Saúde

Menos invasivas

edt 273 out  capa menos invasivas

Fotos:Divulgação

 

Cirurgia robótica tem vantagens para o paciente, como recuperação mais rápida, mas ainda esbarra no alto custo

 

           A cirurgia robótica está entre as grandes apostas de inovação tecnológica na medicina. Mas, precisa receber mais investimentos para chegar a mais hospitais. Embora seja uma realidade há mais de uma década, a presença dos robôs nos blocos cirúrgicos ainda é ínfima não só no Brasil, mas em todo o mundo. A tecnologia é vantajosa em todos os aspectos, como menor tempo de internação, maior precisão e segurança, cortes menores e menos sangramento, permitindo uma recuperação mais célere. Há, porém, um descompasso entre o avanço da tecnologia robótica e o conhecimento tecnológico acerca do tema nas escolas de medicina.

          “Estamos na quarta geração de robôs e as universidades ainda não têm como treinar seus alunos para o procedimento porque não há equipamento nas escolas e nos hospitais públicos, exceto alguns poucos como o Inca e um hospital público de Barretos. Mas isso não acontece só em nosso país. Todo o processo é bastante oneroso. Os robôs chegaram no Brasil em 2008, os dois primeiros em São Paulo, nos hospitais Albert Einsten e Sírio Libanês.

          Depois foi o terceiro para o Hospital 9 de Julho e o quarto para o Hospital das Américas, no Rio de Janeiro. Hoje, 15 anos depois, são só 110 robôs no Brasil para os milhares de hospitais espalhados pelo país”, lamenta o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Minimamente Invasiva e Robótica (Sobracil), o cirurgião- -geral Carlos Eduardo Domene.

edt 273 out  1 menos invasivas
Carlos Eduardo Domene: universidades ainda não têm como treinar alunos

           De acordo com o especialista, que fez cirurgias demonstrativas com robôs em hospitais do Pará até o Rio Grande do Sul ensinando colegas e tendo operado também no Mater Dei e no Vila da Serra com o mesmo objetivo, o sucesso da cirurgia robótica depende de um bom treinamento de toda a equipe, não só do cirurgião, mas do anestesista, do instrumentador e enfermeiros. “Eu precisei fazer o treinamento nos Estados Unidos em 2008, antes mesmo dos primeiros robôs desembarcarem no Brasil. É preciso operar em um simulador e assistir vá[1]rias cirurgias. Na Sobracil, estamos promovendo cursos para o médico na residência. Alguns também vão treinar fora do Brasil”, informa.

          A operação assistida por robôs tem alta tecnologia que permite que as manobras conduzidas pelo cirurgião através de joysticks sejam precisas. O médico utiliza um monitor de alta definição HD 3D, o que garante a visualização tridimensional do órgão a receber a intervenção, sendo possível a realidade aumentada em até 15 vezes. “A cirurgia robótica é uma tendência inexorável porque pode abranger diversos tipos de procedimentos cirúrgicos, como câncer, próstata, tórax, cabeça e pescoço, aparelho digestivo, endométrio e outros.

          A incisão menor e menos sangramento ajudam o paciente a se recuperar mais rapidamente, sendo possível obter alta em um prazo mais curto. O robô é uma grande ferramenta, perfeita para receber softwares e trabalhar naquilo que você precisa”, elogia o médico.

          A implementação do 5G tende a aumentar ainda mais as possibilidades da cirurgia robótica, podendo ser realizada remotamente. O tempo de resposta da ação do cirurgião até o robô fazer o movimento será abaixo de 10 milissegundos. Essa perspectiva da telecirurgia traz outras possibilidades para a nanotecnologia, a inteligência artificial e o feedback háptico (relativo ao tato), que permite ao cirurgião sentir a textura e a resistência dos materiais, mesmo à distância.

          Domene conta que os chineses fizeram cirurgias com o 5G e que foi um sucesso. Por enquanto, não é possível fazer operação com o robô remotamente no Brasil. “Nem contar com a inteligência artificial, ao menos por enquanto. O que é preciso deixar claro é que a cirurgia robótica ainda é elitizada pelo alto custo que apresenta. A manutenção dos equipamentos tem que ser constante, afora o custo do robô, de U$ 2 milhões a U$ 3 milhões. E o cliente tem despesa complementar mesmo tendo plano de saúde”, adverte o cirurgião-geral.

         O médico lamenta que no Brasil a sociedade civil não se mobilize para investir nas questões de saúde, para estender os benefícios à população. “Infelizmente falta essa cultura de pertencimento da comunidade no Brasil. O benefício da robótica é evidente”, critica.

Compartilhe