Política

O eleitor, esse ingrato, cansou?

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Reprodução\Internet

 

Num país cansado de farsas, não se constrói mais um candidato com slogans e cenografia. A crise não é de nomes, é de conteúdo. O Brasil não carece de candidatos, mas de rumo. O marketing, outrora poderoso, virou caricatura. A propaganda política ainda grita, mas já não convence. A nova política exige naturalidade como estratégia e espontaneidade como ativo. A plateia cansou do espetáculo.

O eleitor — mais atento do que jamais se supôs — começa a trocar emoção por juízo. A polarização lulopetista-bolsonarista segue firme, mas já não explica tudo. Quem quiser quebrar o ciclo terá que fazer mais do que posar para rede social: deve encarnar não um personagem, mas uma causa. Precisa saber de onde vem e para onde pretende levar o país. A política não se fabrica em laboratório, nasce do convívio, da escuta, do debate de planos e ideias, do conflito com a realidade.

Um candidato, para empolgar, deve oferecer uma visão de futuro que substitua o voto por exclusão pela escolha convicta. Ele deve enfrentar o populismo institucional e a covardia legislativa. Prometer futuro sem tocar nas estruturas do presente é retórica vazia. O populismo institucional, que brinca de governar, e o Congresso, que se especializou em se omitir, são os alicerces da mediocridade nacional.

Os partidos viraram clubes eleitorais: têm donos, não ideias. O novo só virá com coragem. Não basta autenticidade, é preciso confronto. Nomear culpados, desagradar interesses, contrariar aliados. O eleitor quer alguém que escute quem nunca foi ouvido: o jovem da que brada, o professor cansado, o brasileiro sem diploma e sem emprego, o professor exausto, o trabalhador que se afunda em juros. Não se transforma o país das desigualdades com frases de efeito. Nem se governa de cima para baixo.

O BRASIL NÃO CARECE DE CANDIDATOS, MAS DE RUMO. A PLATEIA CANSOU DO ESPETÁCULO

Romper a polarização requer, primeiro, compreender o país real — aquele que não está nem nas bolhas digitais, nem nos cafés de Brasília. É fundamental superar a cegueira ideológica e verdadeiramente ouvir o que pulsa nas periferias, nas redes, nas cidades pequenas e nos jovens urbanos sem partido. Quem quiser mudar precisa encarnar o povo, não se fantasiar de salvador. Chega de personagem. O que falta é papel histórico. E coragem para assumi-lo. Isso começa antes da urna — começa quando se escolhe de que lado da história se está.

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