Marcos Andrade: prevenção é o que mais importa
Painel Saúde – Bem que vale a pena conservar, no Conexão Empresarial Anual, reforça a importância da prevenção, da atividade física e do equilíbrio emocional como pilares da longevidade saudável
Na manhã de sábado, 12 de julho, o Conexão Empresarial, realizado no Vila Galé Collection Ouro Preto, promoveu um amplo debate sobre saúde e longevidade, no novíssimo Anfiteatro Tiradentes. Coordenado pelo cardiologista e clínico-geral Marcos Andrade Jr., com ofereci mento do Hospital Felício Rocho, o painel Saúde – Bem que vale a pena conservar reuniu especialistas de diferentes áreas, que abordaram tendências da medicina moderna e reforçaram a importância da prevenção e da mudança de hábitos como estratégias fundamentais para o envelhecimento saudável.
Andrade Jr. destacou dois marcos da cardiologia moderna: a primeira cirurgia de ponte de safena, realizada em 1967 pelo argentino René Favaloro, em Cleveland, nos Estados Unidos; e o primeiro transplante de coração, no mesmo ano, pelo sul-africano Christiaan Barnard, na África do Sul.
Apesar das conquis tas, o cardiologista ressaltou que tais avanços ainda refletem uma falha coletiva: o tratamento de doenças que poderiam ter sido evitadas. “Diagnóstico precoce é importante, mas é uma investigação de enfermidades já iniciadas. A verdadeira prevenção se faz com alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e cuidado com a saúde mental”, afirmou. À frente da Clínica Marcos Andrade, fundada em 1971, na Savassi, o médico também alertou para o uso crescente e, muitas vezes, indiscriminado de medicamentos análogos ao GLP-1, como a semaglutida (Ozempic) e a tirzepatida (Mounjaro), desenvolvidos para o tratamento de diabetes, mas atualmente uti lizados para controle de peso.
“São drogas com potencial enorme para a saúde, mas devem ser utilizadas com indicação médica e acompanhamento rigoroso”, pontuou. Leandro Goursand Penna, médico clínico e responsável pelo Serviço de Medicina do Exercício e do Esporte do Hospital Felício Rocho, também chamou a atenção para um novo risco do uso abusivo desses remédios: a Deficiência Relativa de Energia no Esporte (RED-S). “A síndrome é provocada pela ingestão calórica insuficiente em relação ao gasto energético, cada vez mais comum entre praticantes de atividades físicas que utilizam inadequada mente esse tipo de medicamento”, alertou.
O especialista também apresentou o exame de ergoespirometria, que vem ganhando destaque na medicina esportiva. “Trata-se de um teste cardiopulmonar que avalia a resposta do organismo ao esforço físico por meio da análise dos gases expirados, contribuindo para diagnóstico, prescrição de treinos e acompanhamento de doenças.” Também na ala da medicina esportiva, Carla Tavares, médica da Seleção Brasileira de Natação e coordenadora de Medicina do Es porte e Preventiva da Rede Mater Dei, enfatizou que o check-up médico só cumpre sua função quando leva a transformações efetivas nos hábitos do paciente.
Com base em dados da Organização Mundial da Saúde, ela alertou que o sedentarismo é o quarto principal fator de risco de morte no planeta. “O medo da morte súbita cardíaca durante atividades físicas é muito difundido, mas essa é uma condição rara e restrita a grupos específicos. Esse receio não pode impedir as pessoas de se exercitarem”, destacou.
A fisioterapeuta Débora Fernandes, coordenadora do núcleo de Fisioterapia Cardiovascular da Clínica Marcos Andrade, foi além da teoria e promoveu uma breve pausa ativa à plateia com alongamentos e exercícios simples, envolvendo os participantes do painel em um momento de leveza e conexão corporal. “Movi mentar-se é o elixir da longa vida”, definiu ela. Segundo ela, caminhar menos de cinco mil passos por dia já caracteriza um estilo de vida sedentário. “A recomendação para adultos é de 7 a 8 mil passos diários e de 150 a 300 minutos de atividade moderada por semana. Mas, se não foi possível, qualquer movimento conta”, disse.
Encerrando o painel, a psicóloga e monja zen budista Maria Bernadette Biaggi chamou atenção para a importância de desacelerar e reconectar com as emoções. “Vivemos uma epidemia de analfabetismo emocional, ou seja, a incapacidade de reconhecer e expressar nossas próprias emoções. Na psicologia, essa condição é chamada de alexitimia”, informou.
Para ela, momentos de pausa e silêncio são fundamentais para o equilíbrio psíquico e para o cuidado integral com a saúde. Pioneiro na medicina preventiva no Brasil, Luís Carlos da Silveira, fundador do spa médico Kurotel, em Gramado, teve uma participação e homenagem especial no painel. Em sua fala, ele reforçou que a genética representa apenas 17% dos fatores de risco para doenças crônicas, enquanto o estilo de vida tem papel determinante.
“A mudança no estilo de vida é o segredo para alcançar longevidade com qualidade de vida”, defendeu. Ele também comentou sobre o uso crescente de inteligência artificial na medicina, especialmente na etapa de diagnóstico. “O algoritmo pode ajudar a afunilar hipóteses, mas o julgamento final sempre será humano. A tecnologia é uma ferramenta, não um substituto para a prescrição personalizada.”
Quem também subiu ao palco foi o jurista e advogado Carlos Mário da Silva Velloso, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (1990-2006), instância que presidiu entre 1999 e 2001; e por duas vezes presidente do Tribunal Superior Eleitoral (1994-1996 e 2005-2006). “A união de cabeças bem formadas traz contribuições variadas e valiosas. Esse é o rico saldo desse encontro, onde aprendemos mais a cuidar do corpo e da mente.”