Economia

Minas Gerais se destaca cada vez mais no enoturismo

vb ed284 outubro 24 capa2 da uva a taça

Alma Gerais: wine bar flutuante na represa do Funil

FOTOS \ Divulgação

 

Com aproximadamente 10 rótulos, a marca produz cerca de 30 a 40 mil litros por ano e vende em todo o território nacional. “Mas, es tamos engatilhados para fazer nossa primeira exportação para a Inglaterra. Porém, é interessante destacar que o maior consumo acaba sendo na própria vinícola, no wine bar e nas nossas experiências”, diz.

Por lá, os passeios duram quase três horas, começando no próprio wine bar, seguindo pelos parreirais e englobando o engarrafamento e rotulagem. “Contamos um pouco da história da fazenda e a experiência finaliza com a degustação de três vinhos com queijos mineiros. Assim, o turista consegue acessar diferentes sabores. É bem educativo”, garante.

O empresário também vê com bons olhos o investimento do poder público no setor. “Quando o governo fomenta um segmento traz uma espécie de validação, então a implementação das rotas é algo bem positivo para o nosso turis mo. Sem falar que é uma cadeia produtiva que demanda muita mão de obra, seja na produção, na parte industrial ou na hotelaria. Também é uma oportunidade de fortalecermos uma nova vocação e nãos sermos apenas o estado da mine ração ou do agro”, acredita.

Também há casos de vinícolas que refinaram sua produção em busca de novos mercados. Descendente de italianos, Geraldo Marcon começou a cultivar uvas para a produção de vinhos em 1969 e cuidou do negócio até o ano de sua morte, em 1978, quando a produção foi assumida por seu filho Luiz Carlos. Na década de 1990 nascia a marca Campino, focada em vinhos de mesa, que chegou a atingir três milhões de litros por ano.
No início do século 21, a empresa percebeu a demanda por vinhos finos e fundou a marca Casa Geraldo, com produção inicial de três rótulos. Hoje, o negócio tem como um de seus administra dores Carlos Geraldo Marcon, químico, enólogo e sócio-proprietário da vinícola. Filho de Luiz, ele dá continuidade a uma vinícola que já expandiu sua produção para mais de 60 rótulos. “Notamos que o vinho fino era o futuro. Ainda produzimos o vinho de mesa, mas em menor quantidade. Nosso público hoje procura por algo mais sofisticado. Estamos diminuindo nosso porte para focar em qualidade e experiência”, aponta.

vb ed284 outubro 24 capa2 0 da uva a taça

Não por acaso, desde 2003 a vinícola também tem focado em turismo e gastronomia para seus clientes. “Recebemos cerca de 3 mil pessoas por semana e oferecemos quatro tipos de passeios. Também promovemos shows e festas temáticas. Agora, estamos restaurando um casarão de 1890 para implementar um wine bar e também estamos montando uma cafeteria, pousada e chalés. Queremos transformar a Casa Geraldo em um centro de experiências, uma espécie de ‘Disneylândia’ do vinho”, afirma.

Além das experiências em terra, o versátil enoturismo mineiro também tem passeios na água. Foi inaugurado em julho, no Sul de Minas, o primeiro wine bar flutuante do estado, o Alma Gerais. Com aporte de R$ 1,5 milhão, o restaurante, com formato de uma chalana, circula pela represa do Funil. O bar faz parte de um suntuoso complexo enoturístico em desenvolvi mento no local, a Enovila, que deverá ser total mente inaugurado em janeiro de 2027.

O projeto também prevê a construção de 60 casas e, quem adquirir cota, poderá acompanhar o processo de produção e ter rótulos exclusivos.

Segundo Júnior, o projeto vai permitir que os sócios sejam donos de uma vinícola, mas sem a parte complexa e burocrática do processo – que ficará por conta dos administradores. “Eles vão desfrutar apenas do lado encantador e apaixonante dessa história. É chegar, curtir, fazer o seu próprio vinho, trazer os amigos para a sua “A ideia é que, a princípio, o wine bar seja aberto para o público em geral. À medida que aumentarmos o número de sócios, a estratégia é torná-lo cada vez mais casa no vinhedo e marcar a próxima vinda”, exclusivo até que se transforme em um atrativo para aqueles que integram o clube”, destaca o empresário Antônio Alberto Júnior, idealizador da Enovila ao lado do irmão, Alessandro Rios.

Segundo Júnior, o projeto vai permitir que os sócios sejam donos de uma vinícola, mas sem a parte complexa e burocrática do processo – que ficará por conta dos administradores. “Eles vão desfrutar apenas do lado encantador e apaixonante dessa história. É chegar, curtir, fazer o seu próprio vinho, trazer os amigos para a sua 41 casa no vinhedo e marcar a próxima vinda”, explica. O investimento total do projeto é de R$ 140 milhões.

Vale lembrar que boa parte da vitivinicultura em Minas Gerais só tem sido possível graças à técnica da dupla poda, desenvolvida graças ao trabalho do agrônomo e pesquisador Murillo de Albuquerque Regina, que se dedica ao tema há mais de duas décadas. Ele trabalhou na Em presa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), unidade de Caldas, na região Sul, onde chefiou o Núcleo Tecnológico de Uva e Vinho, centro de pesquisa para cultivo de cepas destinadas à produção de bebidas finas.

Ele coordenou estudos climáticos, de solo e altitude, identificando fatores comuns entre as áreas produtivas do país e as cepas ideais conforme o desenho das folhas. Foi a partir desses estudos que resultou a técnica de dupla poda, para produzir os chamados “vinhos de inverno”.

“A técnica altera o ciclo da videira de modo que as uvas amadureçam no inverno das regi ões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, quando o clima é mais seco, os dias são ensolarados e as noites mais frias. Essas condições são semelhantes à temporada de vindimas nas principais regiões vitivinícolas do mundo”, explica Clesio Barbosa.

vb ed284 outubro 24 capa2 1 da uva a taça
Antônio Alberto Júnior idealizou complexo enoturístico, que terá vila com 60 casas

Ele e Patrícia Soutto Mayor Assumpção são autores do livro Vinícolas de Minas Gerais e Portugal, que será lançado neste mês, no qual apre sentam 12 produtores desses dois locais, contam a história da bebida, da técnica que possibilitou a expansão no estado e compartilham diversas fotos interessantes. “Com poucos anos de existência nossas vinícolas vêm conquistando importantes prêmios nacional e internacional mente. Os vinhos mineiros vêm ganhando cada vez mais notoriedade”, aponta ele.

Para Clesio, a produção e o enoturismo já estão bastante maduros no estado, mas ainda falta uma divulgação maior por parte dos órgãos públicos e incentivos para o setor. “O governo estadual vem investindo muito na gastronomia e colocou Minas como importante polo gastro nômico do país. Talvez, eles poderiam aprovei tar esse reconhecimento e inserir os vinhos e o enoturismo mineiro em toda a comunicação oficial, o que contribuiria muito para acelerar a economia do setor. É importante entender que o vinho mineiro é a coroa da nossa majestosa gastronomia”, defende.

Veja aqui o início da matéria publicada em 7 de novembro.

 

Compartilhe