Carlos Herculano: “A expectativa é ótima”
Fotos:DSETTE
Renomado jornalista e escritor, Carlos Herculano Lopes comemora sua entrada na Academia Mineira de Letras, o relançamento de suas obras e planos para o futuro
Carlos Herculano Lopes ainda era um menino de 9 anos quando deu seus primeiros passos na escrita. Ele conta que morava em Coluna, sua cidade natal no Vale do Rio Doce, quando passou a registrar à mão no papel suas primeiras ideias usando a luz do lampião. Continuou escrevendo quando se mudou com a família para Belo Horizonte em 1968, aos 11 anos, para estudar no Colégio Arnaldo, onde fez o ginásio e o científico. Ele ainda não sabia, mas esses primeiros textos seriam resgatados quase 40 anos depois e publicados, em 2012, pela editora UFMG, com o nome O estilingue – Histórias de um menino.
“Foi uma emoção muito grande. Tudo começou quando tive a ideia de entregar o grosso do meu acervo à UFMG. Me perguntaram se eu tinha algum material antigo e achei uma pasta amarela, já bem comida pelo tempo, com os originais. Então editamos e lançamos o livro com ilustra[1]ções de Marcelo Lelis”, relembra.
Faz sentido que o renomado jornalista, romancista, cronista e contista mineiro tenha se interessado pela escrita com tão pouca idade. Filho da professora Iracema Aguiar de Oliveira e do farmacêutico prático Herculano de Oliveira Lopes, ele conta que sempre recebeu incentivo dentro de casa para que se apaixonasse pelo mundo das letras. “Na minha família sempre se leu muito. Minha mãe comprava muitos livros para mim e meu pai amava história e política”, diz.
Com uma trajetória tão vitoriosa, no jornalismo e na literatura, não é surpresa que Carlos fosse nomeado algum dia como integrante da Academia Mineira de Letras, o que acabou acontecendo no início deste ano. O escritor disputou com outros sete candidatos e foi eleito pela maioria com 27 votos, 2 brancos, em um total de 35 votantes. A posse, de acordo com ele, já está marcada para o dia 28 de junho.
“Nunca havia pensado em me candidatar, mas sempre tive uma relação muito boa com a instituição desde quando era jornalista, fazendo matérias e entrevistando escritores. Quando surgiu essa oportunidade, principalmente por incentivo dos amigos e de acadêmicos, aceitei o desafio. A expectativa é ótima, ainda mais porque terei a companhia de muitos escritores e intelectuais, como Conceição Evaristo e Ailton Krenak”, elenca.
Outro motivo que torna esse momento ainda mais especial é que Carlos sentará na cadeira de nº 37, que já foi ocupada por Affonso Aníbal de Mattos, Edgard de Vasconcellos Barros e, mais recentemente, por quase 20 anos, pelo poeta e contista mineiro Olavo Celso Romano, falecido em novembro do ano passado.
“Tivemos uma convivência pessoal muito boa, Olavo era um homem muito acessível. Sua marca registrada era o sorriso aberto e o talento para contar casos, ele sempre sabia de histórias de Minas Gerais. Nos encontrávamos em lançamentos de livros e feiras, às vezes tomávamos um café. Ele sempre teve uma importância grande em nossa cena cultural e é um escritor que sempre será lembrado”, aponta.
Paralelamente a isso, o escritor também comemora a iniciativa da editora Record de relançar alguns dos seus livros. Em abril ele lançou a nova edição de O último conhaque e já há planos para os livros Sombras de julho, A dança dos cabelos e Poltrona 27.
“Também estou trabalhando em um novo romance, ainda sem data de lançamento, e ano que vem vou lançar um livro com 200 crônicas selecionadas, da minha época do Estado de Minas. Nos meus mais de 20 anos passados no jornal, 15 deles foi escrevendo crônicas. Esse gênero me fez ter um outro olhar sobre a vida, ter mais humildade em ouvir as pessoas. Foi uma grande aliada e uma grande professora de vida”, arremata.