Cultura

UM SAMBA PARA ALEGRAR O DIA

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Samba do Maestro, aos sábados: três tempos para todos os públicos

FOTOS\ DIVULGAÇÃO

 

Bares promovem rodas animadas, com público diverso e edições até em dias de semana

 

Em ritmo de “Não deixa o samba morrer” e “com o auxílio luxuoso de um pandeiro”, nossa música raiz se mostra mais viva que nunca nas calçadas dos bares da capital mineira, quem sabe, dando uma trégua ao sertanejo? Talvez, até trocando a sofrência universitária pela dor de cotovelo do Lupicínio Rodrigues, quando o samba é gaúcho, coisa inusitada, fora do Rio, da pauliceia de Adoniran e do mar que quebra na praia e é bonito de se ver na Bahia. Temos também nossos sambistas mineiros. Somos bem representados: Clara Nunes, Ary Barroso, Rômulo Paes, com suas marchinhas de carnaval, todos sempre bem oportunos, capazes de deixar a caixinha de fósforos tremer nas mãos dos mais apaixonados.

Mas que bom que estamos resgatando essa joia! E é sempre bom festejar o samba, as rodas de samba. “Que tal um samba? propõe Chico Buarque, ” um samba para alegrar o dia, pra zerar o jogo”. E é nessa vibe que bares como o Maestro Bar e Butiquim, Na Areia 360 Graus, Purarmonia, o Samba da Barca Furada, Estância Pampulha e o Esquina Santê nos brindam toda a semana, com muita música boa, de qualidade.

“A pegada é de samba carioca no quintal. Es tamos levando o samba para a nossa praia, que é o bar”, entusiasma o CEO da produtora de eventos Smile, Leonardo D’Arc Rodrigues de Menezes. Leo D’Arc, como é mais conhecido no meio artístico, leva o samba ao Maestro, ao Na Areia 360 e ao Estância Pampulha. Sonha, quem sabe, em fazer um Cacique de Ramos à mineira.

No Samba do Maestro, a cerveja é no copo lagoinha, não é cobrada entrada e o samba é na calçada, no bairro Santo Agostinho, todo sábado. Na Areia 360, também é todo sábado, com clima praiano, pé na areia, nada de cerveja long neck. Negócio é com 600 ml, sem entrada. E o que rola nos bares, em que Leo D’Arc é produtor musical, é Salazada, Pagode do Alemão e, pelo menos, mais umas oito bandas que ele reveza para animar o batuque. No repertório, três tempos de samba para fregueses dos 18 aos 80 anos. “E aceitamos cantor de chuveiro”, brinca o animado produtor.

“Começamos por nomes de peso, como Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e outros músicos da velha guarda, do samba retrô, daqueles de caixinha de fósforo. No segundo tempo investimos no pagode dos anos 1990, como Exalta Samba, Pixote, Sem Compromisso, etc. O terceiro tempo é com as bandas mais atuais, as que bateram o Top Spotify, como a banda Menos é Mais”, relata o Leo D’Arc.

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Para se somar a esse retorno magistral do samba na calçada dos bares de BH, o brasileiro conta com a boa notícia de que Pixinguinha (autor de Samba na Areia, Samba Nêgo, Yaô e Batuque na Cozinha) e Lupicínio Rodrigues (autor de Se acaso você chegasse, samba que fala sobre a saudade e o desejo de reencontro com o amor perdido, e de Cadeira vazia, um samba-canção que fala sobre a ausência de um amor), foram homenageados no mês passado, declarados Patronos da MPB por lei sancionada pelo presidente Lula e publicada no Diário Oficial da União.

Se as rodas de samba chegam, e chegam com tudo, dão a chance às novas gerações de conhecer o melhor da cultura musical brasileira, sem desfazer de outros estilos e gêneros musicais.

E não há ambiente melhor para exercitar o samba do que o boêmio bairro de Santa Teresa. O Esquina Santê, na rua Silvianópolis, abraçou a ideia. E não tem nada que mais combina com samba do que feijoada, claro, na sexta-feira, melhor ainda. Desde setembro, o bar vem promovendo a roda de samba às sextas, ao meio-dia. O sucesso tem sido tão grande que cresce o público na calçada a cada apresentação do samba do Trem dos Onze, banda que completa 13 anos.

“Adotamos a calçada com gradis e ombrelones, estilo parklet. E o evento, que já corre de boca em boca, tem crescido de forma orgânica a cada sexta”, comemora Betinho Scalioni, sócio-proprietário do restaurante e bar, e um dos vocalistas e cavaquinista da banda Trem dos Onze. A família é musical e conta ainda com o irmão, Teo, que é percussionista. De vez em quando, o casal Sílvio e Mirtes Helena Scalioni, pais e sócios dos músicos no Esquina Santê, dão uma palinha no samba. Eles são integrantes do Boca de Sino, com mais de 30 anos de estrada.

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No repertório do Trem dos Onze, que também tem como vocalista a Gabi, Betinho lista músicas de Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Fundo de Quintal, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara, Noel Rosa, Exalta Samba, Só pra Contrariar. Só para citar alguns nomes de peso no samba. Não bastasse, a feijoada completa a brasilidade ao preço convidativo de R$ 29, além de três cervejas Amstel por R$ 39 e petisco a R$ 18. “Queremos que caia nas graças do povo”, provoca Betinho.

Outro que comemora o batuque na rua é Eduardo Piastrelli de Carvalho, apaixonado por samba e rock in roll, comemora o samba na calçada da avenida Princesa Isabel, no Parque Recreio. Ele é o criador do Samba da Barca Fu rada. Digital influencer, Eduardo conta que tem dois milhões de seguidores e conseguiu o inusitado em plena segunda-feira, quando os bares, normalmente estão fechados.

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“Eu costumava ouvir samba em casa, mas re solvi testar bares em Venda Nova, no Califórnia, Buritis e Princesa Isabel, ao meio dia, atraindo donos de bares que não funcionam na segunda, donos de salão de beleza, que estão de folga na segunda, e deu samba, literalmente. Testei no Sympla (site de venda de ingressos) e deu super certo. O samba foi para o Carioca Lounge Bar há quatro meses e não parou mais”, relata com entusiasmo.

O repertório do Samba da Barca Furada contempla nomes como o de Arlindo Cruz, que faleceu em agosto, Bezerra da Silva, e outros bambas interpretados por bandas como o Samba do Rei e Revenda Norte. “O ingresso feminino off vai até 14 horas. O ingresso masculino é 50% até o meio-dia, R$ 20 antecipado, e no dia, entre R$ 40 e R$ 60, dependendo da banda. O chope é liberado de meio-dia às 13 horas. Recebemos, em média, 400 pessoas, um público de 35 a 70 anos, e o samba só termina às 20 horas”, comemora Eduardo Piastrelli.

E viva o samba! Tomara que não passe de modinha e continue resgatando a nossa rica cultura musical.

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