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Parto da tendência contemporânea de os templos religiosos se transformarem, inclusive do ponto de vista arquitetônico, em espaços de consumo, comparáveis aos shoppings centers, com uma ambientação pensada para exercer as mesmas atrações. As igrejas, em diferentes partes do mundo, passaram também a integrar roteiros turísticos, recebendo multidões e formando longas filas, o que compromete a criação de um ambiente propício à experiência espiritual.
Essa constatação remete a uma analogia entre o “interior” do sujeito e o interior dos templos – ambos concebidos como espaços que evocam o vazio e oferecem condições para o despertar da dimensão espiritual. Etimologicamente, a palavra religio provém do latim religare cujo significado remete à ideia de religar o ser humano a Deus. Um Deus que, na linguagem psicanalítica, ex-siste, pois habita o campo do real em cada um de nós.
AS IGREJAS PASSARAM TAMBÉM A INTEGRAR ROTEIROS TURÍSTICOS, RECEBENDO
MULTIDÕES
Tal como a teologia cristã compreende Deus como uma Trindade – Pai, Filho, Espírito Santo –, a formulação psicanalítica também o concebe como uma tríade: real, simbólico e imaginário – um fato de estrutura. Isso implica que todos nós teríamos um resíduo religioso arcaico, um Pai fundador que evocamos nos momentos de desam paro – um ponto de sustentação para a estrutura psíquica. A voz de Deus só se faria ouvir no silêncio da pulsão de morte como potência criadora, sendo acessível por meio dos Nomes-do-Pai. Finalizo com a citação da belíssima canção de Vander Lee que expressa poeticamente esse recolhimento espiritual: Sabe o que eu queria agora, meu bem? Morar no interior do meu interior … para entender por que se agridem se empurram para o abismo se debatem, se combatem sem saber me leve para algum lugar onde Deus possa me ouvir.
