O excelente filme The Post – A Guerra Secreta mostra a batalha da imprensa norte-americana para revelar a verdade sobre a Guerra do Vietnã, ocorrida entre 1959 e 1975. Os jornais New York Times e Washington Post foram processados pelo então presidente Richard Nixon, querendo, a título de segredo de estado, impedi-los de divulgar “documentos secretos” sobre a posição americana ao longo dos governos durante os 16 anos do conflito. Um trecho contundente de uma irretocável sentença lida pelo juiz Hugo Black, cuja inequívoca interpretação, explode como um petardo nos tempos sombrios em que vivemos no Brasil: A imprensa deve servir aos governados, não aos governantes.
Em nosso país a patuleia que encorpa parte da mídia estabelecida, encastelada nas benesses do Estado, vive a pregar a penitência para os males imaginários que dissemina. Quando julgadores de instâncias superiores agem como inimigos do povo, abominam o perdão para situações, assim, criadas. O juiz Hugo Black destacou o papel fundamental da imprensa em uma sociedade democrática que repudia ser manipulada ao sabor das autoridades que orbitam os poderes da República.
O papel da imprensa não pode ser deturpado. Sua função primeira é manter o cidadão bem informado, fornecendo-lhe notícias, análises e uma diversidade de opiniões nas abordagens que impactam o seu dia a dia. Isso respeitaria a individualidade e estimularia o próprio juízo de valor de cada um de seus leitores. A mídia deve estimular um fórum de debates públicos e promover um engajamento cívico sobre questões complexas. O veículo de imprensa que conseguir essa proeza vai construir uma imagem independente, imparcial e de responsabilidade social.
De outro lado, a perda dessa imagem reflete ausência de autonomia, que leva à desconfiança pública e a impregna com a mística de propaganda governamental. O interesse público é o único foco da imprensa independente. Não defender projetos políticos é sua obrigação. Defender os interesses da sociedade deve ser a sua bíblia. Como norma, tem que denunciar atos de corrupção e de abuso de poder. A imprensa não é agente do Executivo, do Legislativo e nem do Judiciário. Ela tem obrigação de cobrar transparência em todos esses níveis, para assegurar que a democracia funcione de maneira plena. Não é mais possível tanta leniência.
O papel da imprensa não pode ser deturpado. sua função primeira é manter o cidadão bem informado