Cultura

Por que tanto ódio?

Por que tanto odio

courses about history, CC BY-SA 2.5, via Wikimedia Commons

 

             Esta pergunta insiste diante de tantas atrocidades que vemos acontecer e que julgávamos terem sido deixadas para trás com o século 20.

             Em o Mal-estar na civilização, Freud (1930) já havia destacado a inclinação agressiva como uma disposição pulsional autônoma e originária.

             A destruição dos elos simbólicos seria atribuída à pulsão de morte. Porém, paradoxalmente, o conservadorismo verdadeiro não vem da pulsão de morte e sim da adesividade da libido às ideologias religiosas, econômicas, geopolíticas e psicológicas, que retornam insistentemente como verdades eternas.

             Diante da monotonia da repetição dos fantasmas sociais, a pulsão de morte, em vez de entrar para desfazer as formas conservadoras que fazem retornar a mesma História desde os nossos antepassados distantes, entra como vontade de gozo, que é própria da perversão. Esse gozo congelado se manifesta sob a forma do terror.

             Isso me remete à Revolução Francesa, com o reinado do terror entre 1793 e 1794. Milhares de pessoas foram executadas. Inicialmente, o terror, que era voltado aos realistas, se estendeu a todos os inimigos da revolução, terminando com a execução na guilhotina dos próprios líderes, entre eles, Robespierre.

            Um ano depois, o Marquês de Sade (1795) expõe um modelo de razão, que testa os limites de uma racionalidade que determine os princípios de uma ação. A razão sadeana defende o direito ao gozo sobre o corpo do outro sem que nada o detenha. O desprezo pelas virtudes, pelos sentimentos e a consideração pelos outros impossibilitam qualquer arranjo social que não incite esse imperativo de gozo que se coloca alheio aos efeitos de seus atos.

          Hoje, estarrecidos diante de tantas atrocidades, nos indagamos se seria um retrocesso na História ou uma falha na evolução humana que, ao não elaborar simbolicamente o horror das guerras, elas retornam no real em sua forma bruta.

Compartilhe