Estilo de Vida

Quebradeira liberada!!

Quarto da raiva

Sucesso em alguns lugares do mundo, como Japão e EUA, “quarto da raiva” chega a Belo Horizonte e permite que clientes destruam objetos e aliviem o estresse

 

Já imaginou você entrar em um lugar, escolher sua música favorita, selecionar alguns objetos e quebrar todos eles usando uma marreta, machado ou taco de baseboll? É exatamente essa a proposta do Smash Box BH, que foi inaugurado no mês passado no terceiro andar do Mercado Novo e tem como slogan “extravase seu ódio sem gastar seu réu primário”.

O “quarto da raiva”, que já é sucesso em países como Japão e Estados Unidos, chega a Minas Gerais pelas mãos das sócias Isabela Moura e Babi Bowie e, segundo as empreendedoras, trata-se do primeiro empreendimento desse tipo em Belo Horizonte.

“A ideia é que as pessoas liberem o estresse de forma leve e divertida. Tem gente que escreve o nome de algum desafeto em um objeto e mete bronca. É simplesmente um lugar para se divertir com os amigos, como se fosse qualquer outro rolezinho ou saída com a galera”, define Isabela.

Segundo ela, a ideia surgiu durante a pandemia, quando as pessoas começaram a falar mais sobre saúde mental, estresse e a necessidade de extravasar a raiva e a frustração. No entanto, a moça faz questão de separar as coisas. “Sempre pontuo que não é uma forma de terapia e nem um tratamento psicológico. A proposta está no terreno do lúdico, é uma forma de ter algum tipo de catarse”, diz.

Para desfrutar da brincadeira, o cliente escolhe suas músicas favoritas para “dar um clima” no ambiente e tem à sua disposição um “cardápio” com objetos de vários tamanhos e preços. Um vidro pequeno custa R$ 2, um tijolo sai a R$ 5 e eletrônicos – como TV e impressora – podem custar de R$ 10 a R$ 70.

“A consumação mínima é de R$ 30. O cliente pode escolher os objetos ou optar por alguns kits que sugerimos. Caso ele traga objetos de casa, o valor é de R$ 5 para destruir cada um. Um dos itens que o público mais gosta de quebrar são as televisões, é impressionante”, destaca.

Isabela conta que os objetos geralmente são garimpados em ferros-velhos ou comprados de catadores de recicláveis. Mas, também pode acontecer de amigos e parentes doarem algum item ou alguém entrar em contato se dispondo a vender alguma coisa.

“Após a quebradeira, nós descartamos o entulho em caçambas ou pontos de coleta da prefeitura. Já os objetos recicláveis são recolhidos dentro do próprio Mercado Novo, que já tem uma política de reciclagem no prédio”, esclarece.

Além do descarte de resíduos, a dupla também se preocupa com a segurança dos participantes. Todos os clientes precisam assinar um termo de responsabilidade e vestir equipamentos de segurança – como capacete, óculos e macacão – para não se machucar durante o entretenimento.

Questionada se o negócio desperta críticas ou acusações de “incentivo à violência”, Isabela garante que ainda não houve comentários negativos. “As pessoas entendem que é algo descontraído e também temos muito cuidado ao apresentar nosso serviço, para que as pessoas não entendam como incentivo à violência. Já recebemos a sugestão de colocar fotos de políticos nos objetos, por exemplo. Porém, é algo que jamais faríamos”, diz Isabela.

A fotógrafa Gabrielle Borghi experimentou o serviço pela primeira vez e considerou a quebradeira uma “coisa relaxante”. “Na verdade eu não fui com raiva. Fui com amigos e foi uma experiência divertida. Também achei acessível financeiramente. Antes, eu tinha a impressão de que era algo muito caro de se fazer”, conta.

Também estreante no “quarto da raiva”, Fabíola Ladeira, que trabalha explicando jogos de tabuleiro, afirmou que no início tinha medo de se machucar com algum objeto. Porém, acabou relaxando no decorrer da experiência. “Senti algo entre a adrenalina e a felicidade, é como se eu tivesse em um parque de diversões”, explica.

Com uma playlist repleta de músicas no estilo punk, a moça quebrou objetos de vidro e já planeja voltar ao local para destruir um monitor de computador antigo que tem em casa. “Já comentei com diversos amigos do trabalho e todos querem conhecer. É uma experiência que desperta curiosidade nas pessoas”, garante.

Para Camila Fardin Grasseli, psicanalista e professora de psicologia da Una, atividades como essa são válidas para trabalhar algum tipo de tensão de forma lúdica. Porém, apesar do nome “quarto da raiva”, é preciso ter consciência de que a atividade não trabalha o sentimento em si.

“A raiva é um sentimento abrupto, destrutivo e que surge de repente. Quem vai a um local como esse, de forma consciente e tomando todos os cuidados, geralmente não está com raiva. A pessoa vai para se divertir ou liberar algum estresse. As donas do local são muito assertivas ao afirmar que o local não serve para tratamento ou terapia. Porque, de fato, quebrar coisas não faz a raiva passar”, explica.

No caso da raiva propriamente dita, Camila recomenda atividades como terapia profissional, prática regular de exercícios físicos e monitoramento desse sentimento. “A pessoa precisa olhar para as situações que causam raiva e tentar encontrar algum aspecto positivo, por mais difícil que isso seja. Assim ela consegue tomar melhores decisões nas suas próximas experiências”, aponta.

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