Personalização é um dos segredos do sucesso da decoradora
A decoradora Denise Magalhães relembra a trajetória de reinvenção, criatividade e resiliência que transformou seu nome e a Verde que Te Quero Verde em referência nacional e internacional
Denise Magalhães, uma das principais referências em decoração floral para eventos de Belo Horizonte e do Brasil, completa 45 anos de carreira em 2024. Mineira de Caxambu, no Sul de Minas, ela é o nome criativo e de comando da Verde que Te Quero Verde, capaz de se reinventar em diversas ocasiões. “Sempre encarei minha profissão como o que mais gostaria de fazer na vida. Ao chegar a este marco, comemoro a resiliência, a possibilidade de poder criar, a capacidade de ter chegado até aqui, em um mercado em que os profissionais têm vida muito curta”, expressa Denise, em entrevista à revista Viver Brasil.
Há cerca de um ano, Denise transferiu a Verde, como é carinhosamente chamada, do Lourdes para o Belvedere, inaugurando um novo conceito de espaço, uma verdadeira experiência integrada ao paisagismo. “Há muito tempo, tinha a ideia de criar um espaço em que as pessoas pudessem vir e se sentir muito bem, em um lugar lindo, agradável, cheio de obras de arte e adornos florais. O cliente não vai lá apenas para comprar um produto ou serviço; vai, também, porque é um lugar agradável de estar, para se sentir bem”, descreve.
A loja-conceito agrega ainda o café Mariana Laender, especializado em confeitaria, além de servir lanches e refeições.
A nova loja é apenas uma das releituras que Denise Magalhães capitaneou ao longo das últimas quatro décadas. “Ganhei esse dom de presente, veio comigo desde pequena. É lógico que também teve muito trabalho, muita pesquisa e evolução. Mas é o olhar que manda na criação”, diz. Ainda criança, Denise tinha o hábito de colher flores nas ruas para montar buquês e decorações, sobretudo no Natal. “Minha família dizia que, em outra vida, eu havia morado em um castelo: não sei se como princesa ou como serviçal”, brinca.
A primeira experiência profissional aconteceu em sua cidade natal, com a inauguração da floricultura Tatinha Flores – “Tatinha” é o apelido da filha, Roberta –, a partir de uma sugestão da mãe. O trabalho durou em torno de três anos. “As comadres do interior de Minas não tinham o hábito de comprar flores: elas trocavam mudas entre si”, relembra.
Tempos depois, Denise se mudou para Belo Horizonte. Na capital mineira, as portas foram se abrindo aos poucos, até que ela abriu a primeira unidade da Verde que Te Quero Verde, na Savassi, na rua Antônio de Albuquerque. Desde então, a loja já passou por diversos endereços, nas ruas Felipe dos Santos e Rio de Janeiro, em Lourdes; Maranhão, no Funcionários; e Sergipe, na Savassi.
A cada mudança de endereço, a marca adquiria novas concepções. O ponto da rua Maranhão, por exemplo, era um galpão grande, com uma gama variada de produtos. Já a loja da rua Rio de Janeiro, para onde se mudou em 2016, seguiu a linha de “butique de flores” e deixou de comercializar a linha home, de louças e adornos decorativos. “Fui me adaptando ao momento do mercado, conforme minha visão e intuição”, diz.
Denise observa que a decoração é muito parceira da moda: em alguns momentos, ela é mais ousada, noutros, mais clássica, mais riponga, mais leve… “Hoje, a decoração traduz muito o lifestyle do cliente: temos que sentir o que ele quer e fazer uma decoração personalizada. Está se usando muito a concepção de colocar o cliente na posição de conforto, o que também acompanha muito a moda, que está mais confortável, mais larga.”
Esse tino ímpar para antecipar rumos e tendências levou o nome de Denise Magalhães para a decoração de grandes festas e eventos. Mas, olhando para o passado, ela desconversa quando questionada sobre os mais marcantes. “Tenho vários momentos emocionantes em matéria de trabalho, mas não gosto de citar nominalmente. Todos os clientes entendem que o evento dele é o mais sensacional. E eu gosto que seja assim, entendo como um sinal de que estou cumprindo minha missão. O grande momento é o que está acontecendo agora.”
Na produção do décor de festas, Denise rompeu as fronteiras de Belo Horizonte, com a realização de eventos em vários estados do país – e também internacionais. Em 2023, por exemplo, Denise assinou a decoração do jantar beneficente promovido pela modelo Gisele Bündchen e a organização BrazilFoundation, no Fairchild Tropical Botanic Garden, em Miami. De cabeça, ela enumera os países em que já trabalhou: Uruguai, Chile, Paraguai, Estados Unidos, Portugal, Itália, França e Marrocos. “Alguns convites vieram de brasileiros que moram no exterior; outros, de estrangeiros, que conheceram a Verde pelo site e redes sociais e fizeram contato on-line. Foram experiências muito enriquecedoras.”
Vêm daí, também, os desafios. O trabalho no Marrocos, por exemplo, um casamento de uma brasileira com um marroquino, exigiu muito jogo de cintura, dado que a empresa não pôde importar produtos nem levar colaboradores brasileiros. Para complicar, o país entrou em greve nas proximidades do evento. “Seis meses antes, viajei para fazer treinamento de mão de obra local e desenhar móveis para os fornecedores marroquinos. Consegui o apoio de um francês radicado no país, que me ajudou a ter acesso a antiquários e a pessoas estratégicas para que a cerimônia se realizasse. No final, deu tudo certo, e foi uma festa linda”, recorda.
Denise pontua que o imprevisto é algo recorrente na vida de quem trabalha com eventos. Em 2018, por exemplo, a greve dos caminhoneiros afetou o fornecimento de flores. A estratégia de Denise foi alugar uma frota de táxis para levar as flores de Holambra, no interior de São Paulo, para uma cerimônia a 600 km de distância. “Problema é o que mais existe. Sempre acontece algo que nos pega desprevenido. O segredo para isso, além da inteligência emocional, é ter uma boa equipe, que seja coesa, e que sinta, de verdade, o desejo de ver aquele trabalho pronto, realizado. Também vale muito ter o apoio e a confiança de quem te contratou; é um alívio, em vez de ter que gerir uma outra crise, do próprio cliente.”
A loja-conceito é um lugar para o cliente se sentir bem e agrega serviços de um café
A clientela, aliás, tem mudado, na visão de Denise. Segundo ela, quem contrata seus serviços atualmente tem um perfil mais bem informado e mais decidido. “A mídia estava no telefone, ao alcance de todos. Os clientes não precisam mais serem convidados para uma grande festa para saberem o que houve nela e sonharem com algo semelhante. Mas isso é melhor, facilita o nosso trabalho”, pondera.
