Comportamento

Para por o pé na terra

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Créditos:freepik.com

 

Como psicanalista, sinto-me no dever ético de esclarecer o lugar das fantasias no psiquismo. Não se trata só de teoria, pois a psicanálise não é uma teoria criada para encaixar as pessoas em seus conceitos, mas, uma práxis que foi desenvolvida a partir da escuta pontual e afinada do inconsciente.

O que está em jogo não é só o que é expresso por meio de uma fala infinita que se repete como uma ladainha; mas, algo que não é dito, pois não sabemos o que move nossas ações e reações causando-nos sofrimento. É aí que habita a fantasia, dita no singular por tratar-se de algo específico de cada um e não de devaneios. Essas fantasias são um tipo de resposta que cada um dá ao seu ser de falta: o que sou? Responde-se com a fantasia e acredita-se nela como verdade quase absoluta.

Digo quase, pois se disser absoluta, trata-se de um delírio. É esse quase que merece nossa atenção, glorioso intervalo que separa o sujeito da fantasia que ele criou de si mesmo. Esse intervalo ou abertura é que nos move e nos faz crescer, mudar, transformar, ser.

SEGURAR-SE NA FANTASIA É COMO SE AGARRAR A UMA NUVEM ACHANDO QUE ELA É AQUILO QUE TOMOU FORMA

A fantasia é só uma fantasia e não deve ser levada tão a sério. Embora ela faça uma barreira impedindo que se caia num vazio, segurar-se na fantasia é como se agarrar a uma nuvem achando que ela é aquilo que tomou forma. A nuvem contém gotículas de água, moléculas invisíveis e quando cai ou quando se solta, ela é rio que corre fazendo sulcos na terra e deixando sua marca. Talvez por isso, exista a expressão: “por o pé na terra”. Digo no singular, pois um dos pés permanece na fantasia. Afinal, ninguém é de ferro.

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