Cultura

Pulo para o digital

VB ED271 AGOSTO 1 pulo para o digital

 

Mineiro que atua pela Unesco na África destaca necessidade de investimento em educação e conexão com o restante do mundo

 

 

          Conectar o continente africano ao mundo pela internet parece ser uma tarefa fácil, levando-se em conta que o mundo está todo interligado pela rede. Mas essa não é a realidade na África, com suas diferenças culturais e com problemas de infraestrutura que dificultam a implantação de programas importantes para o desenvolvimento. Essa tarefa, no entanto, foi dada ao mineiro Wilson Melo Lima Jr, que atua pela Unesco na África com o objetivo de investir na educação, na profissionalização e em conectar o continente ao mundo.

            Além das dificuldades com a falta de infraestrutura, um dos problemas apontados por Wilson Melo Lima Jr é o fato de a população na África ser muito jovem. Segundo ele, “a África é um continente com 54 países, caracterizado por populações muito jovens, populações grandes e que estão crescendo muito rapidamente, com uma taxa de fertilidade muito alta. O nosso desafio aqui, no que tange a educação, é justamente formar esse cidadão para que ele esteja apto a realizar o seu potencial como profissional e como cidadão”.

             Para encarar esse desafio, a Unesco está trabalhando em duas vertentes: a digitalização e a segunda é a de atuar com as empresas: “nós entendemos que o setor privado tem um papel muito importante a desempenhar na educação, na formação de pessoas. Por isso, é muito importante contato próximo com as empresas e que elas realmente digam o que elas precisam em termos de perfil profissional, qual é o profissional que elas esperam que as escolas formem, qual a característica deles, quais as competências que esses profissionais precisam ter e, obviamente, precisamos do apoio das empresas também para pôr todo esse mecanismo em perfeito funcionamento, porque a educação é um serviço muito caro”. Wilson lembra que só no Brasil, o investimento em educação é mais de 5% do PIB.

             Mas é preciso levar em consideração as necessidades da África. Além disso, Wilson entende que “a revolução industrial já acabou. Não tem sentido para eles fazerem uma revolução industrial e tentar criar indústrias aqui e repetir um desses modelos de desenvolvimento econômico que muitas nações tiveram. Eles têm que ter esse pulo para o digital, para se ligar ao mundo, para prestar serviço para outros países. Temos aqui um terço dos países que, de maneira geral, fala inglês, outra parte fala francês e a outra fala português. Então temos uma população que poderia estar prestando o serviço em diversas línguas”, pondera o emissário da Unesco.

              Para ele, essa mão-de-obra “poderia estar prestando o serviço em diversas línguas, poderia estar prestando serviços para os Estados Unidos, para Inglaterra. A população francófona poderia estar prestando serviços para a França para a Bélgica, o Canadá e a população portuguesa poderiam estar prestando serviço para o Brasil e para Portugal. Então, temos de conectá-los ao mundo por meio da digitalização, por meio de serviços, por meio do aprimoramento do capital humano aqui da África”.

             Wilson lamenta pelo desconhecimento que se tem do continente africano. Ele mora com a família no Senegal e, ao contrário do que muitos pensam em relação aos países na África, ele anda pelas ruas com tranquilidade, diferentemente do que acontece nas grandes cidades brasileiras. “Nós nos sentimos seguros, calmos e não há um histórico de violência contra o cidadão na maioria dos países aqui da África, salvo algumas exceções. Acho que isso é produto do desconhecimento”.

             E é justamente esse desconhecimento que leva ao preconceito em relação aos trabalhadores africanos. Ele questiona: “qual o sentido de a Europa barrar imigrantes, sendo que a Europa é um continente que vem envelhecendo rapidamente, com falta de mão de obra? O europeu não quer fazer o trabalho mais manual, um trabalho mais simples, então qual é o interesse deles em não receber pessoas jovens, saudáveis que possam fazer esse trabalho que de certa forma eles não querem? Acho que tudo isso é produto do desconhecimento”.

 

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