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Em uma entrevista à revista italiana Panorama em 1974, ao ser indagado pelo jorna lista se ele seria pessimista com relação ao mundo, Lacan responde: “… Não é verdade. Não me enquadro nem entre os alarmistas nem entre os angustiados. Infeliz do analista que não tiver ultrapassado o estádio da angústia” O tema A Angústia, num primeiro momento, não atrai, seja pelo sofrimento que evoca, seja pelas sensações de dor no coração, aperto no peito, o nó na garganta.
O corpo fala onde as palavras falham: o inominável. Tudo poderia se resumir à divisão do sujeito, se não houvesse no meio do caminho uma pedra – como diz o poeta Drummond, cujo poema não consegue senão repetir isso, de traz para frente, de frente para trás, mostrando de maneira genial, a pedra como o real que volta sempre ao mesmo lugar. A dor petrificada, o real imóvel que resiste ao movimento. A dor surge quando a fuga é impossível e não há possibilidade de mover-se. Talvez seja essa a angústia social imposta pela impotência diante das atrocidades cotidianas.
CHEGAR À BEIRA DO ABISMO E NÃO CAIR IMPLICA TER CONSTRUÍDO UM PONTO DE SUSTENTAÇÃO
Se somos impotentes frente as potências e onipotências dos que governam o mundo, a psicanálise ao menos nos oferece um tratamento que possibilita o deslizamento da linguagem para tentar simbolizar o inominável – o real da condição humana. Esse trabalho produz alívio das tensões e põe o corpo em movimento: faz rolar, enrolar, desenrolar. Daí, o efeito terapêutico das análises. E nesse movimento, algo de transforma. Chegar à beira do abismo e não cair, implica ter construído um ponto de sustentação – uma ancoragem no real. As coisas caem, a vida muda, o mundo se transforma, mas há um ponto duro como uma pedra em cada um de nós que segura. Apostamos nisso.