Política

Entrevista governador Romeu Zema

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Autor – Nome  Sueli Cotta
Repórter

Entrevista governador Romeu Zema  

 A formação do consórcio entre os sete estados do Sul e Sudeste gerou expectativas entre os governadores de aumentar o seu poder político no Congresso Nacional. Temendo perder espaço político e recursos, esses governadores querem mobilizar as suas bancadas para marcar posição. A votação da reforma tributária é o teste mais importante para eles e até o momento, tem surtido o efeito desejado, com as alterações reivindicadas por eles no texto da reforma, aprovada na Câmara Federal. Agora, vem o segundo round no Senado. Mas essa parceria pode ir além.  O governador Romeu Zema (Novo), diz que a ideia é a de que o grupo saia unido em torno de um nome em 2026, para mudar os rumos da política brasileira.  

Quais os pontos na reforma tributária que, para o senhor, não estavam corretas?  

Primeiro, eu quero salientar que a reforma tributária é necessária e é importantíssima para o Brasil, porque hoje nós temos um manicômio tributário. Quem atua no setor produtivo gasta mais tempo e esforço e, às vezes, até dinheiro, para tentar entender a tributação, em vez de estar fazendo propriamente a gestão do negócio.  Isso torna o Brasil pouco competitivo. Um exemplo claro é a nossa baixa exportação. Produtos que não tem valor agregado para serem vendidos lá fora. Então, a reforma é necessária, mas ela precisa mudar, porque está se criando um conselho tributário, onde cada estado tem um voto. Eu sou contrário. Isso tem que funcionar como um condomínio: quem tem 10 apartamentos no condomínio tem 10 votos. Quem tem um apartamento tem um voto só, porque nós temos estados que produzem muito e que vão ter o mesmo voto que um estado muito menor.  Foi criado também, um fundo de desenvolvimento regional, que não contemplava os estados do Sul e do Sudeste. Vale lembrar que nós temos bolsões de pobreza nos estados do Sul e do Sudeste, então nós também queremos participar.  A reforma prevê um fundo que será utilizado na transição para algum estado que tenha perda, mas também não prevê como esse fundo será obtido. Só está previsto que a União deverá arcar com o mesmo. Só que a União hoje já não tem condições de fazer novos projetos, então seria necessário e muito benquisto também, uma redução de despesas para poder fazer face a esse fundo.  Só se vê falar em mais gastança, em reformas que não tenham uma governança adequada.  

Um fundo que nasceria sem recursos?  

É o fundo que  não tem previsão orçamentária e que depois  vai ser insuficiente e nós vamos ter aí Estados brigando, questionando como aconteceu com a redução do ICMS o ano passado, com redução de ICMS de energia elétrica, de combustível e de telecomunicações que os estados não foram ressarcidos integralmente.  Nós tememos que essa situação se repita.  

O senhor tem falado do Brasil que produz e do Brasil que faz política. Essa é a divisão hoje do país?  

Nós temos um Brasil que produz e um Brasil que faz política. Todas as regiões produzem e fazem política, mas aqui no Sul e no Sudeste, na nossa última reunião de governadores, nós chegamos à conclusão de que nós temos focado os nossos esforços muito mais em produzir do que em fazer política e nós vamos começar a fazer mais política agora, porque está muito claro que nós temos sido muito mais eficientes em produzir do que em termos forças políticas, como no caso desses fundos de desenvolvimento regionais, que contemplam só os outros estados e não o Sudeste. Então, nós vamos estar mais empenhados em fazer política, precisamos estar mais bem representados em Brasília.  

Esses sete governadores têm condições de barrar a reforma. Têm força política para barrá-la caso haja mudanças no Senado?  

Nós governadores não,  mas as bancadas federais, se trabalharem unidas, têm força sim, e nós reunimos com as bancadas federais para passarmos a todos os deputados federais desses sete estados, lembrando que são 256 deputados federais, que receberam uma orientação nossa para votar numa reforma tributária diferente dessa que foi apresentada.  

O ex-presidente Jair Bolsonaro está inelegível. O nome do senhor e do governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, aparecem como potenciais candidatos para formarem uma chapa de direita. É uma boa chapa?   

Na minha opinião, está muito cedo para falar em 2026. Meu foco, o meu trabalho é recuperar Minas Gerais. Nós ainda temos muitos investimentos para fazermos aqui, na saúde, na melhoria das estradas, na melhoria das escolas. Meu foco é esse, mas nós governadores do Sul e do Sudeste também estamos trabalhando unidos para que nós venhamos a encontrar um nome e dar total apoio a esse nome em 2026.   

Esse nome pode ser o senhor?  

Eu gostaria muito que eu desse apoio a alguém. Vejo que a minha contribuição para Minas tem sido adequada e espero entregar um estado muito melhor. Torço para que nós encontremos um bom nome a quem eu possa dar apoio.  Preferiria muito mais dar apoio do que ser o nome.  

O que falta para unificar o país, que continua dividido?  

Acho que falta nós termos mais abertura ao diálogo, termos menos preconceito com relação às propostas da outra parte. Todo mundo tem proposta ruim e tem proposta boa. Acho que está valendo muito exercermos, aquilo que eu chamo de tolerância, de termos mais diálogo.  

Minas é uma síntese do Brasil e no último resultado do IBGE temos Belo Horizonte diminuindo a população e outras cidades, como Extrema e Lagoa Santa, onde o senhor quer morar, aumentando. Por que dessa mudança?  

Este fenômeno não é só brasileiro. Ele é mundial.  Grandes metrópoles têm um custo de vida mais elevado, muitas vezes não conseguem oferecer um padrão de vida adequado, então muitas pessoas acabam indo para uma região, talvez nem seja o interior, mas uma cidade da Região Metropolitana onde ela não vai enfrentar congestionamento, aonde o transporte público a leva para o seu trabalho com mais agilidade. E há também um avanço muito grande do agro pelo interior do estado. Se nós pegarmos as regiões de Minas aonde a população cresceu, muitas dessas regiões é onde o agro está indo melhor e ele demanda mais profissionais, mais oportunidades de emprego surgem nessas regiões. Acho que é uma estrutura nova que está surgindo em termos demográficos.  

O senhor ainda enfrenta problemas na Assembleia Legislativa. O que que falta para poder afinar esse discurso?  

Eu diria que diálogo está tendo da nossa parte. Nós temos a maioria na Assembleia Legislativa e o que aconteceu nesse dia 29 de junho foi uma aberração.  Uma minoria, que acabou abusando do regimento interno para não deixar um projeto extremamente importante ser votado.  É um projeto que já foi renovado no passado diversas vezes e caso o Estado não tenha essa aprovação Legislativa ele teria um desembolso extra de R$ 15 bilhões para a União. Isso significa salário atrasado, isso significa um Estado sem nenhuma condição de fazer investimento. Me parece que são pessoas que não têm nenhum compromisso com o futuro. Estão querendo só causar ruído, sensacionalismo, sem nenhuma consideração pelos 20 milhões de mineiros.  

Frusta administrar com a ajuda da Justiça?  

 É o recurso que nós temos. Fazer gestão assim é frustrante, mas é algo que você precisa estar exercendo todo dia. Faz  parte do dia a dia da política você ter esse tipo de ações que tentam inviabilizar um governo, principalmente quando ele é bem avaliado.  Parece que o que eles querem é um Estado caótico, destruído, como eles fizeram no passado, para talvez tentarem provar que somos tão ruins de serviço , de trabalho como eles.  

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