Flávio Bernardes, José Murilo Procópio e Reginaldo Lopes
Competência, no entanto, não depende de gênero e é o que mostra a presidente da Anglo American e do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Ana Sanches. Segura e assertiva, ela tem investido nas práticas ambientais ou Environmental, Social and Governance (ESG). O tema é a palavra de ordem hoje na mineração e Ana Sanches entende o papel do setor junto à sociedade e as contribuições necessárias para a melhoria da infraestrutura das comunidades no entorno da atividade mineral.
A Anglo American está investindo R$ 5 bilhões em uma célula para fazer o reúso da água utilizada na atividade mineral. Um processo importante não só para a comunidade, como para a própria empresa, que também tem atuado de maneira firme em projetos importantes como no “acordo histórico que nós assinamos com a prefeitura de Conceição do Mato Dentro há uns dois meses atrás, no valor de R$ 500 milhões.
É o primeiro acordo nessa magnitude entre uma mineradora e uma prefeitura”. Essa parceria contou com o apoio do presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, que, segundo Ana Sanches, engajou a entidade nesse projeto para a construção e manutenção na operação de um hospital muito importante para a região.” A Anglo American também vai levar dois cursos de engenharia para a cidade. Outro projeto encampado pela mineradora foi o da construção da alça viária no Serro, com investimento de cerca de R$ 48 milhões, em mais uma parceria, segundo Ana Sanches, dessa vez, com o governo do Estado.
A mineradora também pensa no bem-estar de seus funcionários e tem nesse bom relacionamento uma prioridade.
AÇO DA CHINA INVIABILIZA INDÚSTRIA
Mas o momento é de extrema apreensão para as cadeias de minério e aço. Foi justamente o risco da importação de aço para o futuro da indústria no Brasil, a reflexão que o vice-presidente de Assuntos Estratégicos da Usiminas, Sérgio Leite, levou para o Conexão Empresarial Anual 2025. Foi a última palestra de Leite, que morreu no dia 14 de julho. Segundo ele, o Brasil é um dos poucos países produtores de aço que não cresceu.
O potencial de crescimento do país é imenso, mas vive-se atualmente uma guerra de mercado, com defesas comerciais para proteger as empresas nos países produtores de aço. O menos protegido é o Brasil. O país tem a menor tarifa cobrada entre os produtores, de 10,8%, ficando exposto a produtos de outros países. Ele disse que, em cinco anos, houve um aumento de 105% nas importações de aço. As vendas internas aumentaram 10% no mesmo período, o que significa que ficaram pratica mente estáveis.
A importação de aço chinês, por sua vez, aumentou 340%. Só neste ano, houve um aumento de 40% de importação de aço chinês, atingindo 6,4milhões de toneladas e 31% das vendas internas. O equivalente a produção de duas Usiminas. Esse aço também chega ao Brasil abaixo do custo de produção, criando uma situação impossível para as empresas brasileiras. Subsidiadas pelo governo chinês, Sérgio Leite disse que as empresas chinesas vão destruindo as usinas mundo afora. A China, segundo ele, virou a fábrica do mundo e produz mais da metade do aço consumido no mundo. “A continuar assim, nós vamos destruir a indústria brasileira, não só a do aço”, lamenta.
TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
A criatividade e o empreendedorismo sempre foram marcas do empresariado brasileiro e o grupo Bmg mostra que é possível avançar em várias frentes quando se fala em energia limpa. O grupo Bmg busca o crescimento sus tentável e de negócios na transição energética e está envolvido na transição energética, com foco em projetos de energias renováveis e na criação de um hub de energia verde. Os executivos do grupo Cláudio Semprine, Caio David e Jair Palma, apresentaram os projetos que estão sendo desenvolvidos pelo grupo.
“Nós estamos em um momento onde o mercado está crescendo e vai continuar crescendo. Em Minas Gerais, somos o polo de inteligência artificial e temos uma demanda de crescimento muito grande nesse setor”, informou o diretor executivo da Bmg Energia, Cláudio Semprine. Ele contou que o Bmg investe na produção de hidrogênio, seja para o veículo energético de transporte ou em uma aplicação direta na indústria de mineração, na indústria de siderurgia ou na própria indústria alimentícia.
Além disso, o grupo tem um dos pilares na produção de amônia. Semprine falou no Conexão Empresarial que o grupo optou pelo hub de transição energética, incorporando a produção de hidrogênio verde e amônia, insumos de alto valor agrega do e de crescente demanda global. Pelos dados do Bmg, o Brasil produz 80% dos grãos consumidos no mundo e temos aqui dentro uma demanda reprimida e uma oportunidade de crescimento.
Em outra ponta, o grupo trabalha um combustível sustentável de avaliação, com uma pegada menor de carbono, com uma redução de até 20%. O grupo também está focado em Minas Gerais, em especial no Norte de Minas, em uma área de 38mil hectares, com capacidade de produção de água industrial. Em outro hub, em Contagem, o grupo Bmg pretende investir em bancos de alimentação e de retroalimentação dos serviços de inteligência artificial e, ainda, um último hub na região de Uberlândia, com um projeto muito vocacionado para o desenvolvimento de data centers.
A REVOLUÇÃO DAS TELAS DIGITAIS
O Conexão Empresarial Anual 2025 também abriu espaço para a discussão das novas tecnologias disponíveis na mídia digital. O mundo visto pelas telas digitais em aeroportos, em parques, em todos os lugares mostra a evolução da mídia digital, que tem na Neohh um dos principais exemplos dessa transformação. Leonardo Chebly fez uma palestra no Conexão Empresarial Anual 2025, no Vila Galé, em Ouro Preto, falando dessa transformação e do impacto que ela tem nas pessoas.
Com grande presença em aeroportos, parques, esse tipo de mídia presta serviços, informa e faz publicidade usando uma forma visual que une tecnologia, imagem e informação. A Neooh acabou de vencer a concorrência no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, o maior do país e passa a operar no local. A empresa também está presente em Belo Horizonte, com clientes como a Localiza e a Gerdau e em parques como o Ibirapuera. São projetos, segundo Leonardo Cheby, totalmente fora da caixa.
Já a OOH, de Felipe Davis, desenvolve um trabalho que envolve serviço público aos municípios e aos estados. A mídia está na vanguarda e impressiona pela interatividade. Pelas telas localizadas em locais que vão desde as ruas, pontos de ônibus, prédios e banheiros é possível informar sobre o clima, trânsito, informações de utilidade pública e qualquer notícia que se queira dar. Segundo Felipe Davis, a empresa consegue produzir conteúdos em tempo real alertando, por exemplo, para o risco de catástrofes.
Felipe disse que um dos serviços que chamou a atenção foi quando a empresa usou um abrigo de ônibus não simplesmente para que as pessoas ficassem esperando seu transporte, mas mapeou na cidade aqueles pontos onde que as mulheres sofriam as maiores violências. Para a mulher se sentir mais segura, ela simplesmente tocava na tela e uma pessoa começava a conversar com ela, enquanto a polícia era acionada. Isso diminuiu os incidentes de criminalidade.
São várias as formas de conexão, que unem interação, informação e tudo mais que se quiser, em uma mídia que levou o mundo para o futuro. No mundo que cabe em uma tela de celular ou de um computador, as pessoas passam a viver uma nova realidade e algumas mudanças nem sempre são para melhor. Segundo Frederico Remiggi, da Fredizak, muitos dos jovens hoje sofrem de ansiedade. Houve 100% de au mento no uso de ansiolíticos.
Remiggi entende que “o futuro é maravilhoso, mas para ele existir, a gente tem que ter redes de apoio sólidas.” Para ele, essa conexão é formada pelas pessoas do passado “que nos aconselhou”, é preciso trazê-las para o presente e construir o futuro de verdade. Segundo ele, as pessoas querem mais essência do que postagens sem conteúdo e sentem a necessidade de se buscar o mais simples. Um exemplo de como essa necessidade se revela está no fato de grandes grifes de moda estarem voltando com a moda do tricô e do crochê. Para ele, é preciso ter gratidão e fazer as pazes com o passado.
REFORMA TRIBUTÁRIA SOBRE O CONSUMO
Um assunto que também despertou o interesse dos participantes do Conexão Empresa rial Anual 2025, foi a discussão da Reforma Tributária, um tema que ainda traz muitas dúvidas e a necessidade de ajustes para se tornar mais eficiente. Esse foi o tema do painel que reuniu os advogados Flávio Bernardes, José Murilo Procópio e o deputado federal Reginaldo Lopes (PT). Para Flávio Bernardes, que mediou o debate, no Brasil são vários ICMS, cada estado com a sua regra. “As empresas estão acostumadas com as diferenças entre as tributações e incentivos fiscais, que viraram a guerra fiscal, onde cada estado um tem um ICMS para chamar de seu”, disse. A ideia é justamente uma simplificação e uma padronização.
Mas são muitas as dúvidas que foram colocadas por Bernardes. Murilo Procópio, no entanto, está preocupado com a recuperação judicial das empresas, para que exista um plano de recuperação. Segundo Procópio, pela nova lei, se a empresa faliu, ela acabou e defendeu a criação de um movimento para garantir que a empresa possa continuar atuando após a decretação da sua falência. Procópio fez um apelo para que o deputado Reginaldo Lopes levasse o tema ao Congresso Nacional.
O parlamentar garantiu levar essa discussão, mas lembrou que a Reforma Tributária foi o melhor modelo encontrado para um país que tem o pior sistema tributário do mundo. Essa reforma, assim que estiver implementada vai combater a fraude, a inadimplência e a sonegação. Além disso, ele acredita que haverá uma redução da carga tributária de 35% para 26% até o final da transição das regras atuais para o projeto aprovado no Congresso Nacional.
Ver inicio da matéria na postagem anterior…