A neurose é parte rotineira da vida de tanta gente que é difícil defini-la. Ela se incorpora ao nosso modo de ser, como se fosse perfeitamente natural. Na verdade, ela representa um estorvo em vários sentidos.
Nosso psiquismo, de longo e complexo desenvolvimento, filtra e conforma o mundo externo ao sistema de crenças e expectativas que foi se montando no decorrer de nossa existência, sob grande influência do caldo cultural no qual se vive mergulhado. Nossas percepções vão sendo afetadas por nossas fantasias, resultando em interpretações pessoais, em maior ou menor grau.
A neurose é como um atoleiro que dificulta nossa caminhada, tentando nos manter sempre no mesmo lugar, revivendo e remoendo velhas histórias, amarrando-nos a um passado que não passa, porque vai sendo sempre reclamado, repetido, reeditado. Essa luta aprisiona e frustra. Surgem medos aparentemente inexplicáveis, evitações tolas e sem sentido aparente, escolhas tímidas e possibilidades desperdiçadas.
Diante dos obstáculos – não importa que eles sejam apenas imaginários – acabamos obrigados a viver muito aquém de nossas possibilidades, respeitando fronteiras impostas por inibições, angústias, medos. Como não sucumbir a algum nível de desilusão? A depressão, em uma de suas variadas formas, está sempre à espreita de quem não vê saídas, não inventa estratégias e não se dá conta do marasmo em que se encontra
Os relacionamentos duradouros tendem a se tornar difíceis e insatisfatórios. As projeções dos próprios fantasmas vão dominando a percepção que se tem da outra pessoa, acabando por destruir sua alteridade, gerando grandes conflitos que repetirão velhos temas do repertório pessoal. A repetição de mesmices torna tudo maçante – um jogo de cartas marcadas, um círculo vicioso.
O corpo torna-se palco de exibição dos sofrimentos emocionais transmutados em dores de cabeça, apertos no peito, vísceras em fogo, o cansaço crônico de quem não vê o sono chegar de mansinho.
A psicoterapia permite desconstruir a mitologização do passado. Há, no decurso do desenvolvimento, muitas possibilidades de conturbações; conhecer como viemos a ser nos permite modificar relações intrapsíquicas e interpessoais, criando novos espaços de liberdade pessoal.