Presidente da Associação Mineira dos Municípios fala sobre impactos do tarifaço imposto por Trump
O Brasil passa por um momento especialmente delicado na política e na economia. A polarização política e a antecipação do processo eleitoral têm custado caro ao país. O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos envolvidos na tentativa de golpe de Estado foi outro capítulo traumatizante, que afetou também a economia, com a interferência do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impôs um tarifaço sobre os produtos brasileiros com sérios reflexos na economia. O presidente da Associação Mineira de Municípios e prefeito de Patos de Minas, Luís Eduardo Falcão, tem sentido de perto todas essas turbulências, que começam e terminam nos municípios, com todos os seus reflexos.
O TARIFAÇO IMPOSTO PELO PRESIDENTE DONALD TRUMP TEM SIDO UM PROBLEMA PARA OS MUNICÍPIOS?
Estamos enxergando essa situação toda com uma preocupação muito grande porque os Esta dos Unidos são um parceiro comercial do Brasil muito importante. Temos as commodities que são exportadas para os Estados Unidos, como, por exemplo, aqui, o agronegócio dividindo o PIB de Minas Gerais com a mineração. São dois grandes exportadores. Então, o impacto realmente é muito grande. Nós temos estimativas desse impacto, mas ele agora já começa a ser mensurado na realidade mesmo, na prática.
Tudo isso é muito preocupante. De um a dois anos, segundo os dados da Fiemg, nós teremos uma perda de até R$ 4,7 bi, quase R$ 5 bilhões, e isso é uma parte representativa do PIB do estado. Quando a gente fala de PIB, se você falar de 1%, 2%, é muita coisa. As exportações podem ter uma retração de quase 5%. São milhares de empregos que serão perdidos se essa situação perdurar. Estima-se que 30 mil postos de trabalho serão perdidos. E a consequência disso tudo é a redução da renda das famílias, do povo. Às vezes a população vê esse tipo de notícia e fala que isso é coisa de político, de governo.
Não, é a renda das pessoas, que são os pagadores de impostos, que financiam toda a máquina estatal, toda essa situação, eles é que serão prejudicados no final. Se esse tarifaço perdurar, numa estimativa de 5 a 10 anos esse prejuízo vai sendo multiplicado, vai para uns R$ 20 bi. Já vai para 2% do PIB do estado, já vai para quase 200 mil postos de trabalho reduzidos. Então, tudo isso é muito preocupante. Estamos falando desses setores que, reconhecidamente, já são muito fortes em Minas Gerais, como metalurgia, siderurgia, ferro fundido e aço.
No setor agropecuário, temos o café, por exemplo, 33% do total da exportação de Minas Gerais para os Estados Unidos é de café. E como é que vai ficar essa situação? Nós estamos falando de US$ 1,5 bilhão, aí multiplica por cinco, seis para converter para o real, é uma estimativa assustadora. E se a gente passar para a mineração? Nós vamos falar de bilhões em perdas. É muito, muito preocupante.
Já em relação aos municípios mais afetados, o estado tem a economia muito diversificada. Nós temos todo tipo de município. Nós temos município que depende especificamente da mineração, nós temos um município que depende totalmente do agro. Então, por exemplo Guaxupé, Varginha, Patos de Minas, que é o meu município, a maior exportação é café. Nós estamos na região do café do cerrado mineiro, que é muito afetado pelo tarifaço. Se falarmos de Sete Lagoas, Belo Horizonte e Contagem, as perdas são grandes.
Contagem deve ter uma perda muito grande por conta da cerâmica refratária, transformador elétrico. Em Araxá, por exemplo, a cidade exporta muito nióbio para os Estados Unidos. Aí você pega Mariana, Itabirito, Ouro Preto, com minério de ferro, Conceição do Mato Dentro… O cenário é catastrófico para os municípios. É uma cadeia. O governo federal vai perder, mas o governo do Estado também vai perder. As prefeituras vão perder e as pessoas que pagam toda essa conta vão perder.
A ASSOCIAÇÃO MINEIRA DE MUNICÍPIOS PODE FAZER ALGUMA COISA? ELA TEM COMO AGIR NESSE CASO?
O que podemos fazer objetivamente é pressionar o governo, que tem que ter a relação diplomática com as outras nações. A titularidade, digamos assim, é do governo federal. O governo tem o Itamaraty, que tem a relação com os outros países. Mas percebemos nesse momento também que o próprio presidente da Fiemg foi para os Estados Unidos tentando ajudar. Se a gente não tem conseguido, pela via governamental, estamos indo pelas entidades de classe, as entidades representativas do setor produtivo.
A AMM tem subsidia do as instituições que podem fazer esse trabalho. Se não consegue convencer os Estados Unidos a desistir dessa ideia, a brecar o tarifaço ou mesmo reduzi-lo, tem algumas ações que são importantes para mitigar os efeitos. Eu vejo alguma movimentação do governo do Estado e do governo federal nesse sentido, mas eu ainda acho tímida em termos de compensação financeira para essa perda de arrecadação. Linha de crédito emergencial para dar prazo, para as empresas com condições facilitadas; planos de proteção aos empregos, como tivemos na pandemia, por exemplo, diversificação econômica e busca de novos mercados.
Essas são ações mais para o médio prazo. É sempre benéfico o Brasil deixar de depender só de dois ou três países. Avançar mais pra Ásia. Enfim, é uma situação bem preocupante, mesmo porque eu estou falando de ações que são emergenciais, mas todas temporárias. No fim das contas, o que sustenta tudo é a própria economia. O governo não pode ficar imprimindo dinheiro, não tem como ficar fazendo compensação, linha de crédito, toda vida.
ESSA É UMA QUESTÃO POLÍTICA, QUE ESTÁ AFETANDO A ECONOMIA DO PAÍS. E O SEU NOME SURGE COMO UMA DAS POSSIBILIDADES DE ENTRAR NA DISPUTA AO GO VERNO DE MINAS NA CHAPA DO SENADOR CLEITINHO. É UMA CHAPA VIÁVEL?
Eu fico muito feliz de ter o meu nome lembrado. Considero que isso é um reconhecimento pela nossa luta em favor dos municípios. Só do meu nome ser lembrado, significa que estamos de alguma forma movimentando, buscando representar da melhor forma os municípios. Mas vejo como algo prematuro. Eu tenho falado muito sobre o problema que temos hoje por antecipar demais o debate eleitoral. O próprio governo de Minas tem uma dívida quase impagável com o governo federal e o debate para presidente antecipado atrapalha.
Como também o debate para governador antecipado. Nós, por exemplo, não conseguimos resolver o Programa de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados com a União (Propag) ainda. E nós temos um governo federal e estadual que são adversários. Deveríamos privilegiar, neste momento, a solução dos problemas, para depois tratar de eleição na hora certa. Eu acho que o país passa por um momento muito delicado, com toda essa agitação institucional, com um ex-presidente condenado. Temos um presidente atual que está nesse embate com os Estados Unidos e com outros países. Temos a dívida de Minas com o governo federal.
E, no meio disso tudo, ainda temos eleição. Eu acho até ir responsável tratar dessa questão. Não descarto nenhum tipo de conversa. Eu gosto de construir, gosto de dialogar. Eu estive com Kassab recente mente, estive com o Marcos Pereira, presidente nacional do Republicanos, estive com o Caiado já por duas vezes. Estou sempre encontrando o governador Zema, o presidente da Assembleia, o Tadeuzinho. Com o senador Cleitinho, nós temos uma ótima relação. O Nikolas Ferreira, inclusive esteve há pouco em Patos de Minas, veio na minha casa. u acredito que é melhor aguardar um pouco mais.
MESMO PORQUE PARECE QUE VOCÊ TEM MAIS DE UMA OPÇÃO DE COMPOSIÇÃO DE CHAPA? TEM OUTROS PARTIDOS INTERESSADOS EM COMPOR COM VOCÊ, NÃO É?
Não sei se se isso realmente vai se concretizar porque agora é aquele momento das especulações. A gente fala de 30 candidatos, 50 candidatos diferentes, com múltiplos vice, e depois, no final, é um outro, dois ou três é que realmente vão ser candidatos. Então eu vejo isso com muita tranquilidade, com naturalidade.