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Falar em civilização selvagem parece uma contradição em termos. No entanto, há fundamento em se dizer que a alegada “civilização Ocidental” é selvagem.
Corre na internet uma afirmação atribuída, embora sem comprovação, à respeitada antropóloga Margaret Mead (1901-1978), segundo a qual o primeiro sinal de civilização seria um fêmur quebrado e curado. Isso porque um animal com tal osso rompido não poderia se deslocar para se alimentar ou beber água, nem se defender de predadores; logo, se um sobreviveu e se curou, é porque um semelhante o ajudou. A civilização, assim, decorreria da capacidade de ajuda mútua. “Ajudar alguém a passar pela dificuldade é o ponto de partida da civilização”, teria dito a antropóloga.
Importante e necessário conceito, promotor de fraternidade e redutor de sofrimento. No entanto, inaplicável à dita civilização ocidental.
Por certo aqui não se valoriza a ajuda mútua
Qual conceito de civilização seria aplicável às nossas sociedades “ocidentais”, onde milhões morrem, a cada ano, por terem fome ou serem obesos, por terem sede ou afogados, ou simplesmente por respirarem venenos diluídos na atmosfera, em razão do lucro? A ideia de que a tecnologia traz progresso? Para quem, para quê? Ou ainda a noção de que o “crescimento econômico” implica em mais felicidade e “sucesso?
Por certo aqui não se valoriza a ajuda mútua. Claro, alguns promovem a filantropia, mas tais ações não se configuram como centrais à dinâmica da sociedade, que se baseia em algo completamente distinto do conceito supostamente proposto pela Margaret Mead.
Recuperar a ideia de nos civilizarmos, no sentido de priorizar a ajuda mútua, de resgatar e construir maneiras para curar todos os fêmures que são quebrados, é essencial se quisermos merecer dois títulos: o de civilização e o de sapiens! A questão é: quem e quantos empunharão tais bandeiras, com ideias e propostas de fato inovadoras e eficazes?