Valéria Flores

Território desconhecido

 

Dirigentes do setor cobram mais investimentos em pesquisa, tanto do setor público quanto do privado

 

            Minas Gerais é um estado referência na extração minerária no Brasil. É o maior produtor do país de zinco, ouro, fosfato, grafita, lítio e calcário, além de ser responsável pela extração de 75% de todo o nióbio do mundo. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Minas Gerais representa mais de 50% da produção nacional de minerais metálicos como o ferro, o nióbio -75% da produção mundial, com reservas em Araxá, estimadas para atender as necessidades mundiais por 400 anos. O Estado também é o maior produtor mundial de concentrado de tântalo, o único produtor nacional de zinco e lítio etc. Os demais minérios correspondem a 29% do total do país. O setor é referência por sua complexidade e dubiedade: significativo para a geração de riquezas, mas instável com relação a danos ambientais e sociais. Para equilibrar a atividade, no Estado e no país, críticas vêm sendo feitas ao setor.

             A cobrança é com relação a falta de investimentos em estudos e pesquisas para se conhecer a fundo e por completo todas as nuances do segmento, de forma a conseguir ordenar, criar normas e orientar políticas públicas. O tema vem sendo defendido por instituições, públicos, e privadas e pela própria sociedade, exigindo o levantamento científico de todo o potencial mineral do estado.

           Para o diretor de Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Júlio Nery, motivos não faltam, por isso é indiscutível a necessidade de, com critérios, seriedade, transparência e agilidade, incentivar a realização de pesquisas no setor da mineração em Minas Gerais e no Brasil. De acordo com o diretor, é preciso investir na realização de um censo ou estudo estatístico completo para mapear e conhecer bem o território brasileiro. “Inclusive as regiões mais promissoras”, acredita. Para ele, falta conhecimento geológico sobre o próprio território. Ele cita dois países que atualmente representam dois grandes competidores do Brasil nessa área. “Austrália e Canada, por exemplo, já investiram e realizaram o censo referente ao território delas na mineração e seus resultados e ações estão sendo definidas por seus governos e empresários”, afirma Júlio. “E o governo federal precisa incentivar as próprias empresas a realizarem pesquisa, porque as responsabilidades são de todos”. Segundo ele, é necessário saber tudo sobre os sistemas de segurança nas mineradoras, com gestão de riscos e sobre o ambiente de negócios real vivenciado pelos setores envolvidos.

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          Hoje, apenas a região do Quadrilátero Ferrífero está mapeada na escala correta para propiciar um conhecimento geológico profundo. No país, apenas 4% do território tem mapeamento na escala ideal, segundo Nery.

          Outro exemplo claro dessa situação é o Vale do Jequitinhonha, que foi reconhecido pela lavra de minerais como o berilo, o topázio e a água marinha, e onde já se sabia existirem minério de lítio e o espodumênio, que ainda não era aproveitado. Agora esta é uma área a ser trabalhada incansavelmente por pesquisadores para consolidar e revelar um diagnóstico. Segundo Nery já há mais de 30 empresas no Vale hoje fazendo pesquisas para a mineração de lítio, mas que também influenciarão na implementação de projetos sociais e econômicos para melhorar a qualidade de vida na cidade e região. “Sobre estes minerais críticos para a nova economia, no Ibram contratamos o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem), com o objetivo de efetuar um estudo comparando a atual legislação para os minerais críticos no país com o resto do mundo”, avalia.

          De acordo com o diretor da Mineração do Morro do Ipê e Assessor Especial do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Extrativas de Paracatu e Vazante (Sindiextra), Cristiano Parreiras a crítica ao setor sobre a falta de investimentos em conhecimento e pesquisa é válida. “Pode-se dizer que é a aplicação do velho ditado: ‘casa de ferreiro, espeto de pau’”, exemplificou ele. Para ele, a despeito de termos grandes empresas exploradoras em Minas, que produzem os mais diversos bens, ainda conhecemos muito pouco nosso território. “As bases públicas que temos de consulta ainda são precárias e o conhecimento geológico do território é a porta de entrada dos investimentos em mineração”, afirma. Cristiano acredita que um mapeamento geológico consistente, que mostre todo o potencial mineral do Estado é ferramenta bastante útil tanto para o poder público desenvolver políticas, quanto para o setor privado definir estratégias de investimento.

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           Para o diretor da Associação dos Municípios Mineradores de minas Gerais (Amig), Waldir Salvador, outro problema é a atuação da Agência Nacional de Mineração, onde os colaboradores estão em greve. “O governo federal fracassou na regulação e na fiscalização das atividades da ANM”, afirma. Além disso, prossegue o diretor, com a falta de fiscalização, a mineração também causa efeitos colaterais para a sociedade. Quanto à saída para essa situação desenhada atual, o diretor da Amig afirma que a solução é o país dar credibilidade à atividade, com transparência, diálogo e fiscalização. “Além de restaurar a ANM, mudar de conduta com as organizações representativas das mineradoras, com as próprias empresas com os prefeitos das cidades, que assistem a tudo, sem poderem se envolver em nada. As mudanças para melhores situações passam por aí”, conclui.

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