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A elite do contracheque

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Morgan Housel abre o seu artigo Obvious Things That Are Easy To Ignore com uma provocação digna de Sherlock Holmes: as verdades mais explícitas são também as mais ignoradas. Essa reflexão se assemelha ao óbvio ululante* de Nelson Rodrigues e cai como luva em nosso Brasil. Executivo, Legislativo e Judiciário — cada qual com suas razões — convergem num ponto: ignoram solenemente o rombo fiscal.

Ninguém quer conter os gastos e todos se empenham em ampliá-los. É uma casta invisível, mas onipresente, que consolida a burocracia de Estado. Disfarçada de missão pública, ela opera como uma engrenagem focada essencialmente nos seus interesses, com o objetivo real de preservar privilégios e viver dos impostos pagos por quem gera riqueza — empresários, empreendedores, trabalhadores for mais, profissionais liberais e aposentados. Seu ethos é simples e eficaz: vestir o parasitismo com o manto da justiça social. A retórica é conhecida. Alega-se que sem esse aparato estatal não haveria combate às desigualdades, nem reparação de injustiças históricas. A realidade desmente o discurso.

O QUE SE VÊ É UM ESTADO CAPTURADO POR INTERESSES CORPORATIVOS

O que se vê é um Estado capturado por interesses corporativos, com salários, aposentadorias e benefícios muito acima da média nacional ou mesmo internacional, ponderado o respectivo custo de vida e blindados de cortes, mesmo em tempos de ajuste fiscal. Essa elite do contracheque domina as engrenagens políticas nos três níveis da federação. Sem disputar eleição para mandar, ela ocupa gabinetes, comissões, autarquias e conselhos, influenciando leis, regulamentos e orçamentos.

Seu poder é difuso, mas devastador, porque sua existência exige um volume crescente de tributos — e, portanto, impõe uma trava estrutural ao crescimento. O sistema foi desenhado para punir quem cria valor e proteger quem o consome sob o pretexto de justiça social. Enquanto essa burocracia for vista ou tolerada como indispensável e moral mente legítima, o Brasil continuará condenado a crescer de joelhos — carregando nas costas quem se habituou a viver à custa dos outros. O parasitismo dessa capa burocrática é a principal trava para que o Brasil não seja um país com alta renda per capita. A “capa burocrática” tornou-se um teto baixo sob o qual o país se encolhe. Estamos condenados a crescer pouco, mal e sob a sombra de quem nunca gera valor — mas sempre cobra por ele.

*Evidente; excessivamente claro

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