboração entre instituições de pesquisas, profissionais e órgãos reguladores; além da educação e conhecimento acerca do tema, incluindo classe médica, profissionais da saúde em geral e demais players envolvidos no universo da promoção da saúde. No caso da MR, ainda existem inúmeros desafios a serem superados e muitas questões que precisam de investigação, com o objetivo de identificar e aprimorar novas abordagens, além da eficácia e segurança dos tratamentos”, defende.
Oftalmologia e estética
Otávio Melo lembra que apesar de casos muito conhecidos de atletas e celebridades que utilizaram a medicina regenerativa para lesões ortopédicas agudas, dando a impressão que ela se aplica mais à ortopedia, ela vai muito além e são inúmeros, atualmente os tipos de tratamentos regenerativos em pesquisa e desenvolvimento, entre os quais podemos ressaltar: na oftalmologia, para recuperação de lesões da córnea com plasma rico em plaquetas; na dermatologia e estética para tratamentos de lesões na pele; na cirurgia plástica, onde são realizados procedimentos para preenchimentos e melhoria do contorno corporal; na neurologia como por exemplo nos tratamentos de pessoas com lesões da medula e nervos periféricos. “Há ainda pesquisas avançadas também com uso de células-tronco para recuperação de tecido cardiológico em infartados; tratamentos do pâncreas em diabéticos; e até mesmo para alguns tipos de tumores, como por exemplo o uso de exossomos (que são vesículas produzidas pelas células-tronco)”, completa o médico.
Sobre o futuro da medicina regenerativa, Otávio Melo frisa que não se trata de uma especialidade, “mas sim uma abordagem transdisciplinar, que permite a profissionais de todas as áreas de atuação uma possibilidade para tratar doenças crônicas e degenerativas para as quais até pouco tempo não havia recursos além do uso contínuo de medicamentos, com diversos efeitos colaterais graves”, conclui. Otávio Melo informa que o Regenius possui uma equipe multiprofissional que se dedica à pesquisa e desenvolvimento de terapias regenerativas desde o ano de 2018. Em países da América do Norte e Europa a prática da Medicina Regenerativa é liberada para uso em clínicas desde que atendendo a determinadas exigências.
A revista solicitou um posicionamento do Conselho Regional de Medicina (CRM), sobre a prática da Medicina Regenerativa no país, mas até o fechamento desta edição ninguém se manifestou.